A Perturbação da Personalidade Borderline

A perturbação da personalidade borderline (PPB) tem sido objeto de estudo e debate na psicologia clínica nas últimas décadas. Caracterizada pela instabilidade emocional, relações interpessoais intensas e conflituosas e uma identidade instável, esta perturbação apresenta desafios significativos tanto para os indivíduos que a experienciam como para os profissionais de saúde mental que os acompanham (American Psychiatric Association, 2013).

Do ponto de vista clínico, a PPB manifesta-se por meio de um padrão crónico de instabilidade emocional. Indivíduos com esta perturbação tendem a experienciar emoções intensas e de curta duração, que se alteram rapidamente, muitas vezes sendo desencadeadas por acontecimentos interpessoais ou stresse ambiental. Este fenómeno tem sido associado a níveis elevados de reatividade do sistema límbico, o que pode contribuir para respostas emocionais exacerbadas, numa tentativa de regulação afetiva que muitas vezes falha. Nesta perspetiva, os modelos neurobiológicos aliados a abordagens psicodinâmicas permitem compreender melhor os mecanismos subjacentes à desregulação emocional que caracteriza o transtorno (Linehan, 1993).

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A Influência do Verão no Humor e na Saúde Emocional

A relação entre o sol, o verão e o bem-estar psicológico tem sido objeto de crescente interesse na área da psicologia. À medida que os dias se tornam mais longos, as temperaturas mais amenas e a exposição à luz solar mais frequente, muitas pessoas relatam melhorias significativas no humor, na energia e na motivação. Esta ligação entre o clima e o estado mental não é apenas uma percepção popular, está suportada por diversas evidências científicas que demonstram os efeitos positivos do sol e da estação estival na saúde mental.

Em primeiro lugar, a exposição à luz solar promove a produção de vitamina D, essencial para o bom funcionamento do organismo e associada a uma menor prevalência de sintomas depressivos. A deficiência desta vitamina tem sido correlacionada com um aumento do risco de depressão, particularmente nos meses de inverno, quando a incidência de luz natural é mais reduzida. O verão, ao proporcionar uma maior quantidade de luz solar direta, contribui assim para a regulação de processos fisiológicos que influenciam o humor (Holick, 2007).

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A Importância das Pausas para o Bem-Estar

Nesta altura do ano, é fácil cair na ilusão de que duas ou três semanas de férias serão suficientes para resolver tudo: a ansiedade acumulada ao longo dos meses, as noites mal dormidas, o stresse constante e o cansaço emocional que teima em não desaparecer. E, de facto, durante alguns dias, parece mesmo resultar. O corpo repousa, a mente desacelera, e o tempo ganha outro ritmo.

Contudo, não tarda até que tudo retorne ao ponto de partida. As preocupações não desaparecem com a distância, apenas ficam em “suspenso”. Ao voltar, continuam lá, intactas, à espera de serem enfrentadas, resolvidas. E assim, repete-se o ciclo: exaustão, pausa momentânea, leve alívio, e regressamos à exaustão.

o, não tarda até que tudo retorne ao ponto de partida. As preocupações não desaparecem com a distância, apenas ficam em “suspenso”. Ao voltar, continuam lá, intactas, à espera de serem enfrentadas, resolvidas. E assim, repete-se o ciclo: exaustão, pausa momentânea, leve alívio, e regressamos à exaustão.

Essas pausas não precisam de ser grandiosas. Pelo contrário, podem (e devem) ser simples e acessíveis: por exemplo, uma caminhada sem distrações, uma refeição sem ecrãs, um momento de silêncio genuinamente vivido, uma pequena “escapadinha” durante o ano, escrever livremente sobre o que se sente, experimentar algo novo, ou simplesmente parar. Respirar. Estar presente. Estar em atenção plena, vários momentos do dia-a-dia.

Numa rotina sobrecarregada de estímulos e exigências, até uma breve pausa pode parecer invulgar. Contudo, são precisamente esses momentos de presença e de silêncio que permitem que o ruído interno abrande, que a mente se reorganize, que surja maior clareza, foco e capacidade de resposta ponderada, em vez de mera reação instintiva ou impulsiva.

