
A Perturbação da Personalidade Esquizoide expressa-se essencialmente por três características: a falta de interesse nas relações sociais, a tendência para o isolamento e a frieza emocional.
Apesar da semelhança semântica e de alguns sintomas comuns (como o embotamento emocional e o isolamento), a Perturbação da Personalidade Esquizoide não é o mesmo que esquizofrenia. A esquizofrenia caracteriza-se sobretudo, por uma fragmentação da estrutura básica dos processos de pensamento, acompanhada pela dificuldade em estabelecer a distinção entre experiências internas e externas, como é o caso dos sintomas psicóticos de delírio ou alucinação. O termo esquizoide foi criado por Eugen Bleuer, no início do século XX, para definir uma tendência da pessoa para dirigir a sua atenção para o mundo interior, fechando-se ao mundo exterior e á experiência.

A característica central que define esta perturbação da personalidade é o padrão evasivo de distanciamento dos relacionamentos sociais, a par com uma diminuta expressão emocional em termos interpessoais. Este padrão começa tipicamente no início da idade adulta e revela-se nos diversos contextos em que a pessoa se move. Os indivíduos com personalidade esquizoide parecem não ter um desejo de intimidade, preferindo passar o tempo sozinhos em detrimento de estar com outras pessoas, mesmo no contexto familiar. As atividades escolhidas são predominantemente solitárias e mesmo quando se tratam de momentos passados com outras pessoas, a interação é diminuta. Deste modo, identifica-se uma preferência por tarefas mecânicas ou abstratas, assim como uma satisfação reduzida com experiências sensoriais

Um indivíduo com Perturbação da Personalidade Esquizoide parece ser igualmente indiferente às críticas ou elogios. Pode parecer lento e letárgico, com um discurso monocórdico, tendo tendencialmente um humor negativo. Esta perturbação da personalidade pode emergir durante a infância ou adolescência, sob a forma de solidão, fraco relacionamento com os pares e baixo rendimento escolar, o que pode conduzir a situações em que estas crianças/adolescentes sejam vistas como diferentes e como alvos de bullying. A Perturbação da Personalidade Esquizoide é diagnosticada com uma frequência levemente superior em sujeitos do sexo masculino. Pode ainda ter uma prevalência maior entre os familiares de indivíduos com Esquizofrenia ou Perturbação da Personalidade Esquizotípica.

Os critérios de diagnóstico desta perturbação são a existência de um padrão de distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão emocional em contextos interpessoais, que começa no início da idade adulta e está presente numa variedade de contextos, indicado pelo menos por quatro dos seguintes critérios: não deseja nem retira prazer de relações próximas, incluindo fazer parte de uma família; escolhe habitualmente atividades solitárias; manifesta pouco ou nenhum interesse em ter experiências sexuais com outra pessoa; tem prazer em poucas atividades, ou em nenhuma; não tem amigos íntimos ou confidentes sem ser familiares em primeiro grau; mostra-se indiferente a elogios ou críticas dos outros; demonstra frieza emocional, distanciamento ou afetividade embotada.

A psicoterapia, tendo uma forte natureza interpessoal, a partir da qual se estabelece a relação terapêutica, pode inicialmente ser difícil de aceitar por parte dos indivíduos com Perturbação da Personalidade Esquizotípica. Estas pessoas poderão ter algumas dificuldades na colaboração e relação com o psicólogo. A psicoterapia poderá trazer sentimentos ambíguos, havendo o receio por parte do cliente de que a mesma o faça descobrir mais falhas na sua personalidade e aumentar o seu sentido de desadequação. Poderá ainda ser igualmente, difícil definir objetivos terapêuticos de mudança e colaboração. Porém, com validação por parte do terapeuta, será importante o foco da atenção na idiossincrasia do problema, isto é, naquilo que preocupa o cliente num determinado assunto, que será relevante clarificar. Será difícil para o psicólogo, por exemplo, aceitar objetivos terapêuticos que não incluam a integração social e que não vão de encontro destas crenças. Por exemplo, quanto à temática de “não ter amigos”, o psicólogo poderá considerar que seria importante para o cliente ter um amigo ou dois, quando para este, o importante neste tema, poderá ser que a família não esteja sempre a dizer-lhe que devia ter amigos.

A intervenção psicológica com clientes com este tipo de personalidade, cujas crenças e perceções podem contrastar significativamente com as do psicólogo, poderá trazer algumas dificuldades e é sem dúvida um desafio. O cliente poderá ter crenças muito enraizadas como: “as pessoas são cruéis”; “as pessoas são frias”; “as pessoas apenas deverão falar se houver alguma coisa para falar”. Do ponto de vista terapêutico, muito mais do que tentar iniciar processos de mudança comportamental ou de reestruturação cognitiva, é conduzir a intervenção no sentido do estabelecimento de uma relação de empatia e confiança, fortalecida pela sua forma centrada no cliente. O que se pretende é lentamente ir ganhando a confiança do cliente ao mesmo tempo que este adquire segurança e aos poucos vai expressando as suas necessidades e emoções, com o objetivo ir conduzindo a intervenção no sentido da diminuição o seu défice funcional e aumento da sua adaptação aos diversos contextos em que se move.

Fonte:
Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais – Quinta Edição (DSM-V). American Psychiatric Association.