A Perturbação de Asperger é considerada uma Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) com uma expressão mais ligeira. Na última revisão do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-V), a designação Síndrome de Asperger desapareceu do enquadramento das perturbações do neurodesenvolvimento, no entanto, o conceito continua a ser utilizado.
As crianças com Perturbação de Asperger apresentam dificuldades nas áreas da comunicação, da interação social e do comportamento que caracterizam as PEA. Porém não apresentam atraso significativo na linguagem e mostram um desempenho cognitivo normativo ou mesmo acima da média em algumas dimensões. Esta perturbação é bastante mais frequente do que o autismo clássico e mais prevalente no género masculino. De acordo com a Associação Portuguesa da Síndrome de Asperger (APSA), estima-se que, em Portugal, existam cerca de 40.000 indivíduos com esta condição.
Embora as causas da Perturbação de Asperger sejam desconhecidas, reconhecem-se alguns fatores de risco inespecíficos como a idade parental avançada, baixo peso á nascença, exposição fetal ao Valproato e ainda os fatores genéticos, já presentes à nascença, como acontece nas PEA em geral. Os genes que têm vindo a ser identificados, estão envolvidos no desenvolvimento cerebral, influenciando a neuro transmissão e a forma como é processada e descodificada a informação, não sendo ainda possível a prevenção destas perturbações.
Tipicamente, as manifestações mais frequentes são a dificuldade em manter um contacto visual natural e descontraído, utilizado de forma dinâmica em conjugação com outras formas de comunicação. Também a dificuldade em descodificar mensagens para além do conteúdo verbal explícito, e a sua relação com o tom de voz, a ironia, o humor, a expressão facial e corporal, pode estar presente nestes indivíduos, sendo estes sinais pistas de extrema importância no que diz respeito á inferência sobre o pensamento, as emoções e as intenções do outro.
Os indivíduos com Perturbação de Asperger, também referida como Perturbação do Autismo de Alta Funcionalidade, podem apresentar pouca iniciativa para a comunicação, ou ter uma comunicação muito focada nos seus tópicos de interesse e nos seus pontos de vista, com pouca oportunidade de participação de outras pessoas, pela dificuldade do indivíduo em avaliar o real interesse do outro no tema da conversa, que se pode tornar extensa e aborrecida para o interlocutor, pelos pormenores que podem não interessar à maioria das pessoas. Ao longo do tempo, os desafios das crianças e jovens com Perturbação de Asperger podem interferir no relacionamento e interação com o grupo de pares, no desenvolvimento e manutenção de amizades e posteriormente na sua integração em contexto de trabalho.
Estes indivíduos gostam de rotinas e lidam mal com alterações às mesmas, podendo demonstrar ansiedade e instabilidade comportamental. A sensibilidade é outro aspeto relevante nos indivíduos com Perturbação de Asperger, pois podem apresentar hipersensibilidade a sons que não afetam a maioria das pessoas. É também frequente algum grau de descoordenação motora que afeta a destreza e o envolvimento em algumas atividades. Parece haver também para estes indivíduos, uma maior prevalência de outras patologias do neurodesenvolvimento, como é o caso do Défice de Atenção, Perturbação de Ansiedade ou Depressão, entre outras.
O diagnóstico da Perturbação de Asperger é clínico, ou seja, é baseado na história e observação do comportamento do indivíduo, com recurso a avaliações de desenvolvimento e entrevistas estruturadas. Esta avaliação pode ser complexa e deverá ser cuidadosamente realizada por profissionais com experiência nesta área, para não haver o risco de se diagnosticar indivíduos cujo temperamento ou traços comportamentais possam induzir em erro, não cumprindo os critérios suficientes para o diagnóstico.
Em termos de intervenção psicológica na Perturbação de Asperger, esta deverá apoiar o indivíduo e a família a conseguirem um melhor ajustamento socio emocional, através do ensino e treino de competências sociais, da identificação e compreensão das suas próprias emoções e das dos outros e da promoção de interesses mais diversificados, de forma a melhorar o modo como o indivíduo lida com a mudança e o imprevisto, tendo em vista uma melhor gestão da ansiedade e comportamentos mais adaptativos. Existindo outras condições associadas, como por exemplo o Défice de Atenção, poderá ser recomendada a terapêutica medicamentosa específica, tanto para melhorar o controlo dos sintomas, como para potenciar o sucesso da intervenção psicoterapêutica.
Fontes:
DSM-V – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (Quinta edição) de American Pshychiatric Association.
Loureiro, A.P.S. (2011). Síndrome de Asperger: Estudo de caso 2010/2011. Projeto de Investigação. Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti.
Moreira, R.C.P. (2011). Representações dos docentes do 1º ciclo do ensino básico face a crianças com síndrome de asperger. Tese de Mestrado. Escola Superior de Educação Almeida Garrett.