As férias, por si só, não são suficientes para sustentar o equilíbrio emocional ao longo do ano. São um ponto de apoio, sim, mas não substituem a necessidade de espaço interior constante. Mais do que esperar por férias para descansar, é urgente cultivar espaços de bem-estar no quotidiano. Criar tempo para si, ainda que breve, é um gesto de autocuidado que pode fazer toda a diferença — todos os dias.

Cuide de si, sempre, adquira hábitos diários de autocuidado e viva melhor!

Sexualidade no Contexto da Oncologia Pulmonar: Uma Dimensão Ignorada

A sexualidade continua a ser uma dimensão frequentemente desconsiderada na prática clínica em oncologia, particularmente no caso do cancro do pulmão. Esta omissão resulta de múltiplos fatores, como a escassa formação dos profissionais de saúde, o constrangimento cultural associado ao tema e os constrangimentos logísticos inerentes ao funcionamento das instituições de saúde. Esta realidade perpetua um ciclo de silêncio e esquecimento que compromete a abordagem integral do doente oncológico (Bober & Varela, 2012).

O cancro do pulmão, historicamente associado a um prognóstico reservado, é muitas vezes encarado como uma condição clínica onde a sexualidade não constitui uma prioridade. Esta perceção tende a ser reforçada nos casos de doentes mais idosos, onde se assume, erradamente, que a vida sexual deixou de ter lugar ou relevância. Tal estereótipo reflete um preconceito etário, que ignora a individualidade e os direitos sexuais de cada pessoa, independentemente da idade ou diagnóstico (Flynn et al., 2012).

Do ponto de vista fisiológico, os tratamentos oncológicos — quimioterapia, radioterapia e cirurgia — podem ter efeitos adversos diretos na função sexual. Os doentes experienciam frequentemente fadiga extrema, dor torácica, dispneia, magreza significativa e alterações da imagem corporal. Estas manifestações físicas estão muitas vezes associadas a alterações hormonais e a um compromisso da funcionalidade sexual: disfunção eréctil, secura vaginal, anorgasmia ou redução do desejo sexual são fenómenos comuns (Flynn et al., 2012).

No plano psicológico, o impacto emocional do diagnóstico de cancro do pulmão é profundo. A ativação do sistema límbico, particularmente do centro do medo, leva a respostas emocionais intensas — medo da morte, raiva, tristeza, sentimento de injustiça. Estas emoções consomem os recursos emocionais do doente, comprometendo a disponibilidade para o contacto íntimo e reduzindo o desejo sexual (Park et al., 2009). O foco no combate à doença relega a sexualidade para um plano secundário, numa tentativa de sobrevivência que, muitas vezes, deixa de fora o prazer, a intimidade e a conexão com o outro.

A abordagem da sexualidade deve ser feita com sensibilidade e em tempo adequado. A primeira consulta, normalmente centrada no diagnóstico e proposta terapêutica, é intensa e emocionalmente sobrecarregada. Não será, por isso, o momento mais apropriado para introduzir o tema. Contudo, à medida que o processo terapêutico se consolida e se discutem efeitos secundários e aspetos da vida quotidiana, pode e deve ser aberta a porta à discussão da sexualidade — de forma natural, sem imposição, mas também sem tabu (Bober & Varela, 2012).

É fundamental que os profissionais de saúde reconheçam que a sexualidade é uma necessidade humana básica. Nos Institutos Portugueses de Oncologia (Lisboa, Porto e Coimbra), existem consultas especializadas de sexologia oncológica, de natureza multidisciplinar, onde se articulam conhecimentos de oncologia, ginecologia, urologia, psicologia clínica, fisioterapia, enfermagem e endocrinologia. Estas equipas têm como objetivo ajudar o doente e o seu parceiro (se tiver) a lidar com as alterações na vivência da sexualidade e desenvolver estratégias de adaptação e bem-estar.

