O meu filho é um adolescente, e agora?

Os desafios da parentalidade são muitos e a adolescência pode ser um dos mais complexos. No entanto, nem todos os adolescentes são problemáticos e nem todos os pais apresentam grandes dificuldades em lidar com os seus filhos, durante esta fase do seu desenvolvimento.

Não há uma fórmula mágica nem um livro de instruções que ajude os pais a educarem os seus filhos. Cada individuo e cada família têm as suas especificidades, e que está certo e resulta como regra numa família, pode não se adequar a outra. Porém, ao longo do tempo, vários estudos na área da psicologia, mais especificamente na área da parentalidade e do desenvolvimento, revelam que algumas práticas podem ser muito úteis aos pais, para ajudarem os seus filhos a ultrapassar esta fase da vida, algumas vezes muito difícil, mas também para se ajudarem a si mesmos a exercer a parentalidade de forma mais tranquila…

A primeira sugestão é que se estabeleçam regras e limites (de preferência desde a infância) uma vez que o cumprimento dos limites será uma tarefa a ter em conta ao longo da vida, sendo que vivemos inseridos numa sociedade organizada. Estabelecer regras e limites, e fazer com que sejam cumpridas, não significa sermos “pais ditadores” e as exceções também fazem parte da equação. Mantenha o controlo, mas ao mesmo tempo permita um diálogo aberto com os seus filhos, não só para que estes possam expressar os seus pensamentos e emoções, mas também para que as várias situações possam ser reavaliadas e com eles possa negociar. Procure manter em aberto, o mais possível, todas as linhas de comunicação com os seus filhos. Crianças e adolescentes que sentem que são ouvidos e compreendidos veem potenciado o seu desenvolvimento emocional e desempenho escolar.

É fundamental conseguir manter o equilíbrio saudável entre privacidade e vigilância. Se por um lado proibir aumenta a curiosidade e a vontade de desafiar a regra, por outro lado, perseguir também pode trazer consequências bastante difíceis de aceitar e entender. O ideal será dar liberdade com responsabilidade, mantendo-se atento ao que se passa com os seus filhos. Mudanças bruscas do humor ou do comportamento podem indiciar problemas que precisam de ser resolvidos. O seu papel é estar lá, estar disponível para que o seu filho em dificuldades recorra a si. Demonstrar ao seu filho adolescente que confia nele, abre espaço para que ele peça a sua ajuda quando sentir necessidade, sem medo de julgamentos ou de recriminações.

Seja presente na vida dos seus filhos, vivendo ou não na mesma casa. Valorizar as suas conquistas, mas também os seus esforços, elogiar, reforçar e encorajar as suas iniciativas pode ser uma ferramenta bem útil para lidar com a pressão dos pares, tão comum e por vezes perigosa, nesta fase do desenvolvimento. Um forte apoio emocional da família, bem como a expressão inequívoca dos afetos, são extremamente importantes para a estabilidade dos jovens, embora por vezes pareçam não o valorizar. É também muito importante que os pais procurem informação, acerca dos hábitos e passatempos dos seus filhos adolescentes, para com eles poderem discutir e avaliar os seus riscos e benefícios, e fornecer apoio às dúvidas que possam surgir (ex. consumos, sexualidade, etc.).

Quando os pais sentem dificuldade em lidar com algumas questões relacionadas com os comportamentos típicos da adolescência, então devem pedir ajuda especializada. Um psicólogo/a pode ajudar o jovem a ultrapassar esta fase por vezes tão conturbada. Contudo, alguns jovens oferecem resistência quando ouvem falar em procurar apoio psicológico. Uma forma de combater essa resistência, é explicar aos adolescentes que são os pais que vão pedir ajuda para “aprenderem” a lidar melhor com as questões que geram conflito ou preocupação na sua relação com os filhos. Num esforço conjunto e num trabalho colaborativo, psicólogo/a, pais e adolescente irão conseguir ultrapassar de uma forma adaptativa e mais tranquila os desafios desta etapa.

Todas as fases do desenvolvimento dos filhos podem ser fantásticas e enriquecedoras. Aprecie cada momento e acima de tudo procurem divertir-se!

O papel do psicólogo no processo de envelhecimento

O envelhecimento da população mundial é uma realidade e Portugal não é exceção. Dos fatores que contribuem para esta situação, destacam-se a baixa natalidade mas também a melhoria das condições de vida e os avanços médicos e tecnológicos, que assim promovem o aumento da esperança média de vida.

