A Personalidade Paranoide caracteriza-se por uma forte tendência do indivíduo para interpretar as intenções e ações dos outros como ameaçadoras, sendo difícil adotar outras explicações alternativas para os seus comportamentos. Assim, a suspeição e a insegurança generalizada em relação aos outros, são as características centrais que interferem no modo de pensar, sentir, e consequentemente de agir, dos sujeitos com Perturbação de Personalidade Paranoide.
Perceber a etiologia acerca do desenvolvimento de traços paranoides na personalidade é particularmente desafiador, tendo em conta a dificuldade em determinar a exatidão da informação relativa à sua história de vida. Ainda assim, são interessantes as hipóteses colocadas por alguns investigadores. Sugere-se que a postura associada aos traços de personalidade paranoide deverá ter sido adaptativa em algum momento no passado, numa situação verdadeiramente perigosa, em que as pessoas que rodeavam o individuo se mostravam claramente hostis, exploradoras e enganadoras. Talvez este tenha crescido numa família na qual aprendeu que a vigilância era absolutamente fulcral para sobreviver, que o mundo era um lugar perigoso e que as pessoas eram egoístas. Talvez ainda nas interações precoces com as figuras cuidadoras tenha aprendido que deveria ter cuidado para não cometer erros, era diferente dos outros ou precisaria de ser duro e defensivo para se proteger. Tais ideias poderão ter conduzido a uma elevada preocupação com a avaliação externa, bem como ao desenvolvimento de um sentimento de obrigação em relação às expectativas parentais. Consequentemente, poderá sentir-se não só humilhado, como passar muito tempo a pensar sobre o seu isolamento e maus tratos percebidos. Acaba por concluir que está a ser perseguido porque é alguém especial. Dados adicionais apontam também para a contribuição mútua e interativa do papel da genética.
Outros teóricos defendem que a pessoa poderá tender a atribuir aos outros o que existe verdadeiramente em si, de modo a experienciar menos sofrimento, o qual seria resultado de adotar uma visão mais realista das suas fragilidades e conflitos internos. Além disso, questiona-se que os traços tipicamente paranoides constituam um conjunto de estratégias que visam minimizar ou impedir a vergonha e humilhação. Talvez a pessoa se sinta inadequada, imperfeita e insuficiente. Compreensivelmente, é demasiado intolerável aceitar, tolerar e conseguir gerir tais emoções e crenças. Assim, a pessoa procura evitar a culpa e consequentes sentimentos de vergonha e humilhação ao culpabilizar as outras pessoas pelos acontecimentos, afirmando ser maltratado.
A intervenção psicológica a estes indivíduos consiste no acompanhamento individual, sendo a melhor forma de se criar um espaço em que o individuo se possa sentir seguro, compreendido e ajudado na busca de um maior alívio para as suas dificuldades. Tudo isto para que possa adquirir maiores graus de liberdade e bem-estar na sua vida ao mesmo tempo que aprende a gerir, reduzir ou estabilizar as suas vulnerabilidades e fragilidades. Nesse espaço, pretende-se por um lado aumentar a consciência sobre padrões de pensamento, comportamento e emoção menos adaptativos, construindo novas formas de pensar, sentir e agir mais satisfatórias, por outro lado compreender a sintomatologia descrita à luz de acontecimentos da sua história de vida passada, presente e futura e aumentar a sensação de autoeficácia, confiança e aceitação.
É igualmente importante reavaliar os pressupostos pré-estabelecidos que contribuem para a desconfiança e suspeição presente, desenvolvendo explicações alternativas e realistas acerca das intenções e ações das outras pessoas, bem como reconhecer, registar e testar padrões de pensamento e crenças e promover a confiança, abertura e relaxamento nas interações sociais, diminuindo a suspeição, vigilância e defensividade. De referir ainda a importância de promover o aumento da satisfação nas relações com os outros no sentido de reduzir o isolamento social. Este é um trabalho prático, que poderá nalguns momentos envolver familiares e amigos se isso for vantajoso. Os objetivos enunciados são apenas orientadores, dado que todo o processo de ajuda é centrado no paciente, nas suas características e na sua forma de ver o mundo e pretende-se que tenha impacto não só no seu presente, como também no seu futuro.
Fonte: DSM-V – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (Quinta edição) de American Pshychiatric Association.