Na primeira consulta de oncolo-sexologia, o foco é compreender a forma como a pessoa vive e conceptualiza a sua sexualidade — penetrativa ou não, centrada na intimidade, na identidade ou na reciprocidade. Alinhar a linguagem entre profissional e utente, compreender as expectativas e aplicar instrumentos de avaliação estandardizados são elementos cruciais para um acompanhamento eficaz (Flynn et al., 2012). Importa distinguir dificuldades pré-existentes daquelas que emergem após o diagnóstico ou tratamento e identificar possíveis bloqueios relacionados com a autoimagem, o medo, a dor ou a vergonha.

As intervenções terapêuticas podem ser farmacológicas — com a utilização, quando clinicamente indicada, de terapêutica hormonal (estrogénios, testosterona), lubrificantes, hidratantes, fármacos para disfunção eréctil ou analgésicos tópicos e sistémicos — ou não farmacológicas, como o aconselhamento sexual, técnicas de relaxamento, mindfulness, meditação e treino de autocompaixão (Brotto & Yule, 2017).

A comunicação entre os membros do casal é frequentemente uma área crítica. A ausência de diálogo pode originar interpretações erradas sobre a falta de interesse ou desejo, gerando frustração e afastamento. Uma comunicação aberta e empática permite clarificar expectativas e realinhar os comportamentos afetivos e sexuais, promovendo um reencontro na intimidade. A vivência sexual pode, nesta fase, assumir formas alternativas, valorizando o toque, a presença, a sensualidade e o prazer, para além do coito e do orgasmo (Brotto & Yule, 2017).

É também necessário desconstruir mitos profundamente enraizados: o sexo não tem de ser penetrativo, não tem de culminar em orgasmo, e a pessoa com cancro não está “frágil demais” para experienciar prazer. O humor, a leveza e a curiosidade são ferramentas terapêuticas subvalorizadas, mas muito eficazes na promoção de um reencontro com o corpo e com o outro.

Em suma, a sexualidade no contexto da oncologia pulmonar deve deixar de ser um tabu. É urgente capacitar os profissionais de saúde para abordar o tema com naturalidade, empatia e competência. A intervenção deve ser precoce, contínua e centrada na pessoa, respeitando as suas necessidades, ritmos e valores. Ignorar a sexualidade é falhar na resposta aos desafios humanos que a doença oncológica impõe.


Referências bibliográficas

  1. Bober, S. L., & Varela, V. S. (2012). Sexuality in adult cancer survivors: challenges and interventions. Journal of Clinical Oncology, 30(30), 3712–3719. https://doi.org/10.1200/JCO.2011.39.7372
  2. Flynn, K. E., et al. (2012). Sexual functioning along the cancer continuum: focus group results from the Patient-Reported Outcomes Measurement Information System (PROMIS). Psycho-Oncology, 21(4), 400–407. https://doi.org/10.1002/pon.1890
  3. Park, E. R., et al. (2009). Addressing sexual problems in cancer care: A pilot intervention for breast cancer survivors. Patient Education and Counseling, 77(3), 372–378. https://doi.org/10.1016/j.pec.2009.09.011
  4. Brotto, L. A., & Yule, M. A. (2017). Asexuality: Sexual orientation, sexual desire, and sexual arousal. Archives of Sexual Behavior, 46(3), 619–627. https://doi.org/10.1007/s10508-016-0770-x

    Os Desafios das Férias Escolares para as Famílias

    As férias escolares representam, para muitas crianças, um período de alívio, descanso e liberdade. No entanto, este tempo de pausa do calendário letivo nem sempre é vivido com a mesma leveza pelas famílias. Para os pais e cuidadores, especialmente aqueles com responsabilidades profissionais exigentes ou com poucos recursos, as férias escolares podem representar um verdadeiro desafio logístico, emocional e financeiro. Nesta fase, é importante refletir sobre os impactos psicológicos desta realidade, tanto para os adultos como para os próprios filhos.

    Do ponto de vista das crianças, as férias são geralmente associadas a sensações positivas: ausência de rotinas rígidas, tempo livre para brincar, possibilidade de viajar ou visitar familiares. Contudo, nem todas as crianças vivem este período da mesma forma. Em famílias onde os recursos são limitados, a falta de acesso a atividades estruturadas, como colónias de férias ou campos de verão, pode resultar em isolamento social, sedentarismo e até aumento de conflitos familiares. A ausência de estímulos regulares também pode ter impacto no desenvolvimento cognitivo, especialmente em crianças mais vulneráveis ou com necessidades educativas especiais (Silva & Moura, 2020).

