Aprender estudando e aprender brincando

Se é verdade que é na sala de aula que se aprendem conteúdos fundamentais para o desenvolvimento do conhecimento humano, não é menos verdade que fora da sala de aula também se fazem muitas aprendizagens essenciais a uma adequada adaptação do indivíduo ao meio.

Alguns pais apresentam uma grande tendência para se focarem demasiado no desempenho escolar dos seus filhos, sobrevalorizando-o em detrimento de outras aprendizagens. Se é de grande importância que os conteúdos programáticos sejam adquiridos e compreendidos e se vejam refletidos em boas notas, também as aprendizagens feitas em contexto escolar mas fora da sala de aula são importantes. A aprendizagem social, as competências relacionais e as interações com o grupo de pares são de uma enorme riqueza por vezes desvalorizada. Também o tempo do “brincar” é por vezes diminuído, em virtude das inúmeras atividades extracurriculares estruturadas, que sobrecarregam as crianças e as obriga uma rigidez de horários que deixa muito pouco tempo livre para as brincadeiras desestruturadas, descontraídas, criativas e prazerosas.

Brincar é um princípio fundamental consagrado na convenção dos Direitos da Criança (Unicef, 2004). A brincadeira permite à criança descobrir-se e compreender o seu meio envolvente, ao mesmo tempo que aprende a lidar com a afetividade mas também com a frustração, cooperação, competição. Brincar promove o desenvolvimento da coordenação psicomotora, da criatividade e do conhecimento. Brincar ajuda a criança a ser autónoma, responsável pelas suas escolhas e decisões e promove a capacidade de se relacionar com os outros. As atividades desportivas, principalmente em grupo, entre crianças e jovens, supõem toda uma série de benefícios para a saúde física e mental. O exercício físico permite-lhes manterem-se em forma, lutar contra a obesidade, libertar o stresse e melhorar a saúde psicológica e emocional, com repercussões positivas também no seu rendimento escolar. As atividades desportivas ensinam hábitos e valores – as crianças aprendem a comprometer-se, a trabalhar em equipa (na maior parte dos desportos), a superar-se e a aceitar as derrotas. A prática de desporto fomenta a amizade, o companheirismo e o respeito pelas regras e pelos outros. Porém, é importante na altura de escolher a atividade desportiva, que a criança participe no momento da escolha e tomada da decisão. Obrigá-la a fazer um desporto de que não gosta é contraproducente porque se frustrará e não desfrutará.

O papel da família como fonte de aprendizagem é também muito relevante, principalmente porque é geralmente em contexto familiar que as crianças fazem as suas primeiras aquisições como por exemplo, o andar e o falar, mas também onde é aprendida a “linguagem afetiva”. A possibilidade de se facultarem à criança experiencias variadas em contexto familiar traduz-se em efeitos muito positivos no desenvolvimento da mesma. Atividades ao ar livre, como os passeios, a prática de atividade física e a exploração do meio envolvente, promovem o desenvolvimento psicomotor e psicoemocional das crianças, a curiosidade e a criatividade. A possibilidade de oferecer cultura através de livros, música, visitas a museus, galerias de arte, teatro, cinema, viagens… é certamente uma enorme fonte de aprendizagens, num contexto não estruturado de descoberta e prazer, que os pais e cuidadores podem desfrutar em conjunto com as suas crianças, não só daquilo que culturalmente lhes é oferecido mas também da interação sadia que essas partilhas proporcionam.

Contudo, deve ser na família que a criança aprende as regras e modula o seu comportamento. As regras estabelecem limites e oferecem segurança, e servem para conduzir os seus próprios comportamentos e reações, ao mesmo tempo que ajudam a perceber as consequências das ações. As regras e a disciplina são uma ferramenta útil para a convivência social de qualquer tipo, uma vez que têm um papel importante na autorregulação. A disciplina é formativa, deve ser considerada como uma educação positiva e não necessariamente impositiva, mas consciente e refletida, de modo a permitir o equilíbrio e o controlo dos impulsos. As regras devem ser coerentes, consistentes e concertadas entre os vários elementos da família, no sentido de não confundir a criança mas pelo contrário, dar-lhe previsibilidade em relação aos limites impostos. E claro, dar o exemplo é fundamental!

A expressão “viver é aprender” é uma realidade. A vida ensina-nos desde a mais tenra idade e a partir das experiências que cada um de nós tem a oportunidade de vivenciar. Experiências de vida diversificadas alargam os horizontes e são cada uma delas uma fonte de informação, formação e diversão. Por outro lado há a escola, local privilegiado de aquisição de conhecimentos, contexto em que a criança aprende em sala de aula com toda a estrutura e formalidade inerente, mas também os momentos de recreio, através da interação com os pares, em brincadeiras livres, onde poem à prova a sua imaginação e criatividade e aprendem a relacionar-se com os pares.

Brincar é fundamental. Brinque com os seus filhos e todos sairão beneficiados!

Sugestão: https://www.unicef.pt/media/2766/unicef_convenc-a-o_dos_direitos_da_crianca.pdf

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