Saúde mental: atenção aos sinais e aja precocemente

Não há nada exterior a nenhum de nós que nos possa garantir ausência de sofrimento. Ainda que muitos possamos ter todas as coisas que tipicamente utilizamos para medir o sucesso externo (ex. boa aparência, pais carinhosos, filhos incríveis, estabilidade financeira, bons amigos, uma relação conjugal satisfatória, etc.) isso pode não ser suficiente para garantir o nosso bem-estar psicológico.

 Os seres humanos podem usufruir de várias formas de conforto, entusiasmo e diversão, e mesmo assim experimentar grande sofrimento emocional. Os investigadores na área da psiquiatria e psicologia estão familiarizados com as sombrias estatísticas que confirmam uma dura realidade de indivíduos com enorme dor emocional, desespero e angustia. Estudos promovidos pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), por exemplo, revelam que as taxas de prevalência de perturbação mental ao longo da vida rondam atualmente os cerca de 50%.Muitas pessoas apresentem sofrimento emocional em consequência de problemas no trabalho, nos relacionamentos, na parentalidade e com as transições naturais do curso de vida, entre outros (Kessler et al., 2005).

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Eu quero a mãe…

Dentro do espectro das perturbações de ansiedade na infância e na adolescência, a ansiedade de separação é uma das formas mais expressivas e que pode ter consequências com impacto muito significativo na vida da criança e da família.

A ansiedade de separação caracteriza-se essencialmente por um medo excessivo da separação das figuras de vinculação ou de referência, habitualmente os pais ou outros cuidadores que os substituem. Este medo pode começar a manifestar-se por volta dos oito meses de idade, no entanto, a perturbação de ansiedade de separação tem por norma o seu início entre os 7 e os 12 anos, podendo em alguns casos ter um começo mais precoce e manifestar-se antes dos 6 anos. A investigação nesta área aponta para uma prevalência de 3 a 13% em crianças e 1,8 a 2,4% em adolescentes, com maior incidência no sexo feminino (Costello & Angold, 1995).

Dentro dos critérios de diagnóstico desta perturbação, encontram-se manifestações como a ansiedade excessiva e desadequada para a idade da criança/adolescente em situações em que tem que se separar dos pais, como por exemplo quando tem que ficar na escola ou na casa de outro familiar. Estas crianças tendem a sentir um mal-estar desmedido e persistente sempre que situações de separação são antecipadas, podendo manifestar sintomas físicos como dores de barriga, náuseas ou dores de cabeça, entre outros.

Crianças com perturbação de ansiedade de separação revelam uma preocupação excessiva pela perda dos pais ou por possíveis males que lhes possam acontecer, assim como um medo exagerado de poderem ser raptadas ou de se perderem. É ainda comum apresentarem grande relutância em estarem sozinhos em casa ou noutros locais sem a companhia de um adulto significativo. Também o dormir ou adormecer sozinho pode ser uma dificuldade e pode ser frequente terem pesadelos que envolvam o tema da separação das figuras parentais.

São várias são as consequências negativas desta perturbação e podem afetar a vários níveis. Por vezes, a dificuldade em ficar na escola ou em se manter lá pelo tempo que seria suposto, pode levar a uma menor participação nas atividades curriculares e ao decréscimo do rendimento escolar. Por outro lado, os pais, poderão ver a sua atividade laboral prejudicada e interrompida por telefonemas constantes por parte dos educadores/professores ou pela própria criança/adolescente, com solicitações para o irem buscar. Com o medo de se afastarem dos pais, as crianças/adolescentes podem perder oportunidades de socialização e de divertimento como festas de aniversário, passeios da escola ou estadias em campos de férias, com tudo o que de divertido e desafiante essas situações podem proporcionar e que são tão importantes para o desenvolvimento saudável das crianças/jovens.

Esta perturbação causa grande sofrimento e pode conduzir a situações extremas, devendo por isso ser tratada com cautela e ser alvo de intervenção. Situações desadequadas como ter medo de estar sozinho na casa-de-banho mesmo com os pais em casa ou recusar-se em ir à escola, podem ocorrer causando grande stresse familiar. Para além disso, este tipo de perturbação poderá ser um fator de risco para o desenvolvimento de perturbação de pânico ou agorafobia na idade adulta. Perante um quadro de manifestação deste tipo de sintomas ou comportamentos, os pais ou cuidadores deverão pedir ajuda especializada para avaliação do caso, de modo a permitir a intervenção adequada à situação, no sentido de reduzir os impactos negativos que o problema poderá ter, quer na vida emocional e social da criança/adolescente, quer nas suas rotinas diárias.