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    Saúde Mental e Académica: A Necessidade de Apoio Psicológico aos Jovens Universitários

    À medida que o final do ano letivo se aproxima, muitos estudantes académicos em Portugal enfrentam um aumento significativo de stresse, ansiedade e exaustão emocional. A pressão das avaliações, a incerteza quanto ao futuro e a sobrecarga de tarefas acumuladas ao longo do semestre tornam esta fase particularmente exigente. Neste contexto, a procura por apoio psicológico tem-se tornado não só mais frequente, mas também mais urgente e necessária.

    Não é novidade que a saúde mental dos estudantes universitários se encontra fragilizada. Um estudo realizado pelo Observatório Nacional da Saúde Mental Estudantil (ONSAME) em 2023 revelou que cerca de 63% dos estudantes inquiridos referiram sentir níveis elevados de ansiedade durante o período de exames, e 41% admitiram ter considerado procurar ajuda psicológica, embora muitos não o tenham feito devido a estigmas ou à falta de recursos acessíveis.

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    Integração entre Psicologia Clínica e Psiquiatria: Delimitações, Confluências e Implicações Clínicas

    Resumo

    A presente reflexão tem como objetivo explorar a distinção epistemológica e metodológica entre psicologia clínica e psiquiatria, analisando os principais pontos de intersecção e colaboração na prática clínica. Aborda-se ainda a importância do diagnóstico diferencial rigoroso, os riscos associados a uma avaliação imprecisa e o papel da psicoterapia em quadros clínicos de etiologia orgânica. Defende-se a abordagem interdisciplinar como condição necessária para a eficácia terapêutica em saúde mental.

    Palavras-chave: psicologia clínica, psiquiatria, diagnóstico diferencial, comorbilidade, intervenção interdisciplinar, psicoterapia


    1. Introdução

    A saúde mental contemporânea implica, cada vez mais, uma abordagem integrativa que contemple a complexidade biopsicossocial dos indivíduos (Engel, 1977). Neste contexto, a articulação entre psicologia clínica e psiquiatria revela-se fundamental. Contudo, a sobreposição sintomática entre diferentes quadros clínicos e a multiplicidade de modelos de intervenção podem gerar confusão quanto ao âmbito de atuação de cada especialidade. Este artigo propõe clarificar esses limites e explorar formas eficazes de cooperação interdisciplinar.


    2. Delimitação Disciplinar: Psicologia Clínica e Psiquiatria

    A psiquiatria, enquanto especialidade médica, intervém prioritariamente sobre os substratos neurobiológicos das perturbações mentais, recorrendo ao diagnóstico médico e à psicofarmacologia (Sadock, Sadock, & Ruiz, 2015). A psicologia clínica, por sua vez, fundamenta-se em modelos teóricos e empíricos de compreensão do comportamento humano e utiliza intervenções psicoterapêuticas baseadas na evidência (American Psychological Association [APA], 2023). Apesar da distinção formativa, ambas as disciplinas se inserem no espectro da saúde mental e frequentemente convergem na prática clínica.


    3. Diagnóstico e Comorbidade: Fontes de Confusão Clínica

    A elevada comorbilidade entre perturbações mentais e a partilha de sintomatologia inespecífica dificultam o diagnóstico diferencial. Sintomas como ansiedade, insónia, irritabilidade ou défices de atenção podem surgir em múltiplas condições (First et al., 2018). A ausência de marcadores biológicos para a maioria das perturbações do foro mental, aliada a limitações na literacia em saúde, contribui para a subvalorização ou medicalização indevida de certos quadros clínicos.


