Nos dias de hoje e na vivência da parentalidade, valorizamos muito a criança e tendemos a não poupar esforços de forma a suprir eficazmente as necessidades básicas os nossos filhos. E se há crianças que se apresentam como um enorme desafio pelo seu temperamento difícil, outras há que passam despercebidas por serem tão quietas…
Os bebés à nascença, apresentam já competências sensoriais e comportamentais. Reagem à luz, mostram preferência por vozes mais agudas, sentem-se atraídos por odores doces, rapidamente reconhecem o cheiro da mãe e o tacto constitui-se como um meio de comunicação com o ambiente que os rodeia. A capacidade de comunicar do bebé, de forma relativamente voluntária e seletiva, permite reciprocidade na comunicação com as suas figuras parentais. O impacto da experiência precoce no modo como cérebro da criança se organiza e funciona é grande e pode ter consequências tão positivas e facilitadores de um desenvolvimento adequado como devastadoras. O bebé apresenta desde muito cedo a capacidade de empatizar e de responder socialmente: segue movimentos com o olhar e tem precocemente a fantástica capacidade de dar significado às palavras e ao vocabulário, muito antes mesmo de se conseguir expressar.
Os bebés procuram informação afetiva, ou seja, procuram na expressão do outro (e. g. mãe) ajuda para lidarem com as suas dificuldades. Uma mãe ansiosa e preocupada irá transmitir essas emoções ao seu bebé e este ficará menos preparado para explorar o mundo, ao passo que uma mãe segura e tranquilizadora irá promover no seu bebé a confiança de que este necessita para se aventurar nas suas descobertas. Uma mãe desinteressada ou negligente poderá contribuir para o desenvolvimento na criança, da desesperança aprendida, conceito que tem por definição um sentimento de impotência e incapacidade para enfrentar uma situação mesmo quando o próprio tem competências para o fazer.
Os bebés não são todos iguais e podem apresentar temperamentos muito distintos. Os bebés de temperamento difícil, com afeto negativo, habitualmente choram muito, têm dificuldades de sono, mostram-se insatisfeitos e revelam por vezes um certo distanciamento afetivo. Estas características podem conduzir a um desajustamento das funções parentais, ao mesmo tempo que podem ser preditoras de problemas de comportamento na infância. No entanto, este tipo de temperamento pode constituir-se também como uma fator protetor, uma vez que estas são crianças que pedem mais atenção, o que vai possibilitar mais oportunidades de interação e estimulação. Para isso é necessário que os pais desenvolvam estratégias para, por um lado perceberem o que se passa com a sua criança e por outro lado, para aprenderem a ajudá-la e a lidarem com ela e com as suas particularidades. Em contraponto, os bebés considerados de temperamento fácil, os bebés demasiado sossegados e silenciosos, são por vezes passíveis de menor atenção, podendo mesmo ser desvalorizados. Estes bebés não representam grandes desafios no que diz respeito aos cuidados parentais, porém, as suas características e o seu bom comportamento deverá ser alvo de atenção e avaliação uma vez que pode ser indicador ou preditor de perturbações da relação e da comunicação, nomeadamente, perturbação do espectro do autismo ou de outra patologia como por exemplo o défice auditivo.
Em Lisboa, no Hospital Dona Estefânia, na Unidade da Primeira Infância, foi criada uma consulta específica para bebés diferentes: A Consulta do Bebé Irritável. Esta consulta destina-se à avaliação e acompanhamento de bebés irritáveis ou, pelo contrário, de bebés silenciosos, abrangendo também outras áreas como as perturbações alimentares ou os problemas do desenvolvimento.
Seja atento ao seu bebé, principalmente se o considera demasiado sossegado. Procure ajuda, a intervenção precoce pode fazer uma grande diferença no futuro do seu filho e da sua família!
Gracinda e a Psicologia 