A psicóloga também vai à psicóloga!

Sim, a psicóloga também vai à psicóloga. E não é sinal de fraqueza, nem de incoerência profissional. É apenas humanidade — a mesma que tento lembrar aos outros quando lhes digo que não têm de aguentar tudo sozinhos.

Há dias em que carrego histórias pesadas, lágrimas que não são minhas mas que, de algum modo, ficam ali a ecoar. E há momentos em que percebo que, para continuar a cuidar, também preciso de me cuidar. Ir à psicóloga é o meu espaço para pousar algumas das malas invisíveis que trago de cada sessão.

É curioso estar do outro lado da cadeira. Trocar o papel de quem escuta pelo de quem tenta pôr em palavras o que sente. Há sempre um pequeno embaraço inicial — afinal, passamos anos a treinar o silêncio atento, e de repente somos nós a procurar as frases certas. Mas, com o tempo, torna-se libertador.

Naquele espaço, volto a ser apenas pessoa. Sem técnicas, sem teorias, sem necessidade de ter todas as respostas. Apenas alguém que também se cansa, que também se perde, e que, tal como os outros, tenta encontrar equilíbrio no meio do turbilhão da vida.

Ir à psicóloga não me torna menos profissional; torna-me mais autêntica. Lembra-me que cuidar dos outros começa, inevitavelmente, por saber cuidar de mim.

E talvez seja isso que mantém viva a essência de ser psicóloga — a consciência de que, antes de tudo, somos humanos.

Desafios da Parentalidade na Era Digital

Enquanto psicóloga, tenho recebido com frequência pais que procuram ajuda por sentirem que perderam o controlo sobre os hábitos digitais dos seus filhos adolescentes. Jogos online, redes sociais, horas a fio em frente ao telemóvel ou computador… São queixas recorrentes. Muitos destes pais chegam esgotados, angustiados, com um sentimento de impotência e, não raras vezes, com a esperança de que a psicóloga tenha “a solução”. “Ele não me ouve, talvez ouça alguém de fora”, “Já tentei tudo, diga-lhe a senhora o que fazer”, “Ela só vive para o telemóvel, já não sei o que fazer”. Estas frases não são apenas desabafos, são gritos silenciosos de pais que estão em sofrimento, por vezes confusos sobre o seu papel e profundamente preocupados com o futuro dos seus filhos.

É importante, antes de mais, reconhecer este sofrimento. A parentalidade na era digital coloca desafios para os quais poucos adultos estavam preparados. A velocidade com que a tecnologia evolui, aliada à crescente complexidade das relações online, pode criar um verdadeiro fosso geracional. Muitos pais sentem que perderam a autoridade ou a capacidade de comunicar com os filhos de forma eficaz. Neste cenário, não é de estranhar que depositem na figura do psicólogo uma série de expectativas, por vezes irrealistas, na esperança de encontrar respostas rápidas e eficazes.

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A Influência do Verão no Humor e na Saúde Emocional

A relação entre o sol, o verão e o bem-estar psicológico tem sido objeto de crescente interesse na área da psicologia. À medida que os dias se tornam mais longos, as temperaturas mais amenas e a exposição à luz solar mais frequente, muitas pessoas relatam melhorias significativas no humor, na energia e na motivação. Esta ligação entre o clima e o estado mental não é apenas uma percepção popular, está suportada por diversas evidências científicas que demonstram os efeitos positivos do sol e da estação estival na saúde mental.

Em primeiro lugar, a exposição à luz solar promove a produção de vitamina D, essencial para o bom funcionamento do organismo e associada a uma menor prevalência de sintomas depressivos. A deficiência desta vitamina tem sido correlacionada com um aumento do risco de depressão, particularmente nos meses de inverno, quando a incidência de luz natural é mais reduzida. O verão, ao proporcionar uma maior quantidade de luz solar direta, contribui assim para a regulação de processos fisiológicos que influenciam o humor (Holick, 2007).

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A Importância das Pausas para o Bem-Estar

Nesta altura do ano, é fácil cair na ilusão de que duas ou três semanas de férias serão suficientes para resolver tudo: a ansiedade acumulada ao longo dos meses, as noites mal dormidas, o stresse constante e o cansaço emocional que teima em não desaparecer. E, de facto, durante alguns dias, parece mesmo resultar. O corpo repousa, a mente desacelera, e o tempo ganha outro ritmo.