    4. A Depressão como Caso Paradigmático de Interpretação Ambígua

    A perturbação depressiva major é frequentemente confundida com reações emocionais normativas ou quadros adaptativos. Esta visão reducionista ignora os componentes neuroendócrinos e hereditários da doença, comprometendo a eficácia da intervenção (Kupfer, Frank, & Phillips, 2012). Uma avaliação psicopatológica rigorosa é essencial para distinguir entre tristeza situacional e depressão clínica, orientando adequadamente para intervenção farmacológica e/ou psicoterapêutica.


    5. Integração Clínica: Complementaridade entre Abordagens

    A articulação entre psicoterapia e farmacoterapia representa uma das estratégias mais eficazes no tratamento de perturbações mentais moderadas a graves (Cuijpers et al., 2020). Enquanto a medicação pode estabilizar a sintomatologia aguda, a psicoterapia permite a reestruturação cognitiva, emocional e relacional do paciente, promovendo mudanças sustentadas e prevenção de recaídas.


    6. Implicações do Diagnóstico Incorreto

    Erros diagnósticos podem ter consequências clínicas e éticas relevantes: dano terapêutico não intencional (iatrogenia), descontinuidade terapêutica, cronicidade do quadro clínico e aumento do sofrimento psíquico (Frances, 2013). A utilização indevida de medicação em quadros não médicos, ou a exclusão de intervenção farmacológica quando indicada, são riscos reais na ausência de avaliação interdisciplinar.


    7. Identificação de Indicadores de Etiologia Biológica

    Fatores como historial familiar de doença mental, sintomatologia psicótica, curso clínico abrupto e resistência à psicoterapia são indicadores frequentes de uma possível origem neurobiológica (APA, 2022). Nestes casos, o encaminhamento para avaliação psiquiátrica torna-se imperativo. A decisão deve basear-se numa anamnese rigorosa e em critérios clínicos validados.


    8. Psicoterapia em Patologias de Etiologia Orgânica

    Doenças com etiologia neurológica, como a esclerose múltipla ou a epilepsia, têm frequentemente impacto significativo na saúde mental. A psicoterapia nestes casos visa apoiar o ajustamento emocional, trabalhar o luto antecipado, promover estratégias de coping e prevenir perturbações afetivas reativas (Mohr et al., 2012). A intervenção psicológica nestes contextos melhora a adesão ao tratamento médico e a qualidade de vida.


    9. Ética e Encaminhamento Interdisciplinar

    A prática clínica exige uma postura ética de reconhecimento dos limites do exercício profissional. O encaminhamento para psiquiatria deve ser feito sempre que se identifiquem sinais fora do escopo psicológico, nomeadamente necessidade de intervenção médica ou risco acrescido para o paciente. A atuação em rede permite respostas mais completas e centradas na pessoa (WHO, 2022).


    10. Conclusão

    A eficácia das intervenções em saúde mental depende da articulação entre disciplinas complementares. Psicologia clínica e psiquiatria, embora epistemologicamente distintas, partilham um objetivo comum: promover a saúde mental e o bem-estar. A integração, o respeito mútuo e a comunicação entre áreas são pilares de uma prática clínica ética, rigorosa e centrada no paciente.


    Referências

    American Psychiatric Association. (2022). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed., text rev.; DSM-5-TR). APA Publishing.

    American Psychological Association. (2023). Clinical practice guideline for the treatment of depression across three age cohorts. APA.

    Cuijpers, P., Karyotaki, E., Weitz, E., Andersson, G., Hollon, S. D., van Straten, A., & Ebert, D. D. (2020). The effects of psychotherapies for major depression in adults on remission, recovery and improvement: A meta-analysis. Journal of Affective Disorders, 277, 455–464. https://doi.org/10.1016/j.jad.2020.08.057

    Engel, G. L. (1977). The need for a new medical model: A challenge for biomedicine. Science, 196(4286), 129–136.

    First, M. B., Williams, J. B. W., Karg, R. S., & Spitzer, R. L. (2018). Structured Clinical Interview for DSM-5® Disorders—Clinician Version (SCID-5-CV). American Psychiatric Publishing.

    Frances, A. (2013). Saving Normal: An Insider’s Revolt against Out-of-Control Psychiatric Diagnosis, DSM-5, Big Pharma, and the Medicalization of Ordinary Life. William Morrow.

