Não há nada exterior a nenhum de nós que nos possa garantir ausência de sofrimento. Ainda que muitos possamos ter todas as coisas que tipicamente utilizamos para medir o sucesso externo (ex. boa aparência, pais carinhosos, filhos incríveis, estabilidade financeira, bons amigos, uma relação conjugal satisfatória, etc.) isso pode não ser suficiente para garantir o nosso bem-estar psicológico.
Os seres humanos podem usufruir de várias formas de conforto, entusiasmo e diversão, e mesmo assim experimentar grande sofrimento emocional. Os investigadores na área da psiquiatria e psicologia estão familiarizados com as sombrias estatísticas que confirmam uma dura realidade de indivíduos com enorme dor emocional, desespero e angustia. Estudos promovidos pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), por exemplo, revelam que as taxas de prevalência de perturbação mental ao longo da vida rondam atualmente os cerca de 50%.Muitas pessoas apresentem sofrimento emocional em consequência de problemas no trabalho, nos relacionamentos, na parentalidade e com as transições naturais do curso de vida, entre outros (Kessler et al., 2005).
São muitas as variáveis que podem afetar a saúde mental das mulheres. Há especificidades biológicas e, principalmente, perspetivas sociais que orientam para uma inegável diferença de género, no que diz respeito à incidência e prevalência das perturbações psiquiátricas.
Hoje em dia, exercer a atividade de ”dona de casa”, ou seja, a mulher dedicar-se à casa e à família em exclusividade, sem desempenhar uma atividade profissional e remunerada, pode coloca-la numa situação de vulnerabilidade, por diversas ordens de razão. Podem haver fatores de risco para o desenvolvimento de psicopatologia, decorrentes da multiplicidade de papéis desempenhados e das inúmeras situações ansiogéneas às quais estas mulheres, nesta condição, poderão estar mais propensas. Estas vulnerabilidades relacionais, associadas aos processos biológicos (Ex. menarca, gravidez e menopausa) e potencialmente agravadas por questões sociais e económicas, como por exemplo a cítica, o isolamento social, a incompreensão, a violência doméstica, a dependência financeira ou a pobreza, podem comprometer a saúde mental destas donas de casa.
Podemos definir a “depressão tardia” como o aparecimento de sintomatologia depressiva, clinicamente significativa, depois dos 65 anos de idade. Este estado depressivo está muitas vezes associado à presença de doença física ou neurológica, mas também às mudanças decorrentes da situação de reforma.
As queixas somáticas mais frequentes nos doentes mais velhos são as dores de cabeça, dores reumatológicas ou músculo-esqueléticas, bem como a sintomatologia gastrointestinal. Feito o despiste de doença fisiológica que explique a referida sintomatologia, a persistência dos sintomas pode ser explicado pela depressão, se combinada com outros sintomas típicos desta doença. Estes sintomas incluem a tristeza prolongada e profunda, sentimentos de vazio, dificuldade em retirar prazer de atividades anteriormente prazerosas, falta de energia, dificuldades de sono, alterações do apetite, choro recorrente, sentimentos de culpa ou de inutilidade, entre outros.
Os fatores de risco para a depressão no idoso prendem-se com questões de género, sendo mais prevalente nas mulheres do que nos homens. No entanto, outros fatores de risco para o desenvolvimento de patologia depressiva podem estar relacionados com o sistema endócrino ou o sistema vascular. O diagnóstico de doenças médicas não psiquiátricas, nomeadamente doença oncológica, demência, doenças cardiovasculares, hipotiroidismo ou artrite, entre outras, constitui-se também como um fator de risco relevante para o desenvolvimento da depressão. O tipo de personalidade do indivíduo pode também influenciar a propensão para estados depressivos, bem como as experiências de vida e o stresse crónico a que está ou esteve sujeito (familiar, social ou económico).
Alguns fatores psicológicos podem também constituir um risco acrescido de depressão. A não-aceitação do envelhecimento, a dificuldade em lidar com a imagem corporal, a redução da atividade ou dos interesses, o apego excessivo aos bens materiais, a incapacidade em lidar com a morte dos entres queridos (que pode levar a processos de luto patológico), a dificuldade em enfrentar a reforma e a consequente redução da exposição social e por vezes até mesmo o isolamento, são fatores de risco muito significativos para o desenvolvimento de sintomatologia depressiva grave.
