Faz-me sentido distinguir envelhecimento de velhice. A forma como o indivíduo enfrenta as dificuldades, resolve os problemas, escolhe as estratégias que lhe permitem viver melhor e sobretudo a forma como se relaciona com o mundo e com os outros, leva-me a considerar que não é apenas a idade cronológica, as rugas e outras alterações do aspecto físico, que determinam que se é velho.
Parece-me que ser velho, se relaciona fortemente com a perda de capacidades que impedem que o individuo se mantenha autónomo, quer a nível físico como mental, e ainda com a perda da capacidade de sonhar e de projectar o futuro. É inegável que a passagem dos anos coloca características como a atractividade, força física, a facilidade em adquirir novos conhecimentos e outras capacidades cognitivas, numa curva descendente, contudo, os conhecimentos adquiridos, a sabedoria, o respeito por parte dos outros e até mesmo a satisfação com a vida têm tendência a aumentar.
As transformações socioeconómicas e políticas assim como a evolução da medicina têm contribuído para aumentar a esperança média de vida das populações. Por outro lado, as cíclicas crises económicas têm sido um dos factores responsáveis pela baixa taxa de natalidade em vários países, como é o caso de Portugal. Assim, e à semelhança de outras zonas do globo, depara-mo-nos neste momento com uma grande fatia da população com idades acima dos 65 anos. Considerando que se convencionou que a terceira idade começa aqui, assumo que temos uma população envelhecida. E sendo o envelhecimento uma inevitabilidade há que saber viver cada fase deste processo de um modo positivo e procurar dar maior ênfase aos ganhos do que às perdas.
Parece-me importante fazer e manter amizades de modo a aumentar a nossa rede de apoio social pois à medida que se vão perdendo familiares e amigos, os “novos” serão certamente uma grande ajuda para ultrapassarmos as nossas perdas. Do mesmo modo, é também importante para a autoestima e autoconfiança do mais velho, saber que é útil aos outros e transmitir-lhes conhecimentos adquiridos ao longo de uma vida por vezes já muito longa.
As academias de ocupação de tempos livres para os mais velhos podem também constituir uma boa opção para que estes se sintam acompanhados e ocupados ao mesmo tempo que lhes permite exercitar, não só as suas capacidades cognitivas, como físicas e intelectuais. Desde que os indivíduos reúnam condições físicas e económicas, as actividades lúdicas, convívios e viagens podem também contribuir para um dia-a-dia mais feliz desta fase da vida mais tardia. As perspectivas acerca do envelhecimento são multidimensionais e têm reflexos diferenciados consoante o enquadramento cultural em que o indivíduo se insere, não obstante, estudos transculturais revelam um consenso generalizado no que diz respeito ao que é comum a todos os indivíduos idosos: sabedoria vs. Limitações físicas. Saliento ainda que o tipo de personalidade do indivíduo determina o modo como este conduz a sua vida e consequentemente o seu processo de envelhecimento.
Assumindo que o melhor preditor do futuro é o passado, o optimismo, a alegria de viver e a facilidade de se relacionar com os outros, são exemplos de características que não têm que ser exclusivas dos mais jovens, e que pelo contrário, podem acompanhar o indivíduo ao longo de todo o seu ciclo de vida, independentemente das “pedras” que se vão atravessando no seu caminho. Será então bom viver muitos e muitos anos? A resposta a esta pergunta dependerá seguramente de vários factores mas principalmente das expectativas que cada um tem, em relação ao dia seguinte.