
O momento do parto pode ver visto sob duas perspetivas: a positiva, associada à felicidade e entusiasmo pelo nascimento e pela realização do casal enquanto pais, e a perspetiva mais negativa, habitualmente relacionada com a ansiedade e o medo da vivência desse momento.
O parto é, à medida de cada caso, uma experiência física e emocionalmente exigente. A separação de dois (ou mais!) seres, que viveram aproximadamente 9 meses de modo interdependente em contacto íntimo e permanente, tem um impacto emocional para cada um deles. Numa perspetiva psicodinâmica, no momento do parto a mulher revive inconscientemente o trauma do seu próprio nascimento e a angústia que experienciou ao nascer, pela perda do estado intrauterino e pelo medo do desconhecido. A ansiedade causada pelo medo de cuidar o bebé, associado à sensação de perda ou “esvaziamento”, são os dois fatores cuja interação pode conduzir a um estado de confusão que pode desencadear na mulher a sensação de despersonalização ou perda de identidade.

A ansiedade sentida pela mulher aos primeiros sinais do parto deverá ser reconhecida, normalizada e contida, no sentido de se estabelecer o equilíbrio necessário ao desenrolar do parto. Para muitas mulheres, a intensificação da dor causada pelas contrações resulta numa escalada da ansiedade que pode levar ao descontrolo e que não facilita o trabalho de parto. Outras mulheres interpretam a intensificação da dor como uma aliada, uma vez que significa a aproximação do desejado final do parto, aliviando assim o seu estado de ansiedade e aumentando a sua cooperação. O importante é que a mulher consiga manter o seu equilíbrio emocional durante este processo. A presença de uma figura empática (ex. marido, mãe, profissional de saúde da sua confiança) que lhe traga compreensão e serenidade pode fazer com que a mulher se sinta mais segura e tranquila e mantenha a sua ansiedade controlada.

A manutenção do equilíbrio emocional da parturiente vai permitir também uma melhor comunicação com os profissionais de saúde envolvidos no parto, promovendo a colaboração com os vários elementos que irá conduzir a uma sensação de segurança da mulher. Parece haver evidência científica para a redução de incidência de depressão pós-parto em mulheres que tiveram a presença de um acompanhante durante o parto, em virtude dos sentimentos de segurança e confiança que este pode promover. O parto deve ser visto como um momento fisiológico, social e emocional que diz respeito à mulher, ao bebé, ao seu companheiro e à sua família. Deste modo, devemos apelar a todos os profissionais de saúde que o acompanham, o respeito pela intimidade, cultura e pelas emoções dos envolvidos no parto e no nascimento.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza a incorporação de algumas medidas, como a redução das intervenções médicas desnecessárias, sendo recomendado que as equipas médicas e de enfermagem não interfiram no trabalho de parto de uma mulher de forma a acelerá-lo, a menos que existam riscos reais de complicações. Por outro lado, defende o direito à escolha e o respeito pelas opções e tomadas de decisão da mulher na gestão da sua dor e nas posições escolhidas durante o trabalho de parto e ainda o respeito pelo seu desejo de um parto totalmente natural, até na fase de expulsão.

O nascimento de uma criança é um dos acontecimentos mais importantes na vida de uma mulher e da família, representando um grande desafio à sua responsabilidade, maturidade psicológica e estabilidade emocional. No entanto, pode ser também uma enorme fonte de stresse não só pelas expectativas em relação ao momento do parto como pela idealização da relação mãe-bebé, com tudo o que ela implica em termos físicos e emocionais. Estas questões podem ser muito variáveis pois dependem de vários fatores, nomeadamente a personalidade da mulher mas também das suas estratégias de coping. A ansiedade é normativa, porém o controlo da mesma é necessário. Antes, durante e depois do parto, a estabilidade emocional é essencial tanto à recuperação e adaptação da mulher ao seu papel de mãe, como ao bom desenvolvimento psicoemocional do bebé.

Sugestão:
http://publicacoes.ispa.pt/index.php/ap/article/view/306/pdf