Associada aos múltiplos fatores de risco anteriormente mencionados, junta-se a frequente dificuldade que alguns mais velhos têm em fazer um balanço de vida positivo, em aceitar as alterações das relações com alguns familiares muito significativos (ex. filhos e netos por vezes distantes) e a dificuldade em lidar com expectativas de reciprocidade ou dependência económica, desses mesmos familiares, que por vezes podem ficar muito aquém do idealizado.
As pessoas mais velhas tendem a dar relevância às adversidades (maiores ou menores) que as preocupam, focando-se mais no que perderam do que naquilo que ainda têm e podem conseguir. A depressão nesta faixa etária parece estar frequentemente sub-diagnosticada e sub-tratada, principalmente ao nível dos cuidados de saúde primários. À semelhança das outras faixas etárias, a depressão no idoso pode ter vários níveis de gravidade, podendo ser ligeira, moderada ou grave (depressão major). De um modo geral, a depressão ligeira pode ser tratada com sucesso apenas com o recurso à psicoterapia, no entanto, a depressão moderada ou grave, necessita muitas vezes da combinação de psicoterapia com medicação (antidepressivos) como forma de intervenção. A terapia cognitivo-comportamental, combinada ou não com a medicação, tem-se revelado muito eficaz no tratamento da depressão tanto no idoso como em qualquer outra faixa etária.
A depressão não é uma consequência natural do envelhecimento. Os idosos saudáveis, independentes e principalmente ativos, apresentam uma taxa de prevalência de depressão muito inferior à da população em geral. Porém, juntamente com outras problemáticas que possam existir, a depressão reduz consideravelmente a qualidade de vida da pessoa idosa pode aumentar de forma significativa o risco de suicídio. Deste modo torna-se fundamental ficar atento aos sinais e agir de forma precoce. Uma boa e atempada avaliação psicológica e uma adequada intervenção, pode evitar consequências funestas e tratamentos mais complexos e prolongados.
Volte a sorrir, procure apoio! Procure a Sua Psicóloga!
É sabido que a depressão tem uma expressão significativa na prevalência das perturbações do foro mental. Porém, nem tudo o que parece é. Há que avaliar cuidadosamente cada critério, cada conjunto de sintomas, uma vez que alguns podem ser comuns a mais do que uma perturbação.
A distimia é uma perturbação depressiva caracterizada pela presença de humor depressivo durante a maior parte do dia, manifesto durante pelo menos dois anos no adulto (em crianças) em mais de metade dos dias. O seu diagnóstico assenta no relato subjetivo (ou por observação dos outros) de pelo menos dois ou mais dos seguintes sintomas: aumento ou diminuição do apetite; dificuldades de sono (ex. insónia); cansaço e/ou falta de energia; baixa autoestima; dificuldades de concentração; dificuldade na tomada de decisões e sentimentos de desesperança. No indivíduo com distimia, estes sintomas podem causar mal-estar clinicamente significativo e/ou défice social, ocupacional ou em qualquer outra área do seu funcionamento.
Por mais que se fale de saúde mental e da importância da mesma para a manutenção da qualidade de vida do indivíduo, parece haver ainda algum preconceito associado à procura de ajuda, nomeadamente de um psicólogo/a. Ideias pré-concebidas erróneas, podem dificultar a tomada de decisão na hora de procurar apoio, ainda que muito dele se possa necessitar.
Reconhece-se hoje em dia que, entre muitas outras patologias, a perturbação de ansiedade e a perturbação de depressão são as doenças do foro mental mais comuns, com elevada prevalência tanto em crianças e adolescentes, como em adultos e idosos. Em alguns casos, uma intervenção de caráter preventivo, pode fazer a diferença entre desenvolver a doença, por vezes até à cronicidade, ou aprender a lidar com a sintomatologia, impedindo que a doença evolua e se instale, comprometendo a funcionalidade e o bem-estar do indivíduo. Deste modo, é fundamental que o psicólogo/a seja visto como alguém que pode fazer a diferença, na vida de uma pessoa, de uma família ou de uma comunidade.