Contudo, não tarda até que tudo retorne ao ponto de partida. As preocupações não desaparecem com a distância, apenas ficam em “suspenso”. Ao voltar, continuam lá, intactas, à espera de serem enfrentadas, resolvidas. E assim, repete-se o ciclo: exaustão, pausa momentânea, leve alívio, e regressamos à exaustão.

o, não tarda até que tudo retorne ao ponto de partida. As preocupações não desaparecem com a distância, apenas ficam em “suspenso”. Ao voltar, continuam lá, intactas, à espera de serem enfrentadas, resolvidas. E assim, repete-se o ciclo: exaustão, pausa momentânea, leve alívio, e regressamos à exaustão.

Essas pausas não precisam de ser grandiosas. Pelo contrário, podem (e devem) ser simples e acessíveis: por exemplo, uma caminhada sem distrações, uma refeição sem ecrãs, um momento de silêncio genuinamente vivido, uma pequena “escapadinha” durante o ano, escrever livremente sobre o que se sente, experimentar algo novo, ou simplesmente parar. Respirar. Estar presente. Estar em atenção plena, vários momentos do dia-a-dia.

Numa rotina sobrecarregada de estímulos e exigências, até uma breve pausa pode parecer invulgar. Contudo, são precisamente esses momentos de presença e de silêncio que permitem que o ruído interno abrande, que a mente se reorganize, que surja maior clareza, foco e capacidade de resposta ponderada, em vez de mera reação instintiva ou impulsiva.

As férias, por si só, não são suficientes para sustentar o equilíbrio emocional ao longo do ano. São um ponto de apoio, sim, mas não substituem a necessidade de espaço interior constante. Mais do que esperar por férias para descansar, é urgente cultivar espaços de bem-estar no quotidiano. Criar tempo para si, ainda que breve, é um gesto de autocuidado que pode fazer toda a diferença — todos os dias.

Cuide de si, sempre, adquira hábitos diários de autocuidado e viva melhor!

Os Desafios das Férias Escolares para as Famílias

As férias escolares representam, para muitas crianças, um período de alívio, descanso e liberdade. No entanto, este tempo de pausa do calendário letivo nem sempre é vivido com a mesma leveza pelas famílias. Para os pais e cuidadores, especialmente aqueles com responsabilidades profissionais exigentes ou com poucos recursos, as férias escolares podem representar um verdadeiro desafio logístico, emocional e financeiro. Nesta fase, é importante refletir sobre os impactos psicológicos desta realidade, tanto para os adultos como para os próprios filhos.

Do ponto de vista das crianças, as férias são geralmente associadas a sensações positivas: ausência de rotinas rígidas, tempo livre para brincar, possibilidade de viajar ou visitar familiares. Contudo, nem todas as crianças vivem este período da mesma forma. Em famílias onde os recursos são limitados, a falta de acesso a atividades estruturadas, como colónias de férias ou campos de verão, pode resultar em isolamento social, sedentarismo e até aumento de conflitos familiares. A ausência de estímulos regulares também pode ter impacto no desenvolvimento cognitivo, especialmente em crianças mais vulneráveis ou com necessidades educativas especiais (Silva & Moura, 2020).

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Sobre a empatia

A empatia desempenha um papel central na intervenção psicológica e na relação terapêutica, sendo um dos pilares fundamentais para o sucesso do processo terapêutico. Esta capacidade de se colocar no lugar do outro, compreendendo os seus sentimentos e perspetivas sem julgamento, permite ao psicólogo criar um ambiente seguro e acolhedor, essencial para que o paciente se sinta confortável para explorar as suas dificuldades e vulnerabilidades.

Na prática clínica, a empatia manifesta-se de diversas formas. Em primeiro lugar, através da escuta ativa, em que o terapeuta não só ouve as palavras do paciente, mas também presta atenção à sua linguagem não-verbal, como expressões faciais, tom de voz e postura corporal. Esta atenção plena permite ao psicólogo captar nuances emocionais que podem não ser expressas diretamente, facilitando uma compreensão mais profunda das experiências do paciente. Além disso, a empatia envolve validar os sentimentos do paciente, demonstrando compreensão e aceitação das suas emoções, independentemente de serem consideradas positivas ou negativas. Este reconhecimento emocional ajuda a reduzir a sensação de isolamento e promove um sentimento de aceitação, essencial para o desenvolvimento de uma relação terapêutica forte e baseada na confiança.

