POC! Será esse o meu problema?

A Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) é uma doença do foro psiquiátrico que se caracteriza pela presença de obsessões, isto é, pensamentos, impulsos ou imagens mentais recorrentes e desagradáveis, e/ou compulsões, que são comportamentos repetitivos ou atos mentais que a pessoa se sente na obrigação de realizar em resposta às obsessões.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência da POC em Portugal é de cerca de 4%. Esta organização introduziu a POC na lista das dez condições mais debilitantes em todo o mundo, salientando-se deste modo a importância de um diagnóstico precoce e do entendimento da forma como a patologia se caracteriza clinicamente. Em termos de diagnóstico, os critérios estabelecidos pela American Psychiatric Association (APA) foram definido pela presença de dois dos principais componentes da POC, sendo estes a presença de obsessões e compulsões, que embora possam ser independentes, estão fortemente associados.

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Distimia, uma perturbação depressiva persistente

É sabido que a depressão tem uma expressão significativa na prevalência das perturbações do foro mental. Porém, nem tudo o que parece é. Há que avaliar cuidadosamente cada critério, cada conjunto de sintomas, uma vez que alguns podem ser comuns a mais do que uma perturbação.

A distimia é uma perturbação depressiva caracterizada pela presença de humor depressivo durante a maior parte do dia, manifesto durante pelo menos dois anos no adulto (em crianças) em mais de metade dos dias. O seu diagnóstico assenta no relato subjetivo (ou por observação dos outros) de pelo menos dois ou mais dos seguintes sintomas: aumento ou diminuição do apetite; dificuldades de sono (ex. insónia); cansaço e/ou falta de energia; baixa autoestima; dificuldades de concentração; dificuldade na tomada de decisões e sentimentos de desesperança. No indivíduo com distimia, estes sintomas podem causar mal-estar clinicamente significativo e/ou défice social, ocupacional ou em qualquer outra área do seu funcionamento.

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É de pequenino que se forma o autoconceito

Cada indivíduo, reserva no seu mundo exterior uma parcela destinada à perceção de si mesmo. Da mesma forma que o indivíduo percebe e atribui valor à realidade que o cerca, percebe e atribui valor e significado a si mesmo, formando gradualmente o seu autoconceito.

Desde a infância, e á medida que nos relacionamos com os outros e com os diversos contextos nos quais vamos estando inseridos, desenvolvemos também a nossa perceção de nós mesmos, ou seja, o nosso autoconceito. Assim, com base no modo como nos avaliamos e julgamos a nós próprios, o nosso autoconceito vai-se formando, influenciando de forma direta a nossa autoestima. O autoconceito deriva da forma como interpretamos as nossas emoções, o nosso comportamento e a comparação que fazemos de nós próprios com os outros.

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Ativação comportamental: combater a depressão

As pessoas deprimidas sentem uma diminuição da vontade de executar tarefas, bem como dificuldade em obter satisfação com atividades que anteriormente lhes agradavam. A estruturação comportamental pode ser o primeiro passo, numa caminhada para combater a depressão.

A depressão pode contribuir para a redução do numero de atividades que realiza e com as quais está comprometido/a. Ao mesmo tempo, estar deprimido/a retira a vontade de realizar tarefas que são do seu agrado e que lhe podem trazer bem-estar. Assim, uma forma de lidar com essa dificuldade de agir, é precisamente estruturar o seu dia-a-dia. Sozinho/a ou com o apoio do seu psicólogo/a, a implementação de um plano de estruturação comportamental e o comprometimento com o mesmo, são fundamentais para que possa aos poucos sair dessa “escuridão” que é o estado depressivo.

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Um comportamento, duas adições

Vera é uma mulher de 41 anos com um problema de adição. Tem um consumo abusivo de álcool e tabaco, que por várias vezes diz ter tentado curar. A vida não lhe tem sido fácil e numa consulta verbaliza “por vezes tenho tanto medo de ouvir o meu corpo, de sentir as minhas emoções que prefiro anestesiar-me bebendo só mais um copo, só que depois vem outro e outro…” Num momento de sobriedade, deu um passo em frente e pediu ajuda. Acredita pouco em si para conseguir mudar sozinha, mas tem boas expectativas em relação ao acompanhamento que há semanas decidiu iniciar. Assinamos um compromisso por escrito. “Mesmo à séria” disse ela.

Eu, acredito que ela vai conseguir!

Dê o passo que lhe falta. Procure ajuda!

Terapia Cognitivo-Comportamental e Mindfulness

 A Terapia Cognitivo-Comportamental, desde a sua origem, vem a ser considerada como uma modalidade de tratamento muito eficaz nos mais variados tipos de perturbações psicológicas. Este tipo de terapia prevê a possibilidade da utilização de várias técnicas e “ferramentas” que complementam e auxiliam a ação do psicólogo, nomeadamente a prática de mindfulness.