Segundo dados do Eurostat, em Portugal cerca de26,6% da população tem 65 anos ou mais e estima-se que em 2050 esse valor ultrapasse os 40%. Este facto está a transformar as sociedades e a economia a nível global, levantando questões como o financiamento dos cuidados de saúde e as medidas de proteção social. Por outro lado, importa também não esquecer a importância da criação e implementação de programas de promoção da saúde e prevenção da doença, para que a qualidade de vida e o bem-estar das populações se mantenha o mais satisfatória possível, ao longo de todo o curso de vida, nomeadamente nos anos mais tardios.

Perante esta realidade, e uma vez que os adultos mais velhos estão mais vulneráveis à doença crónica, isolamento social, depressão e processos de demência, entre outras patologias, os/as psicólogos/as podem ter um papel fundamental na avaliação e acompanhamento destas pessoas, tendo em vista uma resposta adequada às suas necessidades. Tendo em conta a sua formação e o conhecimento cientifico teórico-prático sobre desenvolvimento, comportamento e sobre o impacto psicológico do processo de envelhecimento, os/as psicólogos/as estão preparados para apoiar os adultos mais velhos nos seus diferentes contextos de vida e problemáticas.

A eficácia da intervenção psicológica está demonstrada nas várias fases do desenvolvimento humano (desde a primeira infância). Assim sendo, alguns adultos mais velhos poderão beneficiar de uma intervenção psicológica com muito bons resultados, ao invés de intervenções apenas farmacológicas. Esta população apresenta frequentemente comorbilidades com outras patologias características da idade, encontrando-se por vezes muito medicada. Em muitas situações o recurso à psicologia pode ser a melhor opção. E quais poderão ser os campos de ação do/a psicólogo/a na sua intervenção com pessoas idosas?

Com esta população específica, o/a psicólogo/a pode ajudar a promover o envelhecimento ativo rentabilizando o potencial de cada indivíduo, para que numa relação terapêutica possam trabalhar as suas várias dimensões, tendo em vista o aumento do seu bem-estar. Questões como informar e consciencializar a pessoa acerca do natural processo de envelhecimento, desmistificar crenças e mitos sobre a velhice, promover uma perspetiva realista mas positiva da vida, salientar e potenciar os pontos fortes do individuo, facilitar a sua participação ativa em sociedade/comunidade, são áreas de abrangência do trabalho do/a psicólogo/a. A facilitação da expressão emocional, a compreensão dos processos e situações problemáticas da vida da pessoa idosa, bem como o apoio na adaptação a possíveis mudanças decorrentes do passar do tempo, cabem também na esfera da intervenção psicológica. A acrescentar, este profissional pode ajudar na aceitação e controlo da doença. física ou mental e respetivo tratamento, assim como ensinar e treinar estratégias para lidar com a dor, com a ansiedade, entre outras patologias típicas desta fase da vida, como por exemplo a prevenção da demência ou ainda o apoio em processos de luto.

Envelhecer faz parte da vida e saber envelhecer é muito importante na preservação da qualidade de vida e da satisfação com a mesma. Há que ter uma perspetiva de aceitação e de esperança e tomar decisões importantes para o seu próprio bem-estar emocional, físico e social. A felicidade é um direito universal e cada um de nós pode contribuir efetivamente para ela.

Não basta dar anos á vida, é fundamental dar vida aos anos. Se para isso sentir que precisa de ajuda, não espere mais, peça-a á Sua Psicóloga!

Ano Novo, Vida Nova!

Mais um ano que se aproxima do fim, mais um ano que vai começar. Esta é tipicamente, uma fase em que se faz um balanço do que foi o ano que termina e se fazem planos para o ano que inicia. As “famosas” resoluções de Ano Novo!

Como é sabido, a situação pandémica que temos vivido nos últimos quase dois anos, em muito contribuiu para agravar problemas de saúde mental a quem já deles padecia, ao mesmo tempo que despoletou o surgimento desse mesmo tipo de perturbações, em pessoas anteriormente saudáveis. As súbitas mudanças que se observaram no nosso quotidiano, como é o caso do isolamento social, da utilização de máscara e outras medidas de proteção individual, a obrigatoriedade de teletrabalho ou telescola, entre outras alterações que o nosso dia-a-dia sofreu, têm sido responsáveis por uma instabilidade emocional, que em muitos casos deu origem a problemas relacionados com ansiedade ou depressão. Algumas pessoas, pelas suas características de personalidade, tiveram maior capacidade de adaptação a uma realidade outrora inimaginável. Outras pessoas, com maiores dificuldades de adaptação, sofrem desde há muito com todas as modificações a que se viram obrigadas e que tiveram um impacto muito negativo no seu quotidiano e nas suas vidas.

