A dor é uma experiência universal que atravessa fronteiras culturais, sociais e temporais. No entanto, nem toda a dor é igual. Podemos distinguir, de forma geral, entre dor física e dor psicológica, duas manifestações distintas que, embora diferentes na sua natureza, estão profundamente interligadas. Entender esta dualidade é essencial para uma abordagem mais humana e eficaz do sofrimento humano.
A dor física é geralmente associada a um estímulo nocivo, como uma lesão, uma inflamação, uma doença. É, por assim dizer, uma resposta biológica do corpo, um sinal de alarme do sistema nervoso que visa proteger-nos de maiores danos. A dor física pode ser aguda, como no caso de uma queimadura, ou crónica, como a dor associada à fibromialgia ou à artrite. Esta última, quando persistente, pode ter efeitos devastadores não só no corpo, mas também na mente.
A procura pelo significado da vida é uma questão fundamental na história da humanidade, abordada por filósofos, psicólogos e pensadores ao longo de várias épocas. A questão do propósito e do sentido de viver não se limita a reflexões teóricas, mas tem profundas implicações na saúde mental e no bem-estar psicológico. Estudos contemporâneos demonstram que a percepção de um propósito na vida está diretamente associada a melhores índices de satisfação, resiliência e saúde geral.
Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, é uma referência incontornável neste tema. Na sua obra datada de 1946, O Homem em Busca de um Sentido, defende que a busca por sentido é uma das motivações mais profundas do ser humano. A sua teoria, conhecida como logoterapia, propõe que mesmo em circunstâncias adversas (como as que enfrentou nos campos de concentração), encontrar um significado pode ajudar a superar o sofrimento. Para Frankl, o propósito de vida não é algo que se descobre, mas algo que se cria, ao encontrar um motivo pelo qual viver, seja através do trabalho, das relações interpessoais, da espiritualidade ou mesmo de experiências transcendentais.
A complexidade das relações humanas, onde a busca por amor, amizade e conexão por vezes se enreda em grandes desafios, há infelizmente casos, em que a linha entre o saudável e o tóxico se funde, e o vínculo que se quer como fonte de suporte e de crescimento, pode por vezes transformar-se numa fonte de solidão e sofrimento.
A procura e o desejo de construirmos relações significativas é uma constante, sendo fundamental compreender quando num relacionamento, as atitudes e os comportamentos ultrapassam os limites saudáveis. A crítica constante, o controlo excessivo, a manipulação, a chantagem emocional, são indícios de uma dinâmica relacional disfuncional e perigosa. Lamentavelmente, embora os sinais sejam muitas vezes evidentes, algumas pessoas “escolhem” não os ver, consciente ou inconscientemente, umas vezes por medo da solidão, outras por não se sentirem capazes para o confronto, outras ainda por consideraram normativas, tais atitudes e comportamentos.
Na ideia de morte está implícita a perda e a irreversibilidade. É sempre difícil lidar com as perdas, ainda que isso possa ser o sinónimo de paz e libertação. Lidar com a perda implica um processo de luto, mais ou menos complexo, mais ou menos doloroso, consoante as características do indivíduo enlutado e as circunstâncias da perda.
As sociedades ocidentais têm por norma uma visão da morte um pouco redutora. Temos tendência a evitar o assunto, arranjamos eufemismos para não pronunciar a palavra morte ou morreu. Em vez disso escolhemos dizer partiu ou desapareceu, no intuito de aligeirar algo que traz consigo dor, drama e por vezes uma enorme dificuldade de aceitação. De facto há mortes trágicas, dolorosas e inesperadas, outras contra natura, essas talvez as mais difíceis de aceitar e com processos de luto mais difíceis e sofridos. Mas a morte pode também ser o caminho para a paz, o alívio e a libertação.
A morte encerra em si um ciclo, uma vida. Os sobreviventes tendem a dar-lhe significado, os crentes tendem a acreditar que a morte não é o fim. Talvez esta seja uma perspetiva mais tranquilizadora, e bem-aventurados sejam aqueles que acreditam na vida eterna. As crenças religiosas e de reencarnação, podem ser muito úteis também para ajudar a lidar com a perda e a tornar menos penoso o processo de luto. Porém, seja como for, a morte trás sempre a falta da pessoa e da vida como a ela nos habituamos, e a perda de alguém que nos é querido dói sempre.
Nos casos em que a pessoa está muito doente, debilitada e que não tem já possibilidade de cura ou recuperação, assim como no caso de pessoas muito idosas, cujas capacidades foram sendo perdidas gradualmente, e que o gosto pela vida deu já lugar ao sofrimento e à súplica por morrer, a morte pode vir em forma de libertação e alívio. Os mais próximos, doridos pelo tormento de alguém que amam, e a quem pouco podem fazer, iniciam um processo complexo de luto antecipatório, desejando por vezes que o seu ente querido não viva o dia seguinte. No entanto, este é um processo de uma ambiguidade também ela dolorosa.
Este luto antecipatório ocorre antes da perda, ou seja, quando a morte é já eminente mas ainda não aconteceu. É um processo em que o enlutado não antecipa apenas a perda da pessoa que lhe é querida mas também perdas passadas e atuais. É no confronto com a falta dessa pessoa, tal como ela era antes, nos seus papéis, qualidade da relação, identidade pessoal, etc., que a pessoa em luto experiencia, ainda no período terminal, sentimentos de ausência, solidão e perda. É a ingrata dor que se vai sentindo e que, no momento da morte, recomeça como se não tivesse existido um período prévio de luto.
O “deixar partir” não significa quebrar o vínculo ou desinvestir na qualidade de vida e nos cuidados ao doente A antecipação da perda pode também servir como uma oportunidade para resolver alguns aspetos que possam ter ficado pendentes ao longo da relação, para fortalecer os laços com a pessoa que está a morrer, para dizer algo que nunca foi dito antes, como o quanto a ama, o quanto com ela aprendeu, o quanto sentirá a sua falta ou que nunca a esquecerá. Assim mesmo, o luto antecipatório deve ser visto como um complexo processo individual, com tudo o que de verdadeiro e seguro existe para cada pessoa e para cada relação. É um processo que encerra em si toda uma história de vida, de relação e que culmina na antecipação de dilemas, pensamentos e emoções.
Que a morte pode ser serena, tranquila e libertadora de um martírio, não afasta o pesar da perda aos que são mais próximos. O tempo, esse pode ser o grande aliado, que com o seu passar vai mitigando a tristeza e a dor, transformando-a em paz, quietude e equilíbrio. As memórias, essas ficarão para sempre, para nos aquecerem a alma.