Os benefícios de Aprender uma Nova Língua

A aprendizagem de uma língua estrangeira constitui um fenómeno complexo que envolve processos cognitivos, afetivos, motivacionais e socioculturais. Para além da sua relevância comunicativa, o domínio de um novo idioma representa uma oportunidade privilegiada para compreender o funcionamento psicológico humano, dado que mobiliza capacidades de atenção, memória, controlo executivo, autorregulação emocional e identidade social. Assim, a psicologia, enquanto disciplina que investiga o comportamento humano e os processos mentais, encontra neste domínio um campo de estudo particularmente rico.

Do ponto de vista cognitivo, aprender uma língua estrangeira implica a ativação simultânea de múltiplos sistemas mentais. A aquisição de vocabulário requer a articulação entre a memória de trabalho, a memória declarativa e os mecanismos de consolidação a longo prazo. Alguns estudos mostram que saber falar duas línguas está associado a melhorias no controlo executivo, nomeadamente na flexibilidade cognitiva e na capacidade de alternar entre tarefas (Bialystok, 2011). Este efeito tem sido interpretado como consequência da necessidade permanente de monitorizar, inibir e selecionar representações linguísticas concorrentes, o que treina o sistema atencional.

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Comunicação Eficaz nas Férias: Prevenção de Conflitos Conjugais

As férias de verão, tradicionalmente encaradas como um período de descanso e convívio familiar, podem paradoxalmente tornar-se fonte de tensão e conflito nas relações conjugais. Embora a expectativa de qualidade de tempo juntos seja elevada, a experiência real pode revelar vulnerabilidades relacionais, exacerbadas por alterações bruscas de rotina, aumento de tempo em coabitação e diferenças nas expectativas pessoais. A psicologia cognitivo-comportamental (PCC), enquanto modelo terapêutico amplamente validado cientificamente, oferece uma lente útil para a compreensão estas dificuldades e propõe estratégias eficazes de intervenção.

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Desafios da Parentalidade na Era Digital

Enquanto psicóloga, tenho recebido com frequência pais que procuram ajuda por sentirem que perderam o controlo sobre os hábitos digitais dos seus filhos adolescentes. Jogos online, redes sociais, horas a fio em frente ao telemóvel ou computador… São queixas recorrentes. Muitos destes pais chegam esgotados, angustiados, com um sentimento de impotência e, não raras vezes, com a esperança de que a psicóloga tenha “a solução”. “Ele não me ouve, talvez ouça alguém de fora”, “Já tentei tudo, diga-lhe a senhora o que fazer”, “Ela só vive para o telemóvel, já não sei o que fazer”. Estas frases não são apenas desabafos, são gritos silenciosos de pais que estão em sofrimento, por vezes confusos sobre o seu papel e profundamente preocupados com o futuro dos seus filhos.

É importante, antes de mais, reconhecer este sofrimento. A parentalidade na era digital coloca desafios para os quais poucos adultos estavam preparados. A velocidade com que a tecnologia evolui, aliada à crescente complexidade das relações online, pode criar um verdadeiro fosso geracional. Muitos pais sentem que perderam a autoridade ou a capacidade de comunicar com os filhos de forma eficaz. Neste cenário, não é de estranhar que depositem na figura do psicólogo uma série de expectativas, por vezes irrealistas, na esperança de encontrar respostas rápidas e eficazes.

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Sexualidade no Contexto da Oncologia Pulmonar: Uma Dimensão Ignorada

A sexualidade continua a ser uma dimensão frequentemente desconsiderada na prática clínica em oncologia, particularmente no caso do cancro do pulmão. Esta omissão resulta de múltiplos fatores, como a escassa formação dos profissionais de saúde, o constrangimento cultural associado ao tema e os constrangimentos logísticos inerentes ao funcionamento das instituições de saúde. Esta realidade perpetua um ciclo de silêncio e esquecimento que compromete a abordagem integral do doente oncológico (Bober & Varela, 2012).

O cancro do pulmão, historicamente associado a um prognóstico reservado, é muitas vezes encarado como uma condição clínica onde a sexualidade não constitui uma prioridade. Esta perceção tende a ser reforçada nos casos de doentes mais idosos, onde se assume, erradamente, que a vida sexual deixou de ter lugar ou relevância. Tal estereótipo reflete um preconceito etário, que ignora a individualidade e os direitos sexuais de cada pessoa, independentemente da idade ou diagnóstico (Flynn et al., 2012).

Do ponto de vista fisiológico, os tratamentos oncológicos — quimioterapia, radioterapia e cirurgia — podem ter efeitos adversos diretos na função sexual. Os doentes experienciam frequentemente fadiga extrema, dor torácica, dispneia, magreza significativa e alterações da imagem corporal. Estas manifestações físicas estão muitas vezes associadas a alterações hormonais e a um compromisso da funcionalidade sexual: disfunção eréctil, secura vaginal, anorgasmia ou redução do desejo sexual são fenómenos comuns (Flynn et al., 2012).