A pandemia tem sido muito difícil para todos e tem trazido consigo muita dor e muitas emoções negativas, como o medo, a tristeza, a angústia, a solidão, etc. Todas estas emoções e algumas das mudanças a que fomos obrigados, geraram em algumas pessoas uma incapacidade para a ação, ou seja, algumas pessoas sentem que não estão bem mas não conseguem iniciar esforços que as ajudem a melhorar. Tratam-se de situações em que a ansiedade, o medo ou os sintomas depressivos as impedem de agir, no sentido da mudança, para que possam melhorar o seu bem-estar e serem mais felizes. Algumas pessoas conseguem adaptar-se de tal forma a esta atual realidade, que parece que apesar das alterações que aconteceram nas suas vidas, continuam a “caminhar” com alegria e otimismo. Outras, não conseguem ver a “luz ao fundo do túnel” e fecham-se em si mesmas, descendo nessa espiral negativa que é a doença mental.

Num momento de viragem do ano, em que tipicamente se fazem planos para o ano que vai entrar, algumas pessoas não conseguem sequer imaginar que a sua vida poderá melhorar, uma vez que não acreditam na mudança delas próprias. Quando algo está mal, ou nos adaptamos e seguimos vivendo em harmonia, ou, na maioria dos casos, temos que empreender esforços de mudança para conseguirmos ser pelo menos funcionais, senão felizes. O processo de mudança começa dentro de cada um de nós, no momento em que reconhecemos que efetivamente temos um problema ou uma dificuldade. A partir desse momento, com ou sem ajuda profissional, a pessoa pode preparar-se para agir. A ação pode passar por um conjunto de comportamentos a abolir, a iniciar ou a transformar, com o intuito de se tornarem mais adaptativos. Modificar comportamentos pode não é tarefa fácil e por vezes pode ser necessário apoio, acompanhamento e compromisso, para que cada pequeno esforço, cada pequeno passo no sentido daquilo que se deseja, não seja nunca um retrocesso mas sim uma conquista sólida e consistente.

Numa época em que a saúde mental está na “ordem do dia”, a sua prevenção, manutenção ou o seu tratamento pode passar por pedir ajuda a um técnico especializado. O primeiro passo pode estar na mão dos cuidados de saúde primários, que havendo disponibilidade, o médico assistente pode encaminhar o indivíduo para a consulta de psicologia. Infelizmente, o nosso Serviço Nacional de Saúde, não dispõe de psicólogos em número suficiente para atender a todos os que desse apoio necessitam. Assim sendo, na maioria das situações, esse apoio terá que ser prestado por profissionais independentes, em clínica privada. No entanto, este não deve ser um motivo para deixar de procurar ajuda.

Há a ideia generalizada de que os serviços privados de avaliação e acompanhamento psicológico são muito dispendiosos, não é de todo uma realidade. É claro que cada pessoa tem as suas limitações em termos de orçamento, porém, muitas vezes os custos das consultas não são assim tão elevados, havendo até muitos profissionais que atendem e cobram as suas consultas, levando em consideração os casos de maior vulnerabilidade económica, numa vertente de responsabilidade social. Assim, recomenda-se que se quebre em primeiro lugar o estigma de que a saúde mental é menos importante do que a saúde física, pois ambas estão interligadas. Por outro lado, não é vergonha nem embaraço para ninguém, recorrer á ajuda de um psicólogo, num momento de maior instabilidade emocional. O reestabelecimento ou a manutenção da saúde mental é extremamente importante e repercute-se também na saúde física e no bem-estar individual, familiar e social.

Se sente que pode estar a sofrer de problemas ao nível da ansiedade, se apresenta sintomatologia depressiva ou se apenas não está a saber lidar com as suas emoções ou com os seus relacionamentos, não deixe de colocar nas resoluções de Ano Novo, a procura de apoio psicológico. Uma correta avaliação do seu caso e um plano de intervenção adequado, poderão fazer toda a diferença no seu bem-estar pessoal e nas suas relações sociais e familiares. O autoconhecimento, a aprendizagem e treino de estratégias para lidar com a sua ansiedade, a estruturação comportamental em casos de depressão, são exemplos de intervenções que podem modificar a sua vida e torna-la mais fácil e mais feliz. A par com os típicos planos para iniciar a prática desportiva, iniciar a reeducação alimentar para controlar o peso, porque não iniciar um acompanhamento psicológico, para melhorar a sua qualidade de vida, aprendendo a conhecer-se melhor e permitindo-se abrir-se a diferentes perspetivas?