Fontes:

Costello, E. J., & Angold, A. (1995). Developmental epidemiology. In D. Cicchetti & D. J. Cohen (Eds.), Developmental psychopathology, Vol. 1. Theory and methods (pp. 23–56). John Wiley & Sons.

Figueroa, A., Soutullo, C., Ono, Y., & Saito, K. (2015). Ansiedade de separação. IACAPAP e-Textbook of Child and Adolescent Mental Health.(edição em Português.

Processo de avaliação psicológica

A avaliação psicológica insere-se nas competências profissionais exclusivas do Psicólogo/a e só a este/a é conferida legitimidade para a realização deste trabalho, com recurso a técnicas e instrumentos específicos para o efeito e para cuja utilização está capacitado.

O processo de avaliação psicológica tem início sempre que é pedida a resposta a uma questão ou um parecer profissional sobre um determinado caso ou indivíduo. O psicólogo/a analisa até que ponto se sente habilitado para dar resposta a esse pedido, mas também deve verificar se este se encontra dentro dos critérios éticos estabelecidos pelo código deontológico, que tem por objetivo guiar este profissional de saúde mental, no sentido de práticas de excelência, garantindo que o seu exercício profissional é o máximo ético e não o mínimo aceitável (Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Diário da República, 2.ª série — N.º 78 — 20 de Abril de 2011).

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Hiperatividade e défice de atenção, como diagnosticar?

A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma perturbação do desenvolvimento cerebral caracterizada por 3 sintomas principais: desatenção, hiperatividade e impulsividade.

Ouvimos muitas vezes dizer que hoje em dia há muitas crianças hiperativas ou com défice de atenção, e que muitas delas estão medicadas, o que por vezes causa grande preocupação e estranheza. No entanto, a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma das patologias mais prevalentes na infância. Porém por vezes, pode não estar bem diagnosticada, ou seja, podemos hipervalorizar alguns comportamentos das crianças ou pelo contrário, desvalorizar outros tantos, como que se estivéssemos em negação do problema. Os profissionais de saúde qualificados para avaliar este tipo de patologias são os psiquiatras e os psicólogos. Para apoiar numa correta avaliação, a Associação Americana de Psiquiatria (APA) definiu no seu Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-V), os vários critérios a levar em consideração numa correta avaliação da PHDA.

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POC! Será esse o meu problema?

A Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) é uma doença do foro psiquiátrico que se caracteriza pela presença de obsessões, isto é, pensamentos, impulsos ou imagens mentais recorrentes e desagradáveis, e/ou compulsões, que são comportamentos repetitivos ou atos mentais que a pessoa se sente na obrigação de realizar em resposta às obsessões.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência da POC em Portugal é de cerca de 4%. Esta organização introduziu a POC na lista das dez condições mais debilitantes em todo o mundo, salientando-se deste modo a importância de um diagnóstico precoce e do entendimento da forma como a patologia se caracteriza clinicamente. Em termos de diagnóstico, os critérios estabelecidos pela American Psychiatric Association (APA) foram definido pela presença de dois dos principais componentes da POC, sendo estes a presença de obsessões e compulsões, que embora possam ser independentes, estão fortemente associados.

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Escola, brincar e aprender

A escola é parte integrante da vida da criança, e é em contexto escolar que ela passa muitas das horas do seu dia, em interações múltiplas, repletas de oportunidades de aprendizagem, socialização e crescimento.

A escolaridade obrigatória é um direito e um dever para todos os cidadãos com idades entre os 6 e os 18 anos. O Estado Português defende que os 12 anos de escolaridade são relevantes para o progresso social, económico e cultural da população e do país. Dentro da sala de aula, a criança aprende de forma estruturada as atividades e os conteúdos programáticos correspondentes ao ano que frequenta, no entanto, fora da sala de aula (e não menos importante), a criança experimenta diversas atividades e tem a possibilidade aprender através do brincar. Esta aprendizagem informal é de extrema importância a vários níveis, nomeadamente ao nível da socialização e desenvolvimento de competências relacionais.

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Escola, desempenho, socialização e (des)motivação

A Psicologia tem dado ao longo dos tempos um forte contributo para a melhoria do ensino e da aprendizagem em sala de aula. Sabe-se que o bem-estar emocional influencia positivamente o desempenho escolar, a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças e dos jovens.