A relação terapêutica, por sua vez, é o alicerce do processo de mudança psicológica. Quando o paciente sente que o terapeuta realmente o compreende e se preocupa com o seu bem-estar, é mais provável que se abra, partilhe experiências difíceis e esteja disposto a trabalhar nas suas questões emocionais. Neste sentido, a empatia não só fortalece o vínculo entre terapeuta e paciente, como também potencia a eficácia das intervenções aplicadas. Outro aspeto crucial da empatia na intervenção psicológica é a sua influência na adaptação das estratégias terapêuticas. Cada pessoa é única e, portanto, não existe uma abordagem universal que funcione para todos. Um terapeuta empático é capaz de ajustar a sua intervenção de acordo com as necessidades, ritmo e estilo de comunicação do paciente, garantindo que o processo terapêutico seja verdadeiramente centrado na pessoa.

Adicionalmente, a empatia também contribui para a motivação do paciente. Sentir-se compreendido e aceite pode incentivar a pessoa a envolver-se mais ativamente no processo terapêutico, assumir responsabilidade pela sua própria mudança e desenvolver um maior autocuidado. A empatia, portanto, não só promove um espaço seguro, como também impulsiona o crescimento pessoal e emocional. Por outro lado, é fundamental que o terapeuta mantenha um equilíbrio saudável entre empatia e objetividade. Embora seja essencial compreender e validar as emoções do paciente, o psicólogo deve evitar envolver-se excessivamente a ponto de comprometer a sua capacidade de análise e intervenção. A empatia deve ser acompanhada de uma postura profissional que permita ao terapeuta guiar o paciente no seu percurso de autoconhecimento e superação.

Impacto da Mudança de Emprego na Saúde Mental

A mudança de emprego é uma experiência que pode ter um impacto significativo na saúde mental e no bem-estar psicológico dos indivíduos. Embora a mudança esteja frequentemente associada à busca de melhores oportunidades, um ambiente de trabalho mais saudável ou uma maior satisfação pessoal, esta transição não é isenta de desafios emocionais e psicológicos.

O impacto positivo da mudança de emprego

Mudar de emprego pode ser uma oportunidade para o crescimento pessoal e profissional. Muitas vezes, essa decisão surge, por exemplo, da necessidade de ultrapassar um ambiente de trabalho tóxico, a monotonia profissional ou limitações no desenvolvimento de capacidades. Ao ingressar num novo emprego, os indivíduos podem beneficiar de uma maior motivação, devido à novidade das funções e à oportunidade de aprenderem e desenvolverem novas competências. Estas experiências positivas podem aumentar a autoestima, reduzir o stresse e proporcionar uma sensação de realização e autoeficácia. Além disso, uma mudança de emprego pode melhorar a qualidade de vida, especialmente se o novo papel oferecer melhores condições de trabalho, um salário mais justo ou maior flexibilidade horária. Estes fatores contribuem para um equilíbrio mais saudável entre a vida pessoal e profissional, promovendo o bem-estar geral (Oliveira et al., 2013).

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Parentalidade Positiva e os Perigos da Positividade Tóxica

Nos últimos anos, a parentalidade positiva ganhou destaque como um modelo que valoriza o respeito mútuo, a empatia e o fortalecimento do vínculo entre pais e filhos. Este enfoque procura afastar-se das práticas autoritárias ou punitivas, incentivando a uma abordagem mais acolhedora, onde as emoções das crianças são validadas e as dificuldades são encaradas com compreensão. No entanto, é essencial distinguir entre parentalidade positiva e o fenómeno crescente da positividade tóxica, que pode minar os próprios objetivos deste estilo parental.

A parentalidade positiva baseia-se na ideia de que as crianças aprendem melhor em ambientes onde se sentem seguras emocionalmente. Ao invés de gritos ou castigos, promove-se a comunicação aberta, a resolução colaborativa de problemas e o encorajamento em lugar da crítica. Esta abordagem ajuda a criança a desenvolver a autoconfiança, as competências emocionais e e um sentido saudável de responsabilidade. No entanto, a aplicação da parentalidade positiva exige equilíbrio e autenticidade, evitando cair-se na armadilha da positividade tóxica.