No plano psicológico, o impacto emocional do diagnóstico de cancro do pulmão é profundo. A ativação do sistema límbico, particularmente do centro do medo, leva a respostas emocionais intensas — medo da morte, raiva, tristeza, sentimento de injustiça. Estas emoções consomem os recursos emocionais do doente, comprometendo a disponibilidade para o contacto íntimo e reduzindo o desejo sexual (Park et al., 2009). O foco no combate à doença relega a sexualidade para um plano secundário, numa tentativa de sobrevivência que, muitas vezes, deixa de fora o prazer, a intimidade e a conexão com o outro.

A abordagem da sexualidade deve ser feita com sensibilidade e em tempo adequado. A primeira consulta, normalmente centrada no diagnóstico e proposta terapêutica, é intensa e emocionalmente sobrecarregada. Não será, por isso, o momento mais apropriado para introduzir o tema. Contudo, à medida que o processo terapêutico se consolida e se discutem efeitos secundários e aspetos da vida quotidiana, pode e deve ser aberta a porta à discussão da sexualidade — de forma natural, sem imposição, mas também sem tabu (Bober & Varela, 2012).

É fundamental que os profissionais de saúde reconheçam que a sexualidade é uma necessidade humana básica. Nos Institutos Portugueses de Oncologia (Lisboa, Porto e Coimbra), existem consultas especializadas de sexologia oncológica, de natureza multidisciplinar, onde se articulam conhecimentos de oncologia, ginecologia, urologia, psicologia clínica, fisioterapia, enfermagem e endocrinologia. Estas equipas têm como objetivo ajudar o doente e o seu parceiro (se tiver) a lidar com as alterações na vivência da sexualidade e desenvolver estratégias de adaptação e bem-estar.

Na primeira consulta de oncolo-sexologia, o foco é compreender a forma como a pessoa vive e conceptualiza a sua sexualidade — penetrativa ou não, centrada na intimidade, na identidade ou na reciprocidade. Alinhar a linguagem entre profissional e utente, compreender as expectativas e aplicar instrumentos de avaliação estandardizados são elementos cruciais para um acompanhamento eficaz (Flynn et al., 2012). Importa distinguir dificuldades pré-existentes daquelas que emergem após o diagnóstico ou tratamento e identificar possíveis bloqueios relacionados com a autoimagem, o medo, a dor ou a vergonha.

As intervenções terapêuticas podem ser farmacológicas — com a utilização, quando clinicamente indicada, de terapêutica hormonal (estrogénios, testosterona), lubrificantes, hidratantes, fármacos para disfunção eréctil ou analgésicos tópicos e sistémicos — ou não farmacológicas, como o aconselhamento sexual, técnicas de relaxamento, mindfulness, meditação e treino de autocompaixão (Brotto & Yule, 2017).

A comunicação entre os membros do casal é frequentemente uma área crítica. A ausência de diálogo pode originar interpretações erradas sobre a falta de interesse ou desejo, gerando frustração e afastamento. Uma comunicação aberta e empática permite clarificar expectativas e realinhar os comportamentos afetivos e sexuais, promovendo um reencontro na intimidade. A vivência sexual pode, nesta fase, assumir formas alternativas, valorizando o toque, a presença, a sensualidade e o prazer, para além do coito e do orgasmo (Brotto & Yule, 2017).

É também necessário desconstruir mitos profundamente enraizados: o sexo não tem de ser penetrativo, não tem de culminar em orgasmo, e a pessoa com cancro não está “frágil demais” para experienciar prazer. O humor, a leveza e a curiosidade são ferramentas terapêuticas subvalorizadas, mas muito eficazes na promoção de um reencontro com o corpo e com o outro.

Em suma, a sexualidade no contexto da oncologia pulmonar deve deixar de ser um tabu. É urgente capacitar os profissionais de saúde para abordar o tema com naturalidade, empatia e competência. A intervenção deve ser precoce, contínua e centrada na pessoa, respeitando as suas necessidades, ritmos e valores. Ignorar a sexualidade é falhar na resposta aos desafios humanos que a doença oncológica impõe.


Referências bibliográficas

  1. Bober, S. L., & Varela, V. S. (2012). Sexuality in adult cancer survivors: challenges and interventions. Journal of Clinical Oncology, 30(30), 3712–3719. https://doi.org/10.1200/JCO.2011.39.7372
  2. Flynn, K. E., et al. (2012). Sexual functioning along the cancer continuum: focus group results from the Patient-Reported Outcomes Measurement Information System (PROMIS). Psycho-Oncology, 21(4), 400–407. https://doi.org/10.1002/pon.1890
  3. Park, E. R., et al. (2009). Addressing sexual problems in cancer care: A pilot intervention for breast cancer survivors. Patient Education and Counseling, 77(3), 372–378. https://doi.org/10.1016/j.pec.2009.09.011
  4. Brotto, L. A., & Yule, M. A. (2017). Asexuality: Sexual orientation, sexual desire, and sexual arousal. Archives of Sexual Behavior, 46(3), 619–627. https://doi.org/10.1007/s10508-016-0770-x

    A Importância das Amizades para a Saúde Mental

    As relações de amizade desempenham um papel fundamental na vida humana, sendo das conexões sociais mais significativas para o bem-estar emocional e psicológico. A psicologia estuda essas relações como um pilar essencial para a saúde mental, podendo influenciar desde a autoestima até a resiliência emocional.

