Será que o meu filho já tem idade para ir ao psicólogo?

Psicólogo infantilSou questionada algumas vezes sobre a partir de que idade, pode uma criança beneficiar de acompanhamento psicológico. Pais e cuidadores preocupam-se frequentemente com o bem-estar das suas crianças mas têm ainda alguma relutância em procurar o psicólogo. Será que há mesmo uma idade pré-definida para que se possa beneficiar do acompanhamento psicológico?

A razão mais frequente para se evitar procurar a ajuda do psicólogo prende-se com questões sociais, pois por vezes há ainda o mito de que o psicólogo serve para ajudar apenas “os malucos”, no entanto, essa tendência está a diminuir uma vez que as pessoas estão cada vez mais informadas. Porém, reconhecer que se precisa de ajuda pode significar para os pais alguma incapacidade no desempenho do seu nobre papel. Por outro lado, os pais por vezes tendem a pensar que os problemas se resolvem por si só. E não estão completamente enganados. Alguns comportamentos típicos das crianças e que deixam os pais com os “nervos em franja” têm a ver com a imaturidade do bebé e de facto, numa perspetiva desenvolvimentista, resolvem-se simplesmente com o passar do tempo. Porém, há outros comportamentos ou situações que podem ser indicadores de algum tipo de perturbação, que pode ser séria, ou que não sendo propriamente muito grave, pode ter um impacto muito negativo na vida criança e da família e que pode ser resolvida com uma intervenção breve e precoce. Continue a ler “Será que o meu filho já tem idade para ir ao psicólogo?”

A vinculação humana e as relações interpessoais futuras

Podemos entender a vinculação como um laço emocional profundo e duradouro que une duas pessoas. Em psicologia, a palavra vinculação remete-nos para a relação mãe-bebé e pressupõe um comportamento instintivo, decorrente da necessidade básica de sobrevivência e de segurança.

Falar de vinculação é falar do estabelecimento de uma relação do bebé com uma figura de referência (e. g. mãe), através de comportamentos inatos de promoção e manutenção da proximidade. Desta relação resulta o desenvolvimento das representações mentais sobre si próprio, sobre os outros e sobre os relacionamentos. Da mãe (ou outro cuidador), espera-se a satisfação das necessidades básicas do seu bebé de forma a assegurar a sua sobrevivência e a proporcionar a segurança necessária ao seu desenvolvimento saudável. A vinculação é um comportamento universal e transcultural, que nasce dessa interação e que é a base para o desenvolvimento socio-emocional da criança, tendo grande influencia no modo como a ela vai vivenciar os seus relacionamentos interpessoais e desenvolver competências relacionais futuras. A vinculação é ainda determinante no modo como a criança vai “explorar” o mundo que a rodeia.

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Bebés irritáveis vs. bebés silenciosos

Nos dias de hoje e na vivência da parentalidade, valorizamos muito a criança e tendemos a não poupar esforços de forma a suprir eficazmente as necessidades básicas os nossos filhos. E se há crianças que se apresentam como um enorme desafio pelo seu temperamento difícil, outras há que passam despercebidas por serem tão quietas…

Os bebés à nascença, apresentam já competências sensoriais e comportamentais.  Reagem à luz, mostram preferência por vozes mais agudas, sentem-se atraídos por odores doces, rapidamente reconhecem o cheiro da mãe e o tacto constitui-se como um meio de comunicação com o ambiente que os rodeia. A capacidade de comunicar do bebé, de forma relativamente voluntária e seletiva, permite reciprocidade na comunicação com as suas figuras parentais. O impacto da experiência precoce no modo como cérebro da criança se organiza e funciona é grande e pode ter consequências tão positivas e facilitadores de um desenvolvimento adequado como devastadoras. O bebé apresenta desde muito cedo a capacidade de empatizar e de responder socialmente: segue movimentos com o olhar e tem precocemente a fantástica capacidade de dar significado às palavras e ao vocabulário, muito antes mesmo de se conseguir expressar.

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Parto e ansiedade

O momento do parto pode ver visto sob duas perspetivas: a positiva, associada à felicidade e entusiasmo pelo nascimento e pela realização do casal enquanto pais, e a perspetiva mais negativa, habitualmente relacionada com a ansiedade e o medo da vivência desse momento.

O parto é, à medida de cada caso, uma experiência física e emocionalmente exigente. A separação de dois (ou mais!) seres, que viveram aproximadamente 9 meses de modo interdependente em contacto íntimo e permanente, tem um impacto emocional para cada um deles. Numa perspetiva psicodinâmica, no momento do parto a mulher revive inconscientemente o trauma do seu próprio nascimento e a angústia que experienciou ao nascer, pela perda do estado intrauterino e pelo medo do desconhecido. A ansiedade causada pelo medo de cuidar o bebé, associado à sensação de perda ou “esvaziamento”, são os dois fatores cuja interação pode conduzir a um estado de confusão que pode desencadear na mulher a sensação de despersonalização ou perda de identidade.

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