O Sono na adolescência

O Sono na Adolescência

Parece ser do conhecimento comum que os adolescentes não andam a dormir muito, nem muito bem, mas será que eles têm consciência disso e do impacto que os problemas de sono têm nas suas vidas?

Um estudo feito com jovens entre os 14 e os 20 anos de idade, sobre as crenças e conhecimentos dos adolescentes sobre o sono (Santos, G., 2016) mostra que os adolescentes têm um conhecimento adequado e coerente sobre o sono, em relação aos determinantes, consequentes e hábitos de higiene do sono, estando de modo geral em conformidade com o que vem descrito na literatura. No entanto parece haver uma tendência para uma generalização excessiva da frequência de dificuldades de sono, o que pode facilitar a sua banalização e a não implementação de estratégias remediativas ou de procura de ajuda.

Para estes jovens, o sono é visto principalmente como facilitador do bem-estar físico e psicológico e as características do sono de qualidade são avaliadas em termos de como cumprem essa função, mas também em relação à duração do sono e à facilidade em adormecer e em manter o sono, o que por sua vez vai ao encontro da insónia, perturbação do sono que os jovens consideram ser a mais frequente na adolescência.

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Como causas para os problemas de sono, apontam essencialmente para questões emocionais. No entanto, os mais novos dão também destaque à má utilização de dispositivos eletrónicos enquanto os mais velhos enfatizam as dificuldades em conciliar horários, quer por razões lúdicas de convívio com os pares, quer pelo aumento das exigências académicas.
Na adolescência as obrigações da vida escolar tornam-se cada vez mais exigentes e os jovens parecem relaciona-las com as dificuldades de sono de uma forma bidireccional. Se por um lado o facto de dormirem pouco lhes pode perturbar o funcionamento cognitivo em termos de atenção e concentração, por outro lado, o facto de terem exigências escolares maiores também os pode obrigar a terem que reduzir o tempo de sono.
Das principais consequências da má qualidade do sono percepcionadas pelos adolescentes têm destaque o mal-estar físico e psicológico, embora os efeitos negativos no funcionamento cognitivo, desempenho escolar e nas relações interpessoais também sejam valorizados.
Em relação às estratégias/práticas de higiene do sono, os jovens deram preferência a estratégias de estruturação comportamental, quer implementadas por si mesmos, quer orientadas pelos pais.
A importância atribuída à segurança afectiva proporcionada pela família parece poder contrariar algumas ideias pré-concebidas de que os adolescentes tendem a não a valorizar neste aspecto. No entanto, quase todos os participantes mostraram apreço por alguma atenção e manifestações de afecto na regulação das emoções e promoção do bem-estar psicológico antes de dormir.

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Para além dos aspectos relacionados com a segurança afectiva, verificou-se ainda uma forte importância atribuída pelos jovens ao papel dos pais, particularmente no controlo das práticas de má higiene do sono, por parte dos mais novos, sendo que os mais velhos salientam o ensino e aconselhamento de hábitos adequados de higiene do sono, ressalvando que estas tarefas dos pais seriam mais eficazes se ocorressem ao longo da infância dos filhos e não apenas na adolescência.
Nas várias dimensões avaliadas os resultados são convergentes com uma direcção desenvolvimentista, uma vez que mostram que, à medida que vão ficando mais velhos, os adolescentes tendem a destacar uma dimensão mais psicológica do problema, revelando um pensamento mais abstracto. Por exemplo, no caso das consequências do sono de má qualidade os participantes mais novos têm tendência a acentuar consequências ao nível físico concretas (dores de cabeça, dores musculares) enquanto os mais velhos destacam as consequências ao nível do mal-estar psicológico (impaciência, impulsividade, irritabilidade) revelando um pensamento mais abstracto. Também em relação à função do sono, os participantes mais novos tendem a ver o sono maioritariamente como facilitador do restabelecimento físico ao passo que os mais velhos destacam uma função cognitiva do sono, isto é, de repouso da função cerebral.
Apesar de reconhecidas as consequências negativas para a saúde, decorrentes da má qualidade do sono, este facto parece ser visto com algum grau de banalização, possivelmente devido à incompatibilidade entre as necessidades reais de sono dos adolescentes e do sono que normalmente conseguem obter, especialmente em dias de semana. Este aspecto é bastante relevante porque aponta para uma área de intervenção psicoeducativa importante, não apenas para os jovens mas também para os pais e educadores, uma vez que os próprios adolescentes valorizam a intervenção parental.

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Os jovens consideram importante que as acções de formação/intervenção incluam pais, de preferência durante a infância dos filhos de modo a poderem promover o enraizamento de hábitos de sono salutares ao longo do desenvolvimento da criança.
Assim, a intervenção educativa e preventiva poderá ser a mais adequada com destaque para o incentivo à criação de rotinas que incluam as estratégias de estruturação comportamental uma vez que estas são as mais referidas pelos adolescentes e também percepcionadas como as mais eficazes.

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