 A atenção plena ou mindfulness, segundo Goleman e Davidson (2017), é um dos métodos de meditação mais utilizados e divulgados no mundo ocidental, dentro de uma ampla variedade de métodos. Alguns especialistas utilizam o termo mindfulness para definir todo e qualquer tipo de meditação. A prática de mindfulness deriva da filosofia oriental budista, sendo considerada uma das técnicas de meditação mais antigas da Índia. Na filosofia oriental, a atenção plena pode ser definida como uma qualidade mental adquirida e cultivada através da prática da meditação com o intuito de se chegar a um desenvolvimento psicoemocional e espiritual. A meditação, é portanto, uma “ferramenta” capaz de produzir uma conexão completa entre a mente, o corpo e o espírito (Goleman & Davidson, 2017). Meditar é sentir a respiração, com a atenção plena ao que está a acontecer no momento presente, observar e aceitar sem julgamentos as experiências internas, sem avaliar ou tentar modificá-las.

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A ansiedade na infância e a intervenção cognitivo-comportamental

Desde os primórdios da humanidade que nos deparamos com diversos perigos e ameaças à sobrevivência, tendo desenvolvido ao longo dos tempos, estratégias adaptativas de proteção ou de enfrentamento, para lidarmos com as mais variadas situações difíceis ou ameaçadores do quotidiano. Essas situações ocorrem ao longo do ciclo de vida e é desde crianças que devemos aprender a lidar com elas.

Perante uma situação ou acontecimento causador de stresse, o corpo humano está preparado para reagir de forma imediata à ameaça percebida. O cérebro recebe a mensagem de perigo eminente, produz e liberta substâncias químicas que desencadeiam sensações fisiológicas ou psicológicas, como a aceleração do ritmo cardíaco, o aumento da sudação, as alterações ao nível da respiração, os pensamentos de catastrofização e/ou de fuga, entre outras reações possíveis. Essas sensações e cognições têm como finalidade preparar o organismo para se proteger da ameaça e facilitar a reação de fuga ou enfrentamento do problema. Após um determinado período, de duração variável conforme a situação e o indivíduo, estas sensações diminuem por ação do sistema nervoso parassimpático, provocando uma sensação de relaxamento.

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Nós e os outros

O relacionamento com os outros está presente na vida e no quotidiano de todos nós. Ao conjunto de pessoas com quem temos uma relação significativa podemos chamar rede de apoio social. Em psicologia as redes de apoio social mais estudadas são as redes egocêntricas, isto é, as redes centradas numa pessoa específica que é alvo de interesse.

Existem várias formas para definir apoio social. Uma delas é dizermos que corresponde à quantidade e coesão das relações sociais que rodeiam de um modo dinâmico um indivíduo. O apoio social é um processo interativo que visa o bem-estar físico e psicológico. O contacto social promove a saúde e o bem-estar e tem provavelmente uma função de regulação da resposta emocional perante os vários fatores causadores de stresse. De acordo com alguns autores, o apoio social pode ter várias funções: apoio informativo, apoio emocional, apoio de pertença e apoio tangível, desempenhando assim um importantíssimo papel na vida do indivíduo, com impacto muito significativo na sua saúde física e psicológica. Este apoio poderá mesmo exercer influência sobre a mortalidade, uma vez que a sua presença parece estar associada a um melhor funcionamento dos sistemas cardiovascular, endócrino e imunitário, e com repercussões positivas na saúde física. O principal benefício de receber apoio social é a proteção do indivíduo face às consequências negativas do stresse, quer comportamentais, quer psicológicas. Teoricamente, o apoio social pode diminuir a perceção e a avaliação de stresse do indivíduo, perante um determinado acontecimento. Isto poderá também influenciar positivamente processos psicológicos como, estados de humor negativos, baixa autoestima e baixo autocontrolo e autoeficácia.

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Narcisismo, uma personalidade muito particular

Segundo a lenda, Narciso, personagem da mitologia grega, apaixonou-se pela sua própria imagem ao vê-la refletida num lago. Consta que era um jovem de extrema beleza e que despertava grande interesse nas donzelas, no entanto, escolheu viver só, por achar que não havia quem fosse digno de si e do seu amor.

Uma Perturbação da Personalidade pode definir-se como um padrão estável de experiência interna e comportamental, que se afasta marcadamente do esperado para um sujeito de uma determinada cultura. É invasiva, inflexível e tem o seu início na adolescência ou no início da idade adulta, mantendo-se estável ao longo do tempo e causando mal-estar, dificuldades de adaptação ou até mesmo incapacidade. O Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-V) define 10 perturbações de personalidade específicas: paranoide, esquizoide, antissocial, estado-limite ou borderline, histriónica, narcísica, evitante, dependente, obsessivo-compulsiva, alteração da personalidade devida a outra condição médica, perturbação da personalidade com outra especificação e não especificada.

A Perturbação Narcísica da Personalidade caracteriza-se por um padrão global de grandiosidade e necessidade de admiração, bem como na ausência de empatia com o outro. É um tipo de perturbação do foro mental que tem o seu início no começo da idade adulta e que está presente numa variedade de contextos. Os sujeitos com esta perturbação tendem a sobrevalorizar as suas capacidades e a exagerar os seus feitos, sendo com frequência apelidados de vaidosos e gabarolas. Consideram que os outros lhes atribuem o mesmo valor que eles próprios julgam ter e surpreendem-se quando não têm o reconhecimento que esperam e julgam merecer.

