O Natal, é para a maioria das pessoas uma época de grande alegria e entusiasmo. Mais ou menos crentes, ou até mesmo nada crentes no que se refere à essência do Natal – o nascimento de Jesus – parece-me que muita gente atribui ao Natal o seu próprio significado, fazendo dessa quadra, uma época de festa, partilha e amor.
Fazem-se listas de presentes e embarca-se muitas vezes numa azáfama consumista, umas vezes pelo prazer de oferecer, outras, pela obrigação de dar. Combina-se entre a família, onde vai ser a noite da consoada e o almoço do dia 25 de Dezembro. Quem assa o peru, quem faz as filhós, quem leva o vinho, etc. etc. Etc. Escolhe-se a roupa, mais ou menos chique, mais ou menos confortável. A casa decorada, para muitos é sinal de celebração, de festa e de conforto para a alma. As músicas natalícias que se vão ouvindo pelas ruas, pelos centros comerciais, por aí, enchem-nos de ternura e de uma alegria mais ou menos contagiante e inspiradora.
Até aqui, nada a objectar. Cada pessoa sabe o que a faz sentir-se bem, e se preparar a chegada do Natal é sinónimo de alegria, festa e reunião com os que lhe são mais queridos, então que se festeje o Natal! Mas quando perdemos alguém significativo recentemente? Alguém cujo lugar à mesa fica vazio? Alguém que nos faz falta, com quem habitualmente partilhávamos esta quadra festiva de forma intensa e muito presente? Pois é, isso pode ser muito difícil mesmo…
Mas será que pelo facto de estarmos em pleno processo de luto não podemos festejar? Eu acho que sim, que podemos e devemos. Por muito que sintamos a falta de quem partiu, podemos sempre escolher recordar o tempo que pudemos viver com essa pessoa e celebrar o quão felizes fomos por ela ter feito parte da nossa vida. As coisas que nos ensinou, os natais que vivemos juntos, os presentes que trocamos, a alegria que partilhamos, pode ser uma recordação positiva que nos ajuda a ultrapassar a sua ausência. Celebremos então o nascimento de Jesus ou a anual reunião familiar com o Pai Natal, ou o que queiramos atribuir às nossas celebrações natalícias, mas celebremos também aos que partiram, que nos deixaram a sua marca pelos seus ensinamentos e pelo seu amor. Recordar a pessoa falecida e os bons momentos que passou juntamente com a nossa família, pode ser um momento de dor pela sua ausência mas também de lembrar a pessoa e de a manter viva no nosso coração. É alternando pensamentos positivos que despertam emoções positivas, com os inevitáveis pensamentos de perda que despertam em nós emoções como a tristeza, que se vai construindo o processo de luto, tão necessário para o nosso equilíbrio.
Esta é uma opinião muito pessoal de um modo de pensar e de sentir que é o meu. Reconheço que há perdas e perdas, e que algumas são normativas e outras não são. Há inúmeros tipos de personalidades e há múltiplas formas de se viver o luto. Respeitando todas elas e respeitando ainda mais a decisão de quem simplesmente prefere não celebrar e deixar passar o Natal como sendo um dia igual a todos os outros, deixo aqui a minha visão pessoal sobre o tema, que por um lado me permitiu uma reflexão e por outro lado, poderá ajudar alguém, que se encontre a passar por um período difícil de perda, a reflectir sobre os seus pensamentos, sentimentos e sobre o modo como está a viver o seu luto.
Eu também acho que o Natal deve ser comemorado à medida de cada um. A época é recheada pelo sentimento de dar e receber. Sem sentirmos, foi se tornando uma passagem consumista, mas também de muita troca de sorrisos surpresos com a lembrança recebida. Eu mesma recebi de uma amiga secreta, brincadeira inventada para diminuir os gastos natalício, uma prenda de um lencinho para o pescoço com um desenho da natureza que se assemelha ao meu estilo de pintura. Achei interessante quando a colega me disse, “quando vi este lenço, lembrei-me logo de ti”. Esse é o espírito de Natal. Assim gosto… Boas Festas, Gracinda.
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