
O envelhecimento é um processo inexorável que ocorre desde o nascimento até à morte e que pressupõe um conjunto de transformações do organismo, tanto a nível fisiológico como psicológico. Consiste na diminuição progressiva das funções cognitivas, físicas e motoras. A velhice por sua vez, não tem apenas a ver com os efeitos da passagem do tempo no organismo, mas também com a forma como o indivíduo se vai adaptando psicologicamente às transformações inerentes à passagem dos anos.
Parece consensual que distinguir envelhecimento de velhice faz muito sentido. Pode parecer um “lugar-comum” dizer que há velhos de 40 anos e jovens de 80, mas de facto a forma como o indivíduo enfrenta as dificuldades, resolve os problemas, escolhe estratégias que lhe permitem viver melhor e sobretudo, a forma como se relaciona com os outros e como mundo, leva-me a considerar que não é apenas a idade cronológica, as rugas e outras alterações do aspecto físico do indivíduo, que determinam o que é ser um velho. Ser velho, correlaciona-se fortemente com a perda de capacidades que permitam ao individuo manter-se auto suficiente, quer a nível físico como mental, mas também com a perda da capacidade de sonhar e de projetar o futuro.

É inegável que a passagem do tempo coloca características como a atratividade, a força física, a facilidade em adquirir novos conhecimentos e outras capacidades físicas e cognitivas, numa curva descendente. Contudo, os conhecimentos adquiridos, a sabedoria, o respeito por parte dos outros e até mesmo a satisfação com a vida parecem ter tendência a aumentar. As transformações socioeconómicas e políticas, assim como a grande evolução da medicina, têm contribuído para aumentar a esperança média de vida das populações. Por outro lado, as cíclicas crises económicas têm sido um dos fatores responsáveis pela baixa taxa de natalidade em vários países, como é o caso de Portugal. Assim, e à semelhança de outras zonas do globo, deparamo-nos neste momento com uma grande fatia da população com idade acima dos 65 anos. Considerando que se convencionou que a terceira idade começa por volta desta altura, podemos então assumir que temos uma população envelhecida. Se noutros tempos os indivíduos coabitavam tradicionalmente em famílias de duas, três ou até mesmo quatro gerações, algumas das mudanças sociais e económicas como por exemplo a procura de privacidade e independência dos filhos ou a necessidade de mudar para zonas mais distantes, por razões profissionais ou sociais, levaram a que os mais velhos fossem ficando cada vez mais sós, embora de um modo geral com o apoio emocional, instrumental e informativo por parte dos mais novos, geralmente filhos e netos.

Parece haver uma tendência para que alguns filhos, vendo os pais já envelhecidos, assumam uma atitude de proteção exagerada o que leva a que estes sintam em risco a sua autonomia e capacidade de decisão. Estas atitudes por parte dos mais novos podem gerar algum conflito, à semelhança do conflito vivido na adolescência, embora agora com os papéis invertidos. Todavia, e não me querendo afastar do tema central desta reflexão, o envelhecimento é de facto uma inevitabilidade e há que saber viver cada fase deste processo de um modo positivo, e dar maior ênfase aos ganhos do que às perdas, se possível. Uma vez que todos envelhecemos e que o fim é inevitável, é importante fazer e manter amizades de modo a aumentar a nossa rede de apoio social, pois à medida que se vão perdendo familiares e amigos, os “novos” serão certamente uma grande ajuda para ultrapassarmos as nossas perdas, bem como para mantermos a esperança. Do mesmo modo, é também importante para a autoestima e autoconfiança dos mais velhos, saberem que podem ser úteis aos outros e que têm a capacidade de lhes transmitir os conhecimentos que adquiriram no decorrer de uma vida por vezes já muito longa.

As academias de ocupação de tempos livres para os mais velhos, ou outros locais de convívio, podem também constituir uma boa opção para que estes se sintam acompanhados e ocupados, ao mesmo tempo que lhes permite exercitar, não só as suas capacidades cognitivas, como físicas e intelectuais. Desde que os indivíduos reúnam condições físicas e económicas, as atividades lúdicas, convívios e viagens podem também contribuir para um dia-a-dia mais feliz, nesta fase da vida mais tardia. As perspetivas acerca do envelhecimento são multidimensionais e têm reflexos diferenciados, consoante o enquadramento cultural em que o indivíduo se insere. No entanto, estudos transculturais revelam um consenso generalizado no que diz respeito ao que é comum a todos os indivíduos idosos: sabedoria vs. limitações físicas. Resta-me ainda salientar que o tipo de personalidade de cada pessoa, determina o modo como esta conduz a sua vida e consequentemente o seu processo de envelhecimento, uma vez que o melhor preditor do futuro é o passado. O otimismo, a alegria de viver e a facilidade de se relacionar com os outros, são exemplos de características que não têm que ser exclusivas dos mais jovens, mas que pelo contrário, podem acompanhar o indivíduo ao longo de todo o seu ciclo de vida, independentemente das “pedras” que se vão atravessando no seu caminho.

Será então bom viver muitos anos? A resposta a esta pergunta dependerá seguramente de vários fatores, mas principalmente das expectativas que cada um tem, em relação ao dia seguinte.