Segundo Selye (1976) o stresse é um conjunto de respostas fisiológicas que mobilizam o organismo para a acção e que são ao mesmo tempo adaptativas. O autor defende ainda que estas respostas ou reacções se alteram ao longo do tempo e que com a exposição repetida a situações de stresse, a reacção de defesa do organismo passa por três fases distintas: alarme, resistência e exaustão, às quais chamou Síndrome de Adaptação Geral.
Podemos considerar que o stresse é um processo de adaptação e não propriamente uma doença, embora a exposição repetida a factores causadores de stresse possa levar a um estado patológico, pelo desgaste que provoca no indivíduo. Existem vários tipos de stressores, que podem ser internos (representações mentais ou memórias) ou externos (vivenciar uma determinada situação). O modo como o indivíduo reage perante os factores causadores de stresse pode ser através de uma resposta emocional (ex. ansiedade ou medo), uma resposta fisiológica (ex. roer as unhas), uma resposta comportamental (ex. agitação motora) ou resposta cognitiva (ex. pessimismo ou dificuldade em tomar uma decisão).O stresse tem no indivíduo consequências negativas mas também pode ter consequências positivas. É algo inevitável, uma vez que está presente nas situações do dia-a-dia. É também de certo modo e em alguns casos desejável, na medida em que funciona como o motor que nos conduz à resolução dos problemas. Nestes casos, é a oportunidade de adquirirmos competências práticas e de nos tornarmos capazes.
Perante um mesmo factor de stresse, cada indivíduo reage e age de forma diferente, sendo que, uns têm tendência a minimizar os custos da situação e torná-la irrelevante e outros, agudizam-nos, tornando a situação ainda mais ameaçadora. É o significado que cada indivíduo atribui a uma determinada situação, com base na avaliação que faz e nos recursos que possui, que vai determinar as suas reacções ao elemento stressor. Segundo o modelo de avaliação cognitiva de Lazarus e Falkman, uma situação é geradora de stresse quando é potencialmente prejudicial e caso o indivíduo considere que os seus recursos são insuficientes para gerir o resultado aversivo. Uma situação indutora de stresse é toda aquela em que a relação estabelecida entre o indivíduo e o meio ambiente é avaliada como excedendo os seus recursos prejudicando por isso, o seu bem-estar. Às estratégias utilizadas para repor o equilíbrio homeostático após uma situação de stresse dá-se o nome de coping. Estas estratégias têm a ver com regulação de emoções, negação e evitamento ou resolução de problemas, sendo as últimas as que tendencialmente têm maior eficácia, sempre que o factor causador de stresse pode ser controlado pelo indivíduo. A regulação de sintomas pode ser funcional quando o stressor não é controlável, sendo neste caso a autorregulação a melhor forma de lidar com o problema. Em relação à negação e evitamento, considera-se a forma menos eficaz de coping, se bem que em alguns casos pode servir para se ganhar tempo e posteriormente adoptar uma estratégia mais adequada para o problema em questão.
O stresse pode ter um impacto directo na saúde, na medida em que a percepção de falta de controlo, que se atribui a causas internas, estáveis e globais pode levar a estados de ansiedade e/ou depressão, bem como a um estado de saúde física precário. Deste modo, o custo do stresse é sentido na saúde e no bem-estar do indivíduo. Dentro das perturbações patológicas causadas por acção do stresse podemos destacar as perturbações do foro digestivo, infecções, doença coronária ou até mesmo o cancro. É ainda de referir as queixas psicossomáticas, em que o indivíduo por má gestão emocional, manifesta queixas a nível físico para as quais não se encontra uma causa orgânica. Para lidar com o inevitável stresse, cada indivíduo dispõe de recursos internos – características da personalidade e externos – apoio social. São exemplos de factores promotores de distress a dificuldade na gestão do tempo, a dificuldade em estabelecer prioridades e de tomada de decisões, as perdas por morte, os conflitos interpessoais ou uma crise financeira. Até agora falámos essencialmente de distress, isto é, a dimensão negativa e prejudicial do stresse mas ao contrário do que vulgarmente se pensa o stresse nem sempre é negativo.
É consensual entre psicólogos e outros profissionais que se dedicam a este tema, a divisão do stresse em mau e bom, respectivamente distress e eustress. Denominamos de eustress, o bom stresse, a capacidade que o ser humano tem de realizar uma acção necessária. Este é natural do organismo e é graças a ele que o indivíduo mantém uma relação entre o stresse e a motivação, sendo encarado como afecto positivo e esperança. Chamamos savoring às estratégias que utilizamos para sentir, prolongar regular, manipular e manter as emoções positivas, o eustress. Estas conduzem ao bem-estar, à saúde física e mental, ao bom desempenho profissional e à satisfação nas relações interpessoais. É um modelo que leva ao impulso para a acção, para a auto-eficácia, para as emoções pró-sociais e trás serenidade. Dentro dos factores promotores de eustress, podemos encontrar a aquisição de competências técnicas ou académicas, estar na eminência de ganhar um prémio ou o estabelecimento e manutenção de algumas relações sociais, como por exemplo, estar apaixonado. Uma das principais estratégias de savoring é a partilha de acontecimentos positivos com os outros, o que vai levar ao aumento do bem-estar e satisfação com a vida.
Aprenda a identificar os sinais de alarme e a gerir o seu distress. Acha a tarefa difícil? Peça a ajuda ao seu psicólogo!
Fontes:
Selye, H. (1976). The Stress of Life (Revised ed.). New York: McGraw-Hill.
Stroebe, W. & Stroebe, M. (1995). Social Psychology and Health. Buckingham: Open University Press.
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