
Todos os dias há milhares de crianças que são vítimas de violência por exposição ao conflito parental, o que leva a que fiquem mais vulneráveis ao aparecimento de problemas emocionais, com repercussão no seu comportamento, desempenho cognitivo e desenvolvimento global.
A violência doméstica, nomeadamente entre casais, é um flagelo da sociedade, tanto em termos de violação dos direitos humanos, como de saúde pública. O conflito violento sistemático entre os pais ou outras figuras presentes no contexto familiar, quer envolva agressão física, psicológica, verbal ou sexual, afeta gravemente a criança a ele exposta, ainda que os atos violentos não sejam perpetrados diretamente sobre ela.

Durante muito tempo, as crianças, por não serem vítimas diretas, não eram levadas em consideração. No entanto, principalmente nos últimos 10 anos, tem-se procurado avaliar e compreender o impacto sofrido pelas crianças que testemunham estes atos de violência dentro do seu seio familiar. A exposição das crianças à violência entre os pais, ou outros que os substituam, implica que estas vejam ou ouçam os atos violentos/agressões, que estejam diretamente envolvidas na situação de conflito, que observem e vivenciem as consequências resultantes da vitimização da vítima direta, ou ainda que tenham conhecimento do conflito através de terceiros.

Como anteriormente referido, em consequência da exposição aos acontecimentos violentos, as crianças terão uma maior tendência para virem a apresentar dificuldades em vários domínios do seu desenvolvimento, como o comportamental, o emocional, o cognitivo e o social. Deste modo, a exposição á violência potencia o risco para o desenvolvimento de perturbações como a depressão, a ansiedade (ex. somatização), as dificuldades de sono, a baixa autoestima e as perturbações do comportamento (ex. comportamento alimentar), bem como verem reduzido o seu desempenho escolar, por via das dificuldades de atenção, concentração e memória.

Sendo a violência doméstica um crime público, cabe a todos nós estarmos atentos e denunciar, no sentido de proteger não só a vítima direta como as crianças que de alguma forma sejam violentadas por testemunharem os atos de agressão. A proteção destas crianças fará certamente a diferença no modo como se vão desenvolver e nos adultos em que se vão tornar.

Fonte:
Carlson, B. E. (2000). Children exposed to intimate partner violence: Research findings and implications for intervention. Trauma Violence Abuse, 1(4), 321-342.