A Paula é uma mulher de 35 anos que está em acompanhamento psicológico há cerca de um ano. O diagnóstico inicial foi uma depressão major, com encaminhamento para psiquiatria, tendo sido imediatamente medicada, ao mesmo tempo que iniciou intervenção psicológica cognitivo-comportamental. A Paula tinha uma ideação suicida muito forte, tendo já havido uma tentativa prévia. Não conseguia trabalhar, não conseguia cuidar da sua filha de 3 anos…
A Paula tem sido muito cooperante e estabeleceu uma forte relação terapêutica. Não falha uma consulta e faz todos os “trabalhos de casa”. A melhoria é significativa, embora haja ainda um caminho a percorrer. Há dias, em sessão, verbalizou: “Não sei o que seria de mim sem a Dra., a senhora salvou-me a vida“…
O mérito é todo dela!
Não deixe que o preconceito ou os estereótipos a/o impeçam de pedir ajuda. Não deixe que um impulso a/o ponha em risco.Cuide de si!
Algumas pessoas, tipicamente mulheres, permanecem numa relação conjugal violenta em que são vítimas, sem que muitas vezes tenham a consciência dessa sua condição. Deste modo, acabam por não recorrer aos organismos destinados a intervir e a fazer cessar os abusos, mantendo o sofrimento e correndo riscos relacionados com a sua integridade física e moral ou até com a própria vida.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a violência conjugal afeta entre 15% a 70% da população mundial, na grande maioria mulheres, tendo os homens como agressores. Em Portugal, muitas mulheres são também elas vitimas deste tipo de violência, e, segundo dados da Associação Portuguesa de Apoio á Vítima (APAV), cerca de 76% dos crimes referenciados em 2021, são de violência doméstica, nos quais a violência conjugal se insere, tendo sido registados perto de 20 mil casos, entre eles 30 homicídios consumados. Segundo o relatório anual desta associação, no ano passado houve uma média diária de 37 vítimas, das quais 25 foram mulheres. O perfil da mulher vítima de violência conjugal corresponde a uma média de idade de 40 anos, é transversal a todos os níveis de ensino e os abusos são perpetrados na sua maioria pelo cônjuge ou companheiro.
As pessoas deprimidas sentem uma diminuição da vontade de executar tarefas, bem como dificuldade em obter satisfação com atividades que anteriormente lhes agradavam. A estruturação comportamental pode ser o primeiro passo, numa caminhada para combater a depressão.
A depressão pode contribuir para a redução do numero de atividades que realiza e com as quais está comprometido/a. Ao mesmo tempo, estar deprimido/a retira a vontade de realizar tarefas que são do seu agrado e que lhe podem trazer bem-estar. Assim, uma forma de lidar com essa dificuldade de agir, é precisamente estruturar o seu dia-a-dia. Sozinho/a ou com o apoio do seu psicólogo/a, a implementação de um plano de estruturação comportamental e o comprometimento com o mesmo, são fundamentais para que possa aos poucos sair dessa “escuridão” que é o estado depressivo.
O envelhecimento da população mundial é uma realidade e Portugal não é exceção. Dos fatores que contribuem para esta situação, destacam-se a baixa natalidade mas também a melhoria das condições de vida e os avanços médicos e tecnológicos, que assim promovem o aumento da esperança média de vida.
Segundo dados do Eurostat, em Portugal cerca de26,6% da população tem 65 anos ou mais e estima-se que em 2050 esse valor ultrapasse os 40%. Este facto está a transformar as sociedades e a economia a nível global, levantando questões como o financiamento dos cuidados de saúde e as medidas de proteção social. Por outro lado, importa também não esquecer a importância da criação e implementação de programas de promoção da saúde e prevenção da doença, para que a qualidade de vida e o bem-estar das populações se mantenha o mais satisfatória possível, ao longo de todo o curso de vida, nomeadamente nos anos mais tardios.
