Não há nada exterior a nenhum de nós que nos possa garantir ausência de sofrimento. Ainda que muitos possamos ter todas as coisas que tipicamente utilizamos para medir o sucesso externo (ex. boa aparência, pais carinhosos, filhos incríveis, estabilidade financeira, bons amigos, uma relação conjugal satisfatória, etc.) isso pode não ser suficiente para garantir o nosso bem-estar psicológico.
Os seres humanos podem usufruir de várias formas de conforto, entusiasmo e diversão, e mesmo assim experimentar grande sofrimento emocional. Os investigadores na área da psiquiatria e psicologia estão familiarizados com as sombrias estatísticas que confirmam uma dura realidade de indivíduos com enorme dor emocional, desespero e angustia. Estudos promovidos pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), por exemplo, revelam que as taxas de prevalência de perturbação mental ao longo da vida rondam atualmente os cerca de 50%.Muitas pessoas apresentem sofrimento emocional em consequência de problemas no trabalho, nos relacionamentos, na parentalidade e com as transições naturais do curso de vida, entre outros (Kessler et al., 2005).
A intervenção psicológica em situação de casal, foca-se no casal e não na relação em si. O importante é avaliar cada elemento do casal e intervir no sentido de melhorar a sua saúde emocional. Pessoas emocionalmente estáveis tendem a ter relações mais saudáveis e satisfatórias.
Os fatores de base para a manutenção de uma relação de casal satisfatória são o amor e a vontade de continuarem juntos. Quando surgem dificuldades ao nível relacional, os erros mais comum são a procura tardia de ajuda, a cedência “por arrasto” de um dos elementos do casal para comparecer às sessões terapêuticas, ou seja a falta de sintonia no processo de mudança, quer por não reconhecer que há um problema na relação, quer por, embora reconhecendo a existência de dificuldades, não esteja preparado para dar início ao processo de mudança. Ainda que reconhecendo problemas relacionais e estando preparados para mudar, podem haver fatores que impeçam ou dificultem o empreendimento de ações de mudança.
É fundamental que ambos os elementos do casal acreditem que o seu caminho passa por continuarem juntos, ou, pelo contrário, que tenham a capacidade de reconhecer que essa pode não ser a melhor opção. Neste caso, cada um, individualmente poderá beneficiar de uma intervenção psicológica, para minorar os efeitos adversos do processo de luto da relação. Cada um individualmente poderá obter apoio para seguir o seu caminho, trabalhar a sua autoestima, ou outra qualquer dimensão do Eu, no sentido do seu desenvolvimento pessoal e em busca da felicidade e do bem-estar.
Se sente dúvidas ou dificuldades na sua relação sentimental, não deixe de pedir apoio psicológico. Coloque a sua felicidade e a do (a) seu (sua) parceiro (a) em primeiro lugar!
Nos próximos dias 30 e 31 de Maio, estarei disponível online, mediante agendamento prévio, para responder ás vossas questões acerca de temas relacionados com a Psicologia, como por exemplo sintomas de psicopatologia, avaliação psicológica, tipos de intervenção, etc…
De forma gratuita, ofereço-lhe 30 minutos do meu tempo, que poderá utilizar para colocar as suas dúvidas, fazer a sua partilha, expor a sua opinião e claro, ficar também a conhecer o meu trabalho.
São muitas as variáveis que podem afetar a saúde mental das mulheres. Há especificidades biológicas e, principalmente, perspetivas sociais que orientam para uma inegável diferença de género, no que diz respeito à incidência e prevalência das perturbações psiquiátricas.
Hoje em dia, exercer a atividade de ”dona de casa”, ou seja, a mulher dedicar-se à casa e à família em exclusividade, sem desempenhar uma atividade profissional e remunerada, pode coloca-la numa situação de vulnerabilidade, por diversas ordens de razão. Podem haver fatores de risco para o desenvolvimento de psicopatologia, decorrentes da multiplicidade de papéis desempenhados e das inúmeras situações ansiogéneas às quais estas mulheres, nesta condição, poderão estar mais propensas. Estas vulnerabilidades relacionais, associadas aos processos biológicos (Ex. menarca, gravidez e menopausa) e potencialmente agravadas por questões sociais e económicas, como por exemplo a cítica, o isolamento social, a incompreensão, a violência doméstica, a dependência financeira ou a pobreza, podem comprometer a saúde mental destas donas de casa.
