
Dentro do vasto espectro das perturbações mentais e do desenvolvimento, podem ser várias as perturbações da comunicação. Estas incluem défices na linguagem, na fala e na comunicação.
A fala corresponde à produção expressiva de sons e inclui a articulação, a fluência, a voz e a qualidade da ressonância de um indivíduo. A linguagem tem a ver com a forma, a função e a utilização de um sistema convencional de símbolos – palavras faladas, palavras escritas, linguagem gestual ou imagens, orientadas por regras de comunicação. A comunicação inclui todos os comportamentos verbais e não-verbais, intencionais ou não, que influenciam o comportamento, o pensamento ou as ideias e atitudes de outro indivíduo. Para uma correta avaliação das capacidades de fala, linguagem e comunicação, dever-se-á ter em conta o contexto linguístico e cultural do indivíduo, principalmente tratando-se de pessoas que se desenvolvem em contextos bilingues ou multiculturais.

A perturbação da linguagem pode ser identificada se forem encontradas determinadas características de diagnóstico como, dificuldades na aquisição e uso da linguagem devido a défices na compreensão e produção de vocabulário, estruturação frásica e discurso. Quando os défices na linguagem são evidentes na comunicação falada, escrita ou gestual poderemos estar perante um caso de perturbação da linguagem. A capacidade e uso da linguagem depende tanto das capacidades recetivas como expressivas do indivíduo. A capacidade expressiva refere-se à produção de sinais vocais, verbais ou gestuais e a capacidade recetiva refere-se ao processo de receber e compreender as mensagens linguísticas. Assim sendo, as competências linguísticas têm que ser avaliadas, quer na modalidade expressiva, quer na modalidade recetiva, uma vez que estas podem diferir em termos de gravidade. Por exemplo, a capacidade expressiva pode estar comprometida sem que a capacidade recetiva esteja afetada.

A perturbação da linguagem, por norma, afeta a linguagem e o vocabulário de modo a limitar a capacidade do discurso. Na criança, o surgimento das primeiras palavras e frases é muitas vezes atrasado, o vocabulário é menor, menos variado do que o esperado e as frases mais curtas, menos complexas, com erros de gramática, em especial nos tempos verbais. Os défices da compreensão da linguagem, são frequentemente subestimados, já que a criança pode ter boas competências na utilização do contexto para inferir significados. Podem existir dificuldades para encontrar as palavras, as definições verbais podem apresentar-se pobres e revelar-se difícil a compreensão sobre sinónimos, significados múltiplos ou jogos de palavras adequados á idade e cultura.

Os problemas na memorização de novas palavras e frases podem manifestar-se através da dificuldade em seguir instruções, em repetir sequências de informação verbal ou da dificuldade em recordar sequências sonoras novas, habilidade que é importante para a aquisição de novas palavras. As dificuldades relacionadas com o discurso revelam-se através de uma capacidade reduzida para fornecer informação adequada acerca de um acontecimento, ou a incapacidade de narrar uma história de forma coerente. De um modo geral, as dificuldades da linguagem manifestam-se por capacidades substancial e quantitativamente abaixo das esperadas para a média etária e que interferem de forma significativa no desempenho escolar, ocupacional, relações sociais e afetivas.

O diagnóstico de perturbação da linguagem é feito tendo por base a recolha de dados sobre a história do indivíduo, a observação clínica direta em diferentes contextos (ex. casa e escola) e pela aplicação de testes estandardizados, adaptados e validados que avaliam as capacidades linguísticas e que servem para estimar a gravidade do caso. Uma história familiar de perturbações da linguagem está frequentemente presente e mesmo quando os indivíduos (criança ou adulto) se acomodam à sua linguagem limitada, aparentando timidez ou inibição em falar, podemos estar perante uma perturbação deste tipo. Estas pessoas podem apresentar uma clara preferência por comunicar apenas com os membros da sua família e embora este elemento não seja indicador de diagnóstico de perturbação da linguagem, se for notório e persistente deverá ser alvo de uma avaliação completa.

A aquisição da linguagem é marcada por mudanças desde o início da infância até ao nível adulto de competência, que se adquire durante a adolescência. Estas mudanças ocorrem transversalmente às várias dimensões da linguagem: sons, palavras, gramática, narrativas, textos expositivos e competências de conversação, de forma síncrona e gradual, relacionada com a idade do sujeito. A perturbação da linguagem emerge durante o período de desenvolvimento inicial, no entanto, existem variações consideráveis na aquisição de vocabulário inicial nas combinações de palavras iniciais. As diferenças individuais não são, como único indicador, muito preditivas do prognóstico tardio. A perturbação da linguagem diagnosticada por volta dos 4 anos é habitualmente estável ao longo do tempo e tipicamente persiste na idade adulta, embora o perfil particular de pontos fortes e de défices possa mudar ao longo do desenvolvimento.

Em termos de prognóstico parece haver evidência de que as crianças com défices na linguagem recetiva possam ter pior prognóstico do que as que apresentam défices predominantemente expressivos. As primeiras serão mais resistentes ao tratamento e revelam frequentemente dificuldades ao nível da compreensão da leitura. Quanto aos fatores de risco, destacam-se os genéticos uma vez que este tipo de perturbação é altamente hereditária. É frequente haver uma história familiar de perturbação da fala ou da linguagem. Estas perturbações estão fortemente associadas a outras perturbações do Neurodesenvolvimento, como a perturbação da aprendizagem, perturbação de hiperatividade e défice de atenção ou perturbação do espectro do autismo, entre outras.

Fonte:
Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais – Quinta Edição (DSM-V). American Psychiatric Association.