Hiperatividade e défice de atenção, como diagnosticar?

A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma perturbação do desenvolvimento cerebral caracterizada por 3 sintomas principais: desatenção, hiperatividade e impulsividade.

Ouvimos muitas vezes dizer que hoje em dia há muitas crianças hiperativas ou com défice de atenção, e que muitas delas estão medicadas, o que por vezes causa grande preocupação e estranheza. No entanto, a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma das patologias mais prevalentes na infância. Porém por vezes, pode não estar bem diagnosticada, ou seja, podemos hipervalorizar alguns comportamentos das crianças ou pelo contrário, desvalorizar outros tantos, como que se estivéssemos em negação do problema. Os profissionais de saúde qualificados para avaliar este tipo de patologias são os psiquiatras e os psicólogos. Para apoiar numa correta avaliação, a Associação Americana de Psiquiatria (APA) definiu no seu Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-V), os vários critérios a levar em consideração numa correta avaliação da PHDA.

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Delírios e alucinações

Os delírios e as alucinações podem estar presentes em perturbações do espectro da esquizofrenia, mas não só. Também na demência, dependendo do tipo e do estadio, estes sintomas podem ter presença assídua.

Os delírios definem-se como crenças fixas, que não são passiveis de mudar, á luz de evidência oposta. O seu conteúdo pode incluir uma variedade de temas, tais como perseguição, referência, religiosidade, somático ou grandiosidade. Os delírios persecutórios, ou seja, a crença de que o indivíduo vai ser perseguido ou incomodado por outro indivíduo ou organização, é muito comum em casos de perturbação psicótica. Quanto aos delírios de referência, dizem respeito à crença de que determinados gestos, comentários ou até mesmo estímulos do ambiente, são diretamente dirigidos ao próprio. Os delírios de grandiosidade, em geral de fama ou fortuna, referem-se a casos em que o indivíduo acredita possuir habilidades excecionais, e, os delírios somáticos, dizem respeito a crenças e preocupações relacionadas com a saúde e com as funções orgânicas.

Os delírios são considerados bizarros, quando são claramente implausíveis e incompreensíveis por pessoas que partilham o mesmo contexto cultural, e sempre que estes não derivem de experiencias comuns da vida. A titulo de exemplo, considera-se bizarro um delírio em que o individuo acredita que os seus órgãos internos foram substituídos, por uma “força exterior”, pelos órgãos de outra pessoa, sem que tenha ficado qualquer marca de cirurgia. Já o delírio de que alguém está sob vigilância da polícia, apesar de não haver nenhuma evidencia que o prove, é considerado um delírio não bizarro, uma vez que é plausível. A distinção entre um delírio e a hipervalorização de uma crença, pode não ser fácil e depende essencialmente do grau de convicção com que a crença é defendida, apesar de haver clara e razoável evidência contraditória, no que se refere á sua veracidade.

As alucinações são descritas como experiências do tipo percetivo, que ocorrem sem um estímulo externo. São vívidas e claras, com toda a intensidade e impacto no indivíduo das perceções normais, não estando sob controlo voluntário. As alucinações podem ocorrer em qualquer uma das dimensões sensoriais, nomeadamente auditivas, visuais, olfativas, táteis ou de paladar. Contudo, as alucinações auditivas são as mais comuns, em casos de esquizofrenia ou outras perturbações relacionadas. Estas alucinações são habitualmente percecionadas como vozes, que podem ou não ser familiares, e que são percebidas como distintas do pensamento do próprio individuo. As alucinações ocorrem em estado de vigília, sendo que, as que possam ocorrer no momento de adormecer ou de despertar, podem ser consideradas como normais. Em alguns contextos culturais, as alucinações podem também ser vistas como algo normal numa experiencia religiosa.

Tanto os delírios como as alucinações trazem muito sofrimento, angústia e desorganização do comportamento dos indivíduos afetados, com prejuízo em praticamente toas as áreas do seu funcionamento. Estes sintomas podem também afetar indivíduos com demência, uma vez que se trata de uma doença que leva a que o paciente perca a capacidade de reconhecer coisas ou pessoas. Estas “falhas” de memória e a redução das competências cognitivas, podem levar à suspeita, à paranoia e a equívocos. Em presença deste tipo de sintomas, o encaminhamento do paciente para a consulta de psiquiatria será o indicado, uma vez que este especialista poderá avaliar a situação, bem como a necessidade e a vantagem, da prescrição de fármacos.

Cuide de si, cuide dos seus! Fique atento aos sinais de que algo pode não estar bem em termos de saúde mental. Procure ajuda especializada!

Fonte: DSM-V – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (Quinta edição) de American Pshychiatric Association.

O difícil confronto

Alberto entrou na sala devagar. Fechou distraidamente a porta e com passos pesados e lentos dirigiu-se a ela. Mariana, a esposa, estava sentada com um jornal que não conseguia ler, pois os seus pensamentos vagueavam. Estava nervosa, e ao ouvir a porta fechar-se sentiu um baque no peito. As mãos frias estavam húmidas e a sua face de pele branca e fina ruboresceu. Ele dirigiu-se a ela e apenas perguntou: “O que é o jantar?”

Há já algum tempo que Mariana se questionava sobre o que se passaria. Os felizes 40 anos de vida em comum com Alberto permitiam-lhe conhecê-lo como achava que não se conhecia a si mesma. No entanto, as últimas semanas ou talvez meses tinham-lhe trazido uma angústia difícil de explicar. Alguns comportamentos do marido deixavam-na desconcertada. O seu olhar vazio começava a perturba-la, e aos poucos ia-o sentindo distante e inacessível. Questionou-o, e ele apenas lhe disse algo como “não se passa nada, está tudo bem”, porém ela sentia que alguma coisa tinha mudado. Alberto saía vezes sem conta dizendo que ia “apanhar ar”. Por vezes voltava ao fim de várias horas, com um olhar tão perdido como os pensamentos que pairavam, sobre a cabeça de Mariana.