Existe uma grande variedade de conceções sobre aquilo que é o envelhecimento “bem-sucedido”. O processo de envelhecimento inclui a necessidade de acomodar alterações físicas, limitações funcionais e outras alterações a nível do funcionamento psicológico e social, embora possam haver diferenças individuais significativas no início, no decurso e na dimensão dessas alterações.
A maioria dos adultos mais velhos adapta-se com sucesso às alterações normativas do processo de envelhecimento. Uma perspetiva desenvolvimentista relacionada com a longevidade propõe que, apesar dos decréscimos biológicos associados ao envelhecimento, existe potencial para um desenvolvimento e crescimento psicológico positivo numa fase da vida mais avançada. O trabalho dos profissionais, nomeadamente na área da psicologia, é moldado por uma perspetiva desenvolvimentista, uma vez que estes se baseiam na resiliência psicológica e social, construída ao longo do ciclo de vida para abordar efetivamente os problemas da etapa mais tardia do ciclo de vida.
Dentro do espectro das perturbações de ansiedade na infância e na adolescência, a ansiedade de separação é uma das formas mais expressivas e que pode ter consequências com impacto muito significativo na vida da criança e da família.
A ansiedade de separação caracteriza-se essencialmente por um medo excessivo da separação das figuras de vinculação ou de referência, habitualmente os pais ou outros cuidadores que os substituem. Este medo pode começar a manifestar-se por volta dos oito meses de idade, no entanto, a perturbação de ansiedade de separação tem por norma o seu início entre os 7 e os 12 anos, podendo em alguns casos ter um começo mais precoce e manifestar-se antes dos 6 anos. A investigação nesta área aponta para uma prevalência de 3 a 13% em crianças e 1,8 a 2,4% em adolescentes, com maior incidência no sexo feminino (Costello & Angold, 1995).
Dentro dos critérios de diagnóstico desta perturbação, encontram-se manifestações como a ansiedade excessiva e desadequada para a idade da criança/adolescente em situações em que tem que se separar dos pais, como por exemplo quando tem que ficar na escola ou na casa de outro familiar. Estas crianças tendem a sentir um mal-estar desmedido e persistente sempre que situações de separação são antecipadas, podendo manifestar sintomas físicos como dores de barriga, náuseas ou dores de cabeça, entre outros.
Crianças com perturbação de ansiedade de separação revelam uma preocupação excessiva pela perda dos pais ou por possíveis males que lhes possam acontecer, assim como um medo exagerado de poderem ser raptadas ou de se perderem. É ainda comum apresentarem grande relutância em estarem sozinhos em casa ou noutros locais sem a companhia de um adulto significativo. Também o dormir ou adormecer sozinho pode ser uma dificuldade e pode ser frequente terem pesadelos que envolvam o tema da separação das figuras parentais.
São várias são as consequências negativas desta perturbação e podem afetar a vários níveis. Por vezes, a dificuldade em ficar na escola ou em se manter lá pelo tempo que seria suposto, pode levar a uma menor participação nas atividades curriculares e ao decréscimo do rendimento escolar. Por outro lado, os pais, poderão ver a sua atividade laboral prejudicada e interrompida por telefonemas constantes por parte dos educadores/professores ou pela própria criança/adolescente, com solicitações para o irem buscar. Com o medo de se afastarem dos pais, as crianças/adolescentes podem perder oportunidades de socialização e de divertimento como festas de aniversário, passeios da escola ou estadias em campos de férias, com tudo o que de divertido e desafiante essas situações podem proporcionar e que são tão importantes para o desenvolvimento saudável das crianças/jovens.
Esta perturbação causa grande sofrimento e pode conduzir a situações extremas, devendo por isso ser tratada com cautela e ser alvo de intervenção. Situações desadequadas como ter medo de estar sozinho na casa-de-banho mesmo com os pais em casa ou recusar-se em ir à escola, podem ocorrer causando grande stresse familiar. Para além disso, este tipo de perturbação poderá ser um fator de risco para o desenvolvimento de perturbação de pânico ou agorafobia na idade adulta. Perante um quadro de manifestação deste tipo de sintomas ou comportamentos, os pais ou cuidadores deverão pedir ajuda especializada para avaliação do caso, de modo a permitir a intervenção adequada à situação, no sentido de reduzir os impactos negativos que o problema poderá ter, quer na vida emocional e social da criança/adolescente, quer nas suas rotinas diárias.
