Nós e os outros

O relacionamento com os outros está presente na vida e no quotidiano de todos nós. Ao conjunto de pessoas com quem temos uma relação significativa podemos chamar rede de apoio social. Em psicologia as redes de apoio social mais estudadas são as redes egocêntricas, isto é, as redes centradas numa pessoa específica que é alvo de interesse.

Existem várias formas para definir apoio social. Uma delas é dizermos que corresponde à quantidade e coesão das relações sociais que rodeiam de um modo dinâmico um indivíduo. O apoio social é um processo interativo que visa o bem-estar físico e psicológico. O contacto social promove a saúde e o bem-estar e tem provavelmente uma função de regulação da resposta emocional perante os vários fatores causadores de stresse. De acordo com alguns autores, o apoio social pode ter várias funções: apoio informativo, apoio emocional, apoio de pertença e apoio tangível, desempenhando assim um importantíssimo papel na vida do indivíduo, com impacto muito significativo na sua saúde física e psicológica. Este apoio poderá mesmo exercer influência sobre a mortalidade, uma vez que a sua presença parece estar associada a um melhor funcionamento dos sistemas cardiovascular, endócrino e imunitário, e com repercussões positivas na saúde física. O principal benefício de receber apoio social é a proteção do indivíduo face às consequências negativas do stresse, quer comportamentais, quer psicológicas. Teoricamente, o apoio social pode diminuir a perceção e a avaliação de stresse do indivíduo, perante um determinado acontecimento. Isto poderá também influenciar positivamente processos psicológicos como, estados de humor negativos, baixa autoestima e baixo autocontrolo e autoeficácia.

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Velhos ou envelhecidos?

O envelhecimento é um processo inexorável que ocorre desde o nascimento até à morte e que pressupõe um conjunto de transformações do organismo, tanto a nível fisiológico como psicológico. Consiste na diminuição progressiva das funções cognitivas, físicas e motoras. A velhice por sua vez, não tem apenas a ver com os efeitos da passagem do tempo no organismo, mas também com a forma como o indivíduo se vai adaptando psicologicamente às transformações inerentes à passagem dos anos.

Parece consensual que distinguir envelhecimento de velhice faz muito sentido. Pode parecer um “lugar-comum” dizer que há velhos de 40 anos e jovens de 80, mas de facto a forma como o indivíduo enfrenta as dificuldades, resolve os problemas, escolhe estratégias que lhe permitem viver melhor e sobretudo, a forma como se relaciona com os outros e como mundo, leva-me a considerar que não é apenas a idade cronológica, as rugas e outras alterações do aspecto físico do indivíduo, que determinam o que é ser um velho. Ser velho, correlaciona-se fortemente com a perda de capacidades que permitam ao individuo manter-se auto suficiente, quer a nível físico como mental, mas também com a perda da capacidade de sonhar e de projetar o futuro.

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Perturbação de uso de tabaco

Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais – DSM-V, as perturbações relacionadas com substâncias e perturbações aditivas englobam 10 classes de drogas, entre as quais se inclui o tabaco. À semelhança de outras substâncias, o tabaco ativa diretamente o sistema de recompensa do cérebro, que está envolvido no reforço de comportamentos e na produção de memórias.

O uso de substâncias psicoativas ativa diretamente o sistema de recompensa e produz uma sensação de prazer. Os indivíduos com níveis mais baixos de autocontrolo, podem estar particularmente vulneráveis ao desenvolvimento de perturbações do uso de substâncias, ao invés de conseguirem a ativação do sistema de recompensa, apenas por meio de comportamentos adaptativos, como seria desejável. Foquemo-nos então na substância tabaco. O tabaco é uma droga legal e socialmente aceite o que a torna mais perniciosa do que à partida se poderia pensar. Habitualmente de início precoce, o consumo de tabaco faz parte da integração de alguns adolescentes no grupo, bem como da sua afirmação enquanto indivíduos. Parece haver uma diferenciação de género, sendo que tendencialmente as raparigas iniciam hábitos tabágicos para expressarem rebeldia e autoconfiança, enquanto os rapazes parecem utilizar esses hábitos como mecanismo compensatório para a sua insegurança social. Estes hábitos adquiridos em idade precoce, para além das conhecidas consequências negativas ao nível respiratório e cardiovascular, entre outros, podem ainda escalar para um problema de saúde mental – um comportamento aditivo.

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Socorro, sou um adolescente!

Ao atingir a puberdade, as crianças experienciam grandes e rápidas mudanças físicas, emocionais e sexuais, sobre as quais não têm controlo. Estas mudanças requerem uma adaptação e uma compreensão das mesmas, sendo por vezes difícil ao adolescente lidar com o seu corpo e com os seus pensamentos, o que pode conduzi-lo a sentimentos de ansiedade mas também ao isolamento social.

Perante algumas questões como “será normal a minha aparência’” ou “o que é que os outros pensam de mim?”, o adolescente toma consciência de si mesmo mas também pode sentir alguma angústia, pela inevitabilidade das mudanças com as quais está a ter que lidar, sem que muitas vezes esteja preparado para tal. Por vezes, a segurança e as certezas da infância parecem desaparecer, dando lugar á incerteza e à ansiedade. Estes sentimentos são normativos, desde que o jovem consiga manter a sua funcionalidade a aos poucos, adaptar-se a um novo corpo, a um novo modo de estar e de se sentir. Porém, alguns adolescentes, pelas suas características, demoram mais tempo a fazer essa adaptação, com custos elevados no seu bem-estar pessoal, familiar e relacional.

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