Perante esta realidade, e uma vez que os adultos mais velhos estão mais vulneráveis à doença crónica, isolamento social, depressão e processos de demência, entre outras patologias, os/as psicólogos/as podem ter um papel fundamental na avaliação e acompanhamento destas pessoas, tendo em vista uma resposta adequada às suas necessidades. Tendo em conta a sua formação e o conhecimento cientifico teórico-prático sobre desenvolvimento, comportamento e sobre o impacto psicológico do processo de envelhecimento, os/as psicólogos/as estão preparados para apoiar os adultos mais velhos nos seus diferentes contextos de vida e problemáticas.
A eficácia da intervenção psicológica está demonstrada nas várias fases do desenvolvimento humano (desde a primeira infância). Assim sendo, alguns adultos mais velhos poderão beneficiar de uma intervenção psicológica com muito bons resultados, ao invés de intervenções apenas farmacológicas. Esta população apresenta frequentemente comorbilidades com outras patologias características da idade, encontrando-se por vezes muito medicada. Em muitas situações o recurso à psicologia pode ser a melhor opção. E quais poderão ser os campos de ação do/a psicólogo/a na sua intervenção com pessoas idosas?
Com esta população específica, o/a psicólogo/a pode ajudar a promover o envelhecimento ativo rentabilizando o potencial de cada indivíduo, para que numa relação terapêutica possam trabalhar as suas várias dimensões, tendo em vista o aumento do seu bem-estar. Questões como informar e consciencializar a pessoa acerca do natural processo de envelhecimento, desmistificar crenças e mitos sobre a velhice, promover uma perspetiva realista mas positiva da vida, salientar e potenciar os pontos fortes do individuo, facilitar a sua participação ativa em sociedade/comunidade, são áreas de abrangência do trabalho do/a psicólogo/a. A facilitação da expressão emocional, a compreensão dos processos e situações problemáticas da vida da pessoa idosa, bem como o apoio na adaptação a possíveis mudanças decorrentes do passar do tempo, cabem também na esfera da intervenção psicológica. A acrescentar, este profissional pode ajudar na aceitação e controlo da doença. física ou mental e respetivo tratamento, assim como ensinar e treinar estratégias para lidar com a dor, com a ansiedade, entre outras patologias típicas desta fase da vida, como por exemplo a prevenção da demência ou ainda o apoio em processos de luto.
Envelhecer faz parte da vida e saber envelhecer é muito importante na preservação da qualidade de vida e da satisfação com a mesma. Há que ter uma perspetiva de aceitação e de esperança e tomar decisões importantes para o seu próprio bem-estar emocional, físico e social. A felicidade é um direito universal e cada um de nós pode contribuir efetivamente para ela.
Não basta dar anos á vida, é fundamental dar vida aos anos. Se para isso sentir que precisa de ajuda, não espere mais, peça-a á Sua Psicóloga!
A depressão tardia refere-se ao aparecimento de estados depressivos depois dos 65 anos. A sintomatologia depressiva está frequentemente associada à presença de doença física ou neurológica e à incapacidade ou às limitações decorrentes de estados de doença, que levam ao declínio do estado geral do indivíduo.
As queixas mais frequentes nos indivíduos mais idosos são as dores de cabeça, dores reumatológicas ou músculo-esqueléticas bem como a sintomatologia gastrointestinal. Feito o despiste de doença orgânica que explique a referida sintomatologia, a presença da mesma pode ser explicada pela depressão, se combinada com alguma da sintomatologia típica desta doença. Os fatores de risco para a depressão no idoso prendem-se com questões de género, sendo mais prevalente nas mulheres do que nos homens. Outros fatores de risco para o desenvolvimento de patologia depressiva estão relacionados com o sistema endócrino e o sistema vascular. O diagnóstico de doenças médicas não psiquiátricas, nomeadamente doença oncológica, demência, doenças cardiovasculares, hipotiroidismo ou artrite, entre outras, constitui-se como um fator de risco relevante para a depressão, bem como o tipo de personalidade e as experiências de vida do sujeito. De referir ainda como potenciador de sintomatologia depressiva o stresse crónico a que o indivíduo possa estar sujeito, quer seja familiar, social ou económico.