É frequente o indivíduo narcísico desvalorizar as capacidades dos outros, sempre que as compara com as suas próprias capacidades e fantasiar com o seu sucesso ilimitado, poder, brilho e beleza. Apresenta pensamentos ruminantes acerca de uma merecida admiração e tem tendência para comparar-se favoravelmente com pessoas influentes, privilegiadas e famosas. As pessoas com este tipo de personalidade consideram-se superiores, raras e especiais, esperando que os outros as reconheçam como tal. Sentem que só se devem associar a pessoas que consideram igualmente especiais ou de elevado estatuto, acreditando que as suas necessidades são também elas especiais e que não estão ao alcance das pessoas comuns.

O narcísico tem uma autoestima elevada, espelhada pelo valor idealizado que atribui às pessoas a quem se associa, e procura juntar-se com indivíduos de profissões diferenciadas e nível socioeconómico alto, desvalorizando o “comum dos mortais”. Esta autoestima elevada é no entanto frágil, uma vez que o indivíduo narcisista mantém uma preocupação excessiva com o quão bem se está a sair e quão favoravelmente é considerado pelos outros, uma vez que possui uma necessidade excessiva de admiração que nem sempre é expressa, defraudando as suas expectativas.. Adora e espera ser sempre recebido com “pompa e circunstância”, ficando muito espantado com a possível indiferença dos outros, procurando sucessivamente o elogio e agindo de forma sedutora.

Uma pessoa com personalidade narcísica espera dos outros alguma inveja e subserviência, ficando surpresa quando isso não acontece. Tem um elevado sentido de reverência a par com uma inabilidade para compreender as necessidades do outro, o que pode levar a situações de desrespeito e exploração, intencional ou não. A falta de empatia é uma característica muito vincada no narcisista. Estes indivíduos têm enorme dificuldade em identificar e compreender os sentimentos das outras pessoas, tendendo a desvaloriza-las, colocando sempre os seus sentimentos em primeiro lugar. Discutem os seus problemas com exagerado pormenor e por vezes de forma desadequada, desprezando e impacientando-se quando são os outros a falar dos seus assuntos e das suas preocupações.

A Perturbação Narcísica da Personalidade tem uma prevalência estimada de 0 a 6,2% na população e 50% a 75% dos casos diagnosticados são homens. A característica mais relevante na discriminação desta perturbação em relação à perturbação histriónica (sedutor), antissocial (insensível) ou borderline (dependente) é a grandiosidade. A relativa estabilidade da autoimagem, bem como a ausência de auto destrutividade, impulsividade e preocupação de abandono, distinguem a perturbação narcísica da perturbação borderline de personalidade. O excessivo orgulho nos seus feitos, o desdém pela sensibilidade alheia e a relativa ausência de manifestação dos sentimentos, ajudam a distinguir esta perturbação da perturbação histriónica. Os sujeitos com perturbação narcísica e perturbação antissocial tendem a ser rígidos, superficiais, exploradores e sem empatia, no entanto, os narcísicos não incluem habitualmente características de agressividade, impulsividade ou dolo.

O narcisismo é uma das construções de personalidade mais antigas conhecidas. Porém, continua a ser fonte de discussão científica, nomeadamente nas áreas da teoria clínica, do diagnóstico psiquiátrico e da psicologia. É uma síndrome desafiante, complexa de entender, heterogénea na sua apresentação e difícil de tratar, prejudicando também o tratamento de outras patologias do foro mental que possam estar presentes, como por exemplo a perturbação depressiva, a ansiedade ou o abuso de substâncias. É uma perturbação que pode incluir manifestações de grandiosidade alternadas com vulnerabilidade, conforme o contexto ou o momento/situação do sujeito, o que por si só dificulta o tratamento. Das várias abordagens psicoterapêuticas disponíveis, as de maior sucesso parecem ser as do grupo das terapias cognitivo-comportamental.

Fonte: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais – Quinta Edição (DSM-V). American Psychiatric Association.

Ciúme e amor romântico

O ciúme é uma emoção universal, que em maior ou menor grau, todo o ser humano experiencia, em algum momento da sua vida. Transversal às relações pessoais e sociais, o ciúme pode ser vivenciado em diversos tipos de relacionamentos: romântico, familiar ou de amizade.

Definir o ciúme não é fácil, mais fácil é sem dúvida identifica-lo. No entanto, podemos referir as suas principais características que incluem o facto de ser um sentimento perante uma ameaça percebida, que pressupõe a existência de um rival, quer este seja real ou imaginário, e é uma reação que tem como objetivo eliminar o risco da perda do “objeto amado”. Foquemo-nos então no amor romântico e no respetivo ciúme. Este é um ciúme que acontece entre casais, tipificado por um conjunto complexo de pensamentos, emoções e ações perante a ameaça da perda do amor do outro e do respetivo relacionamento. O ciúme decorre da existência de um triângulo social, ainda que imaginário o que desperta sentimentos como o medo, a raiva ou a tristeza e que podem levar o indivíduo a comportamentos por vezes irracionais e desadequados.

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