    Kupfer, D. J., Frank, E., & Phillips, M. L. (2012). Major depressive disorder: New clinical, neurobiological, and treatment perspectives. The Lancet, 379(9820), 1045–1055. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(11)60602-8

    Mohr, D. C., Hart, S. L., Julian, L., Cox, D., & Pelletier, D. (2012). Behavioral intervention for multiple sclerosis: A randomized controlled trial. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, 93(8), 1290–1298.

    Sadock, B. J., Sadock, V. A., & Ruiz, P. (2015). Kaplan and Sadock’s synopsis of psychiatry: Behavioral sciences/clinical psychiatry (11th ed.). Wolters Kluwer.

    World Health Organization. (2022). Guidance on community mental health services: Promoting person-centred and rights-based approaches. WHO Press.

    A Mulher no Mercado de Trabalho: Entre a Ambição e a Culpa

    Nas últimas décadas, as mulheres têm vindo a conquistar um espaço cada vez mais relevante no mercado de trabalho. Ocupam cargos de liderança, destacam-se em áreas tradicionalmente dominadas por homens e contribuem de forma expressiva para a economia global. No entanto, por detrás deste progresso aparente, permanece uma realidade muitas vezes invisível: o conflito psicológico entre a ambição profissional e a culpa associada às expectativas sociais, familiares e culturais.

    Do ponto de vista psicológico, este conflito manifesta-se frequentemente através de um sentimento persistente de insuficiência. Muitas mulheres sentem que, por mais que se esforcem, nunca estão completamente “à altura” – nem no trabalho, nem em casa. Esta pressão é, em grande parte, alimentada por um ideal social da “mulher que faz tudo”, capaz de gerir uma carreira de sucesso, uma casa organizada, filhos felizes e uma vida conjugal equilibrada. Este modelo, inalcançável e exaustivo, está na origem de muitos quadros de ansiedade, exaustão emocional e, em casos mais extremos, burnout.

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    Divórcio e Solidão: Os Desafios Emocionais para as Mulheres

    O divórcio representa uma das experiências de vida mais desafiantes e emocionalmente exigentes que uma pessoa pode enfrentar. No caso das mulheres, especialmente em contextos socioculturais onde o casamento ainda é encarado como um dos pilares da identidade feminina, o divórcio pode ser vivido não apenas como uma rutura relacional, mas também como uma crise existencial. A solidão que muitas mulheres divorciadas sentem não se limita à ausência de um companheiro, ela é, frequentemente, mais profunda, refletindo um sentimento de desenraizamento, perda de pertença e até desvalorização pessoal.

    Do ponto de vista psicológico, a solidão pode ser definida como a perceção subjetiva de isolamento ou de desconexão emocional face aos outros. No caso das mulheres divorciadas, esta perceção pode ser amplificada por diversos fatores. Em primeiro lugar, há frequentemente uma quebra nas rotinas sociais partilhadas durante o casamento, como jantares com amigos em comum ou alguns eventos familiares, levando à redução dos círculos sociais. Além disso, o estigma social ainda presente em certas comunidades, pode fazer com que estas mulheres se sintam marginalizadas ou julgadas, o que pode reforçar sentimentos de exclusão.

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    Dor Física e Dor Psicológica: Duas Faces do Sofrimento Humano

    A dor é uma experiência universal que atravessa fronteiras culturais, sociais e temporais. No entanto, nem toda a dor é igual. Podemos distinguir, de forma geral, entre dor física e dor psicológica, duas manifestações distintas que, embora diferentes na sua natureza, estão profundamente interligadas. Entender esta dualidade é essencial para uma abordagem mais humana e eficaz do sofrimento humano.

    A dor física é geralmente associada a um estímulo nocivo, como uma lesão, uma inflamação, uma doença. É, por assim dizer, uma resposta biológica do corpo, um sinal de alarme do sistema nervoso que visa proteger-nos de maiores danos. A dor física pode ser aguda, como no caso de uma queimadura, ou crónica, como a dor associada à fibromialgia ou à artrite. Esta última, quando persistente, pode ter efeitos devastadores não só no corpo, mas também na mente.

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