O ensino e a aprendizagem estão intrinsecamente relacionados com fatores sociais e comportamentais do desenvolvimento, incluindo a cognição, a motivação, a interação social e a comunicação. Uma avaliação da saúde psicológica poderá ser de grande importância, não só em termos de prevenção, como no desenvolvimento de estratégias de intervenção, no sentido de melhorar o desempenho escolar e académico, as relações familiares e com os pares, e, consequentemente, a satisfação dos jovens com a vida. Promover o bem-estar emocional de crianças e jovens, irá certamente potenciar o sucesso da sua funcionalidade diária, bem como o sucesso do seu desempenho, tanto em sala de aula, como no restante ambiente escolar e não só…

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Chegou a época dos testes! Vou ter exame, ai agora…

O medo e a ansiedade são naturais ao ser humano, desempenhando um papel muito importante no comportamento e na sobrevivência. É porque temos medo que nos protegemos e nos defendemos dos perigos que percecionamos. No entanto, medo em excesso pode interferir de forma muito negativa na nossa vida, uma vez que nos pode comprometer a nossa funcionalidade.

 Em contexto escolar, a ansiedade dos alunos perante a perspetiva de um teste é um fenómeno particularmente difícil. A ansiedade gerada pela avaliação, ou seja, a ansiedade de desempenho, principalmente em contexto formal, como é o caso de testes e exames, ou até mesmo informal, como a leitura de uma poesia em família, é sempre mais ou menos perturbadora. Ser avaliado corresponde a uma situação complexa que reúne várias dimensões (cognitiva, emocional, fisiológica e comportamental). Em termos teóricos, a ansiedade de desempenho face a um teste pode assumir duas formas distintas: como traço ou como estado. Enquanto traço, a ansiedade corresponde a uma predisposição psicológica para reagir com o mesmo nível de ansiedade (alto ou baixo) a um conjunto indiscriminado de situações. Enquanto estado (ou sobrecarga) a ansiedade acontece em situações esporádicas, como um exame particularmente difícil ou para o qual o aluno não se sente devidamente preparado.

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Prevenção do bullying

Ensinar às crianças a lidar com o bullying é importante para toda a vida e pode mudar o seu futuro, uma vez que potencia uma vida mais tranquila, segura e feliz. A autoestima, o respeito mútuo, as necessidades sociais e os direitos fundamentais estão na base do desenvolvimento de ferramentas promotoras da compaixão e do reconhecimento.

O bullying é um fenómeno complexo uma vez que integra em si uma variedade de “motivos” que vão desde a aparência, o modo de vestir, as características físicas ou de personalidade, hábitos, modos de estar, enfim, uma diversidade de razões pelas quais o agressores agem contra as vítimas. É importante salientar que no bullying podemos encontrar agressores, vítimas e testemunhas, sendo que todas elas precisam de ajuda. Os pais são elementos fundamentais nos processos de bullying uma vez que devem estar atentos aos seus filhos de modo a poderem ajuda-los, reconhecendo a situação e não permitir que o seu filho continue a ser vítima de abuso, mas também monitorizando-se para que não sejam eles próprios promotores de comportamentos de bullying por parte dos seus filhos.

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Para quê ir ao psicólogo/a?

Por mais que se fale de saúde mental e da importância da mesma para a manutenção da qualidade de vida do indivíduo, parece haver ainda algum preconceito associado à procura de ajuda, nomeadamente de um psicólogo/a. Ideias pré-concebidas erróneas, podem dificultar a tomada de decisão na hora de procurar apoio, ainda que muito dele se possa necessitar.

Reconhece-se hoje em dia que, entre muitas outras patologias, a perturbação de ansiedade e a perturbação de depressão são as doenças do foro mental mais comuns, com elevada prevalência tanto em crianças e adolescentes, como em adultos e idosos. Em alguns casos, uma intervenção de caráter preventivo, pode fazer a diferença entre desenvolver a doença, por vezes até à cronicidade, ou aprender a lidar com a sintomatologia, impedindo que a doença evolua e se instale, comprometendo a funcionalidade e o bem-estar do indivíduo. Deste modo, é fundamental que o psicólogo/a seja visto como alguém que pode fazer a diferença, na vida de uma pessoa, de uma família ou de uma comunidade.

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