Ano Novo, Vida Nova! Comece o Ano de 2022 a pensar em si e procure ajuda. A Sua Psicóloga, estará ao dispor para a (o) orientar na descoberta de si mesma (o) e do que a (o) pode tornar numa pessoa mais feliz!

Solidão

Em tempos como os que vivemos desde há aproximadamente um ano e meio, o conceito de solidão tem estado muito presente na vida de muitos de nós. Uma das faixas etárias que mais terá sofrido as consequências do afastamento social é a dos idosos, uma população já de si mais vulnerável, por várias ordens de razão.

O conceito de solidão tem vindo a ser estudado por diversas áreas da ciência e do conhecimento, como a psicologia e a sociologia. A perceção de solidão é algo subjetiva, uma vez que, algumas pessoas convivem tranquilamente com o facto de estarem sós e outras se sentem sós e infelizes mesmo quando estão rodeadas de outras pessoas. Cada indivíduo sente a solidão à sua maneira e daí a dificuldade de se chegar a uma definição única e abrangente. As representações sociais da solidão incluem uma enorme heterogeneidade de significados, caindo em especificidades que dificultam a sua interpretação e entendimento. Em psicologia, o conceito de solidão pode ser caracterizado pela ausência afetiva do outro e com a sensação de se estar só. Ainda que próximo do ponto de vista geográfico, pode não haver aproximação psicológica devido à falta de interação e comunicação emocional entre os indivíduos.

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Nós e os outros

O relacionamento com os outros está presente na vida e no quotidiano de todos nós. Ao conjunto de pessoas com quem temos uma relação significativa podemos chamar rede de apoio social. Em psicologia as redes de apoio social mais estudadas são as redes egocêntricas, isto é, as redes centradas numa pessoa específica que é alvo de interesse.

Existem várias formas para definir apoio social. Uma delas é dizermos que corresponde à quantidade e coesão das relações sociais que rodeiam de um modo dinâmico um indivíduo. O apoio social é um processo interativo que visa o bem-estar físico e psicológico. O contacto social promove a saúde e o bem-estar e tem provavelmente uma função de regulação da resposta emocional perante os vários fatores causadores de stresse. De acordo com alguns autores, o apoio social pode ter várias funções: apoio informativo, apoio emocional, apoio de pertença e apoio tangível, desempenhando assim um importantíssimo papel na vida do indivíduo, com impacto muito significativo na sua saúde física e psicológica. Este apoio poderá mesmo exercer influência sobre a mortalidade, uma vez que a sua presença parece estar associada a um melhor funcionamento dos sistemas cardiovascular, endócrino e imunitário, e com repercussões positivas na saúde física. O principal benefício de receber apoio social é a proteção do indivíduo face às consequências negativas do stresse, quer comportamentais, quer psicológicas. Teoricamente, o apoio social pode diminuir a perceção e a avaliação de stresse do indivíduo, perante um determinado acontecimento. Isto poderá também influenciar positivamente processos psicológicos como, estados de humor negativos, baixa autoestima e baixo autocontrolo e autoeficácia.

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“O meu avô morreu”

Numa altura em que a situação de pandemia por Covid-19 tem levado tantas vidas, principalmente de pessoas mais idosas, parece-me pertinente abordar o tema do luto infantil, no sentido de poder orientar os pais a ajudarem as suas crianças a lidarem com a perda dos avós.

Habitualmente, as crianças modelam os comportamentos dos adultos significativos, ou seja, tendem a imitar as respostas à perda manifestas pelos adultos enlutados da família. Deste modo, pode ser muito importante que estes procurem compreender o seu próprio processo de luto e modelar uma reação “saudável” à perda. No entanto, isto pode não ser fácil… Controlar a emotividade excessiva que advém de uma perda pode ser mesmo muito difícil. Porém há que evitar expressar as emoções negativas de forma muito exacerbada em presença das crianças pois estas podem ficar muito assustadas e inseguras com a expressão de dor e tristeza dos outros. A criança em luto está naturalmente triste e ansiosa. Mais do que nunca necessita de afeto, conforto mas também de um dia-a-dia estruturado, de preferência com a manutenção das suas atividades e da sua rotina diária, ou em caso de isolamento, com a substituição por uma nova rotina adaptada à situação.

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