    De forma distinta dos laços familiares ou românticos, as amizades são baseadas na escolha voluntária e em interesses mútuos, o que lhes confere um caráter único e flexível. Um dos principais benefícios das amizades é o suporte emocional. Os amigos ajudam a aliviar o stresse, oferecendo compreensão e empatia. Esse suporte é particularmente importante em momentos de crise, quando o indivíduo se pode sentir mais vulnerável. A sensação de ser ouvido e compreendido num ambiente sem julgamentos, fortalece a segurança emocional. Estudos mostram que as amizades de qualidade estão associadas a níveis mais baixos de depressão e ansiedade, para além de uma maior satisfação com a vida.

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    Bem-estar psicológico no trabalho: o impacto do regresso pós-férias

    O bem-estar psicológico é um estado de equilíbrio emocional, mental e social que permite ao indivíduo lidar eficazmente com as exigências da vida diária. Esse estado de saúde mental não se resume apenas à ausência de doenças, mas envolve uma sensação de satisfação, resiliência e realização pessoal. No contexto do trabalho, o bem-estar psicológico é crucial para garantir um desempenho eficaz, boas relações interpessoais e, em última análise, uma vida profissional satisfatória.

    O regresso ao trabalho após um período de férias pode ser um momento crítico para o bem-estar psicológico dos trabalhadores. As férias desempenham um papel fundamental na restauração do equilíbrio mental e físico, permitindo uma pausa necessária das pressões e rotinas diárias. No entanto, o regresso ao trabalho, embora muitas vezes desejado, pode também trazer uma série de desafios emocionais e psicológicos.

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    Psicologia da Música: Impacto na Saúde Mental e Emocional

    A interseção da psicologia com a música oferece um campo rico e fascinante, para explorar o impacto que esta tem sobre a mente e o comportamento humano. A psicologia da música estuda o modo como os diferentes aspectos musicais: ritmo, melodia e harmonia, influenciam as nossas emoções, a cognição e a saúde mental. Este campo revela como a música não é apenas uma forma de entretenimento, mas também uma ferramenta poderosa na promoção do bem-estar psicológico e emocional.

    A música tem impacto no cérebro de formas complexas e variadas. Quando ouvimos música, são ativadas diferentes áreas do cérebro, incluindo as áreas associadas ao prazer, á memória, e á emoção. Estudos de neurociência demonstraram que a música pode desencadear a libertação de dopamina, um neurotransmissor associado à sensação de prazer. Isso explica por que é que a música nos pode fazer sentir eufóricos, relaxados ou até mesmo nostálgicos, dependendo do tipo de música que estamos a ouvir.

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    O possível efeito terapêutico da Banda Desenhada

    A arte em geral, e a Banda Desenhada em particular, têm várias funcionalidades, entre elas a diversão, a educação, a libertação de tensões e até mesmo a catarse. Será correto afirmar que a Banda Desenhada, à semelhança de outras formas de arte ou de literatura, tem um poder terapêutico sobre o seu criador e sobre quem a aprecia?

    A Banda Desenhada, designada por alguns como “a 9ª arte” e também conhecida como “arte sequencial”, é uma forma de arte que conjuga texto e imagens, com o objetivo de narrar histórias dos mais variados géneros, sendo estas em geral, publicadas no formato de revistas, livros, ou em tiras publicadas em revistas e jornais. O objetivo do artista, consiste essencialmente na transmissão de uma mensagem que vai ser percepcionada pelo leitor, através da descodificação e interpretação de estímulos visuais. Com base em conhecimentos anteriores e envolvendo vários recursos cognitivos, o leitor vai tomar consciência, através da emoção e dos efeitos que lhe provoca a apreciação da obra, sendo que a sua expectativa e o contexto irão também determinar o modo como este a vai interpretar.

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    Comunicar com o adolescente

    A adolescência é uma etapa do desenvolvimento tipicamente atribulada, em que os jovens precisam de lidar com as rápidas mudanças a nível físico, e com um mundo interior repleto de emoções intensas. Os adolescentes tendem por vezes a isolar-se e a evitar a comunicação com os adultos. Como podemos então nós, os adultos, lidar com as dificuldades na comunicação com os adolescentes?

    Em primeiro lugar, podemos evitar colocar demasiadas questões aos adolescentes. Por vezes, na ânsia de saber o que lhes vai no pensamento, e com a melhor das intenções, temos tendência a questiona-los muito. O resultado é que quando fazemos muitas perguntas para tentarmos “absorver” o seu mundo interno, podemos fazer com que o adolescente não se sinta compreendido e se resguarde nas respostas. Nem sempre os adolescentes têm resposta para as perguntas dos adultos, uma vez que nem eles próprios por vezes têm essas respostas para si mesmos. Assim, devemos perguntar menos mas disponibilizarmo-nos para os escutar, deixar fluir a conversa, evitando uma atitude crítica e julgadora. Mostrar compreensão e promover momentos onde haja espaço para revelações e partilha.

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