As férias vão-se aproximando a passos largos, á medida que os dias ficam mais quentes e soalheiros. O tão desejado e necessário período de férias de verão está à porta! Mas será que sabemos utilizar os dias de descanso para realmente descansar e repor energias? E também para refletir sobre a forma como a vida profissional pode estar a afetar de forma negativa a nossa saúde?
O descanso e o “desligar” das atividades profissionais/escolares é necessário para o restabelecimento do corpo e da mente, após o desgaste físico e psicológico decorrentes de meses de um dia-a-dia rotineiro e exigente. O excesso de trabalho e de solicitações pode levar a situações de esgotamento físico e psicológico – o Burnout. Este resulta do stresse crónico mal gerido, associado principalmente ao trabalho, e caracteriza-se por uma sensação de falta de energia ou exaustão, distanciamento mental face à atividade profissional, sentimentos negativos e perda de eficiência relativamente ao próprio trabalho, com consequências graves para a saúde física e mental. Um inquérito da DECO PROTESTE (2018) apontou para a existência de cerca de 30% de pessoas em situação de Burnout em Portugal, ou seja, uma percentagem bastante significativa.
Os indivíduos em Burnout apresentam frequentemente sintomatologia depressiva, cansaço extremo, dores de cabeça, alterações do sono, dificuldades de atenção, de concentração e de raciocínio. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o stresse profissional pode ocorrer sempre que as exigências laborais são desajustadas em relação às competências e capacidades do trabalhador, agravando-se nos casos em que o profissional tem a perceção de que não controla o processo de trabalho e/ou quando se sente pouco apoiado pelas chefias e/ou colegas de trabalho. Concorrem ainda para o desenvolvimento de situações de Burnout, a monotonia das tarefas, os ambientes de trabalho tensos e desorganizados, a falta de apoio social e o desequilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal.
A prevenção do Burnout pode passar pela possibilidade de se gozar férias e descansar, tendo em vista o “recarregar baterias”, antes de voltar a enfrentar mais uma temporada de dedicação ao trabalho ou ao estudo. No entanto, muitas pessoas mesmo durante as férias não conseguem desligar dos problemas e de algumas rotinas do trabalho. Verificar a caixa de email ou manter o contacto com clientes, são exemplos de comportamentos que algumas pessoas mantêm durante o período de descanso e que não lhes permitem afastar das rotinas e do stresse laboral. Outras pessoas optam por férias de tal forma intensas em atividades lúdicas e de convívio que não lhes sobra tempo para descansar, relaxar e recuperar do desgaste físico e mental, causado pelo ano de trabalho.
Comece pelo planeamento das férias e procure destinar se possível, um período mínimo de duas semanas. Isto dará ao organismo o tempo necessário para se adaptar a uma mudança de ritmo, desacelerar e desfrutar do descanso merecido. Antes de ir de férias, é recomendável que se possam ser resolvidas questões pendentes de ordem prática, no sentido de evitar que estas possam contribuir para a manutenção do stresse e agravamento da situação de esgotamento. Afastar-se de telefonemas e mensagens pode também ser uma estratégia eficaz. Embora possam ser pontuais, os telefonemas de trabalho, podem constituir uma sobrecarga que se pode traduzir em alterações do humor, irritabilidade ou mal-estar emocional, que irá dificultar que o indivíduo descontraia e aproveite. É também desejável que se procure sair da rotina do dia-a-dia e que se introduza o fator novidade. Ir para outro lugar ou praticar atividades diferentes, principalmente ao ar livre, ajuda a quebrar a monotonia. A mudança de contexto pode facilitar a mudança das respostas habituais, reduzindo o stresse e promovendo o bem-estar.
Um cérebro mais descansado é também mais saudável, mais criativo e mais produtivo. Para isso, dormir bem é importante, bem como optar por uma alimentação saudável e variada e pela prática de atividade física. Estas práticas irão certamente contribuir para a recuperação do bem-estar, e preparar o indivíduo para mais um período, por vezes longo, de trabalho. Ao parar e desligar-se das rotinas e das atividades do quotidiano, o indivíduo poderá com distanciamento, olhar para os problemas de uma forma diferente, com outra perspetiva e por vezes ver com maior clareza, relativizando e encontrando soluções mais facilmente. Aproveitar as férias para redefinir prioridades, fazer um balanço da vida profissional e da forma como ela afeta a sua vida pessoal, podem também ajudar a avaliar com maior clareza o percurso de vida e as possíveis mudanças a efetuar, com vista a uma maior realização profissional, equilíbrio, bem-estar pessoal e satisfação com a vida.
Fontes:
https://www.deco.proteste.pt/saude/doencas/noticias/burnout-um-terco-dos-portugueses-em-risco#
Gracinda e a Psicologia 