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Bem-Estar e Saúde Psicológica

Organização Mundial de Saúde (OMS) define Saúde Psicológica como um estado de bem-estar que permite que a pessoa realize as suas capacidades e o seu potencial, que lide com o stresse normal do dia-a-dia e que trabalhe produtivamente e contribua ativamente para a sua comunidade.

A Saúde Psicológica é parte integrante da Saúde do ser humano, considerando-se que não há Saúde sem Saúde Psicológica. Relaciona-se com a capacidade de utilizarmos as nossas competências e capacidades para gerir os desafios do quotidiano, nos diferentes contextos em que vivemos (ex. familiar, escolar ou profissional). A Saúde Psicológica está associada também com o modo como pensamos, sentimos, avaliamos as situações, nos relacionamos com os outros e tomamos decisões. Quando estamos psicologicamente saudáveis, sentimo-nos confiantes e capazes de lidar com a nossa vida e de nos relacionarmos com os outros.

A felicidade e o bem-estar são frequentemente utilizados como sinónimos de Saúde Psicológica. A forma como avaliamos positivamente os acontecimentos de vida, em termos de experiências agradáveis e emoções positivas (ex. amor, alegria, tranquilidade, gratidão, esperança…), vai influenciar a nossa Saúde Psicológica. Quando nos sentimos felizes e de bem com a vida e conosco mesmos, enérgicos e disponíveis para os outros, podemos dizer que temos uma boa Saúde Psicológica e que esta contribui para a nossa satisfação com a vida.

Os estilos de vida saudáveis, o autocuidado, o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida familiar e as relações positivas e de qualidade, são fatores determinantes para a nossa Saúde Psicológica. Adotar uma alimentação racional e a prática de exercício físico, pode ser o primeiro passo para nos tornarmos mais saudáveis, através do benefício que estas duas práticas têm para a saúde física e consequentemente para a Saúde Psicológica. Por outro lado, não nos podemos esquecer de nos mimar. Realizar atividades que nos dão prazer ou dedicarmos algum do nosso tempo a passatempos que nos são agradáveis, como por exemplo a leitura, a escrita, a música, passeios ao ar livre, realizar ações de voluntariado, etc., também contribui para o bem-estar pessoal.

A socialização é fundamental para que nos sintamos bem e permite uma série de interações prazerosas que irão contribuir para o aumento da nossa satisfação com a vida. Relações positivas e saudáveis, ajudam por meio da partilha, da diversão e do apoio que nos podem trazer, a sentirmo-nos bem e a atribuirmos á nossa existência positividade, alegria e até um propósito. A família e os amigos têm um papel essencial na nossa Saúde Psicológica. O equilíbrio entre a vida pessoal e profissional consegue-se muitas vezes, com a ajuda dos que connosco partilham histórias, experiencias e preferências.

Reveja a sua vida e faça um balanço de como a está a gerir. Procure introduzir momentos de autocuidado para que se consiga reequilibrar e recentrar. Não descure a sua Saúde Psicológica pois sem ela não poderá ser feliz!

Verão, férias e burnout

As férias vão-se aproximando a passos largos, á medida que os dias ficam mais quentes e soalheiros. O tão desejado e necessário período de férias de verão está à porta! Mas será que sabemos utilizar os dias de descanso para realmente descansar e repor energias? E também para refletir sobre a forma como a vida profissional pode estar a afetar de forma negativa a nossa saúde?

O descanso e o “desligar” das atividades profissionais/escolares é necessário para o restabelecimento do corpo e da mente, após o desgaste físico e psicológico decorrentes de meses de um dia-a-dia rotineiro e exigente. O excesso de trabalho e de solicitações pode levar a situações de esgotamento físico e psicológico – o Burnout. Este resulta do stresse crónico mal gerido, associado principalmente ao trabalho, e caracteriza-se por uma sensação de falta de energia ou exaustão, distanciamento mental face à atividade profissional, sentimentos negativos e perda de eficiência relativamente ao próprio trabalho, com consequências graves para a saúde física e mental. Um inquérito da DECO PROTESTE (2018) apontou para a existência de cerca de 30% de pessoas em situação de Burnout em Portugal, ou seja, uma percentagem bastante significativa.

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