Perturbação de Jogos de Internet

A Internet permite uma vasta utilização, que vai desde a comunicação aos mais variados níveis, até entretenimento e lazer. Porém, nos dias de hoje, assiste-se cada vez mais a sérias dificuldades no controlo da sua utilização, nomeadamente no que se refere aos jogos, que vai desde uma utilização equilibrada á dependência.

O Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-V) descreve a Perturbação de Jogos de Internet (também referida como Adição á Internet ou Adição a jogos) como o uso persistente e recorrente da Internet para envolvimento em jogos, frequentemente com outros jogadores, que conduz a défices ou mal-estar clinicamente significativo, indicado por critérios específicos. De notar que esta perturbação é distinta da Perturbação de jogo patológico na Internet, que se inclui noutra categoria. Assim, a Perturbação de Jogos de Internet implica que por um período de 12 meses o jogador torna na principal atividade da sua vida, o jogo na Internet, antecipando a realização do próximo jogo e pensando constantemente sobre as atividades do jogo.

O indivíduo com esta perturbação sofre de sintomas de abstinência quando os jogos de Internet lhe são retirados. Estes sintomas são tipicamente a irritabilidade, ansiedade ou tristeza. Em termos de tolerância, estes indivíduos têm necessidade de despender quantidades crescentes de tempo, envolvido em jogos de Internet. De igual modo, executa tentativas mal sucedidas de controlar a sua participação nesses jogos. Há por parte destas pessoas a perda do interesse em passatempos e atividades de entretenimento prévias, pelo uso excessivo de jogos de Internet.

Estes indivíduos, apesar de poderem ter consciência dos problemas psicossociais causados pelo uso excessivo e continuado de jogos de Internet, não deixam de manter este comportamento. Tendem a enganar os elementos da família, os psicólogos ou outros, em relação ao tempo que passam a jogar. Os comportamentos destes indivíduos tornam-se circulares, na medida em que jogam para evitar ou aliviar o humor negativo, ansiedade, culpa ou desesperança. As relações pessoais significativas, o trabalho ou oportunidades educacionais ou de carreira, ficam muitas vezes comprometidos devido a esta perturbação.

A Perturbação de Jogos de Internet inclui apenas os jogos de Internet que não implicam apostas. O uso da Internet para outros fins, como atividades relacionadas com negócios ou com a profissão, também não se incluem nesta perturbação, tal como outro tipo de uso recreativo ou social. Esta perturbação pode ser ligeira, moderada ou grave, dependendo do grau de disrupção das atividades normais, ou seja, indivíduos com Perturbação de Jogos de Internet ligeira, revelam menor disrupção nas suas vidas e menos sintomas de abstinência. Aqueles que apresentam uma perturbação mais grave, gastam mais horas nessa atividade e apresentam por norma, uma perda mais grave nos relacionamentos e na funcionalidade.

A Perturbação de Jogos de Internet envolve frequentemente jogos específicos mas pode envolver também jogos de computador que não sejam da Internet, apesar de estes serem menos estudados. É provável que os jogos preferidos variem ao longo do tempo á medida em que novos jogos são desenvolvidos e se popularizam. O jogo patológico é atualmente a única perturbação não relacionada com substâncias, incluído nas perturbações aditivas do DSM-V. A literatura descreve muitas semelhanças subjacentes às adições a substâncias, incluindo aspetos de tolerância, abstinência, tentativas mal sucedidas repetidas para reduzir ou parar os comportamentos e défices na funcionalidade normal.

A elevada taxa de prevalência desta perturbação, não só nos países Asiáticos como no Ocidente, justificam a sua inclusão no já referido manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais. Esta perturbação tem uma importância significativa na saúde pública, ao ponto de ser considerada uma perturbação independente. Em termos de prevalência esta perturbação parece ser mais acentuada no género masculino e na faixa etária 12 – 20 anos. Os fatores de risco podem incluir a disponibilidade de acesso ao computador e á Internet, o género e a faixa etária ou até mesmo a genética e está frequentemente associado á Depressão, Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção ou Perturbação Obsessivo-Compulsiva.

Fonte:

DSM-V – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (Quinta edição) de American Pshychiatric Association.

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