Fontes:
Costello, E. J., & Angold, A. (1995). Developmental epidemiology. In D. Cicchetti & D. J. Cohen (Eds.), Developmental psychopathology, Vol. 1. Theory and methods (pp. 23–56). John Wiley & Sons.
Figueroa, A., Soutullo, C., Ono, Y., & Saito, K. (2015). Ansiedade de separação. IACAPAP e-Textbook of Child and Adolescent Mental Health.(edição em Português.
A avaliação psicológica insere-se nas competências profissionais exclusivas do Psicólogo/a e só a este/a é conferida legitimidade para a realização deste trabalho, com recurso a técnicas e instrumentos específicos para o efeito e para cuja utilização está capacitado.
O processo de avaliação psicológica tem início sempre que é pedida a resposta a uma questão ou um parecer profissional sobre um determinado caso ou indivíduo. O psicólogo/a analisa até que ponto se sente habilitado para dar resposta a esse pedido, mas também deve verificar se este se encontra dentro dos critérios éticos estabelecidos pelo código deontológico, que tem por objetivo guiar este profissional de saúde mental, no sentido de práticas de excelência, garantindo que o seu exercício profissional é o máximo ético e não o mínimo aceitável (Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Diário da República, 2.ª série — N.º 78 — 20 de Abril de 2011).
Ao contrário de outro tipo de atividades, em que com relativa facilidade se controlam as variáveis necessárias para um bom desempenho, a atividade de conduzir um automóvel acontece num ambiente complexo e em constante mudança, muitas vezes imprevisível e que exige uma permanente atenção e adaptação por parte do condutor.
A interação entre o condutor e o veículo é condicionada tanto por estes dois elementos, como pelos restantes elementos presentes no contexto rodoviário, como até mesmo pelas condições atmosféricas ou pelas condições das infraestruturas. Para além da legal licença para conduzir, ou seja, a carta de condução, e das características do automóvel, o condutor tem a permanente necessidade de se adaptar ás múltiplas exigências do ambiente em que se desloca, que uma vez que estão em permanente mutação e que exigem comportamentos diferenciados.
A Perturbação Dissociativa da Identidade (PDP) surge recentemente na literatura e envolve uma controvérsia associada principalmente à dificuldade na definição do termo dissociação. Entre outras formas, a dissociação pode ser descrita como uma falha na integração de dois ou mais diferentes sistemas de ideias e funções que constituem a personalidade.
O fenómeno dissociativo movimenta-se num espectro que vai desde a dissociação não patológica (ex. sonhar acordado ou estar intensamente focado numa tarefa) até à Perturbação Dissociativa da Personalidade, esta sim uma patologia do foro mental, habitualmente associada a experiências traumáticas. O processo dissociativo implica a alteração de um estado de consciência que não é organicamente induzida. Ou seja, envolve uma alteração temporária ou a separação de processos mentais que em situação normal estariam integrados. Segundo Bultler (2004), a natureza dos processos dissociativos normativos cinge-se a uma intensa concentração e envolvimento cognitivo em alguns aspetos da consciência, em detrimento de outros componentes. O grau de dissociação oscila num continuum desde os processos normativos e transitórios, decorrentes do dia-a-dia, até aos processos de dissociação patológicos, classificados como crónicos e severos.
Há por vezes uma tendência para se pensar que as crianças e os adolescentes não compreendem nem sofrem, da mesma forma que os adultos, o impacto causado por uma perda. No entanto, talvez não seja bem assim…
O senso comum tende a considerar que as crianças e os adolescentes esquecem facilmente as perdas, e necessitariam apenas de ver asseguradas as suas necessidades e ritmos diários por um outro adulto capaz, para conseguirem continuar a viver bem e felizes. Cabe então desvendar alguns mitos relacionados com o luto infantil e as reais consequências ao lidar com as perdas. O primeiro mito tem a ver com o facto de as crianças não poderem vivenciar o luto devido à sua imaturidade psicológica e por não compreenderem o conceito de irreversibilidade. É certo que muitas vezes o tema da morte não é falado com as crianças, porque “elas não compreendem” ou porque “lhes faz mal“. O facto é que, tal como os adultos, todas as crianças fazem luto em todas as idades, e o seu desenvolvimento experiências de vida influenciam o seu processo de luto, e daí se manifestar de diferentes formas.