Há cerca de 2 meses, Alberto procurou o médico. Falou-lhe das suas preocupações e dúvidas e o clínico avaliou-o. Prescreveu-lhe exames, que ele fez de imediato, e, quando voltou à consulta, achando que a falta de estímulos e de ocupação decorrentes da sua recente situação de reforma, poderiam estar na origem do seu mal-estar, equacionando até poder estar deprimido, foi surpreendido com um diagnóstico que não esperava. Saíu do consultório confuso, triste e assustado. Não lhe ocorreu fazer ao médico nenhuma pergunta. Ouviu tudo o que este lhe disse, ou quase tudo, e com esforço tentou assimilar o máximo de informação. O choque tinha-se apoderado de si mas ecoavam-lhe na cabeça as palavras do clínico: “Sr. Alberto, lamento dizer-lhe mas a sua situação vai piorar, temos que tomar medidas”. Foi para casa, dizendo a Mariana quando esta o questionou acerca da sua saída, que tinha ido apenas espairecer. Saber que dentro de algum tempo já não a reconheceria e que as memórias das suas vidas felizes se estavam a dissipar, deixou-o sem ânimo, sem forças e sem coragem para lhe contar.

Dia após dia, Alberto foi-se fechando em si. Conseguiu esconder de Mariana o que se estava a passar mas sentia-se cada vez mais atormentado. Sofria em silencio os momentos de clara lucidez, e os outros, mais enevoados e difusos e que até então eram esparsos, ia conseguindo driblar com algum engenho, pensando que a estava a enganar e adiando o momento em que teria de a confrontar com a difícil situação. Não a queria fazer sofrer. Naquele dia, Mariana esperava-o para jantar, na dolorosa certeza de que aquele era o momento. A penosa conversa que se seguiria fê-la tremer e cambalear quando se levantou da cadeira e se dirigiu a ele. Tinha que o confrontar com o telefonema que tinha recebido de um consultório do qual nunca tinha ouvido falar. A secretária do médico apenas pretendia informar que a consulta do Sr. Alberto teria que ser adiada dois dias, mas Mariana, com o seu jeito meigo e curioso, conseguiu ouvir o que não esperava e sentir o que jamais imaginaria sentir quando atendeu o telemóvel que Alberto havia esquecido no quarto, antes de sair. A conversa do casal foi dura, os sentimentos sombrios, mas Mariana, abraçou-o demoradamente e tal como em alguns outros momentos da sua longa vida em comum, conseguiu acalmar o turbilhão de emoções confusas que pairavam na cabeça de Alberto. E foram jantar.

Previna a demência e estimule o seu cérebro. A leitura é um bom exercício, mas também o cálculo e os jogos de palavras. Ocupe a sua mente com atividades de estimulação cognitiva de forma a preservar o seu desempenho, a facilitar a realização das suas atividades do dia-a-dia, a gerir a sua saúde e a potenciar a sua qualidade de vida!

Demências: Alzheimer

A demência pode definir-se como a perda de funções mnésicas, deterioração do nível de funcionamento adaptativo e pela presença de, pelo menos, um outro sinal de um défice cognitivo major. As mudanças características da demência ocorrem a nível cognitivo, funcional e comportamental.

A origem da demência pode ser de causas múltiplas e diversificadas, podendo estar relacionada com doenças psiquiátricas (ex. depressão, esquizofrenia), com intoxicações causadas por químicos ou metais, com doenças inflamatórias dos vasos sanguíneos, como lesões cerebrais (ex. tumores, esclerose múltipla) ou ainda com défices vitamínicos (ex. vitamina B12 ou ácido fólico). Podemos distinguir dois tipos de demências: as subcorticais e as corticais. As demências subcorticais estão associados a disfunções da estrutura da matéria cinzenta subcortical e das projeções do lobo frontal. Estas afetam entre outros, os processos cognitivos (lentificação), revelando-se por défices ao nível da atenção e da memória, com dificuldade na recordação de informação aprendida, apesar da preservação do reconhecimento. As funções executivas ficam afetadas desde a fase inicial, existindo dificuldade na resolução de problemas, diminuição da fluência da linguagem, humor depressivo, apatia, falta de energia e défices ao nível do sistema motor (ex. tremores, alteração da postura, da marcha e da coordenação). Duas perturbações representativas deste tipo de demência são a doença de Pakinson e a doença de Huntigton.

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Não, nem tudo vai ficar bem…

Face a esta inesperada pandemia, todos nós de um modo ou outro, estamos a sofrer com as alterações a que ela nos obriga. A adaptação ás situações adversas é uma capacidade que uns terão mais do que outros, mas é sempre difícil entender e aceitar os efeitos destes tempos conturbados nas nossas vidas.

As alterações de quotidiano impostas pela pandemia vão desde a inibição total ou parcial da expressão emocional, as dificuldades em manter o ritmo e as rotinas escolares e laborais, as limitações  nas tarefas do dia-a-dia que implicam contacto com outras pessoas, entre muitas outras que cada um poderá particularizar, consoante a sua experiência. Estas alterações obrigam a uma adaptação cognitiva, emocional e comportamental. Temos que pensar sistematicamente onde é que tocámos, que temos que desinfetar ou lavar as mãos, que temos que usar a máscara em quase todos os contextos e situações, com tudo o que o seu uso implica, quer a nível do desconforto, quer a nível da imagem ou do que falta dela.

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