
O ser humano, na sua luta pela sobrevivência, tem desde sempre a necessidade de se proteger perante situações adversas e ameaçadoras, que fazem parte do seu quotidiano. Nessas situações, o organismo está preparado para uma reação imediata perante o perigo, através da libertação de substâncias químicas que produzem sensações físicas e mentais, como a aceleração dos batimentos cardíacos, o aumento da transpiração, o estado de alerta, o instinto de fuga ou pelo contrário, o instinto de enfrentamento da situação potencialmente perigosa.
Todas estas sensações têm o propósito de preparar o organismo para uma reação de proteção frente ao perigo. Algum tempo depois, estas sensações diminuem devido à ação do sistema nervoso parassimpático, o que provoca uma sensação de relaxamento. Além das respostas fisiológicas, são ativados mecanismos cognitivos (antecipação de consequências desastrosas), motivacionais (desejo de estar longe da situação traumática), emocionais (sentimento de medo) e comportamentais (fuga ou ação).

Todo este conjunto de alterações físicas e emocionais está na base das perturbações de ansiedade. Contudo, as pessoas são diferentes entre si por motivos, por exemplo, culturais e manifestam a ansiedade de diferentes formas. Dependendo do género, da idade e da inserção em grupos sociais, também é comum a existência de variações na expressão dos sintomas. As perturbações de ansiedade podem afetar as pessoas em qualquer fase da vida, podendo tornar-se num problema psiquiátrico, quando a sua intensidade impede o normal funcionamento do indivíduo.

A ansiedade a um nível patológico pode ter um grande impacto na vida social e escolar das crianças, podendo levar a sérias consequências futuras. No espectro das perturbações psiquiátricas, a ansiedade é considerada por diversos autores como a mais comum na infância e na adolescência, havendo uma tendência para que possa persistir na vida adulta, caso não seja tratada. É comum as crianças apresentarem ao mesmo tempo mais de uma perturbação, estimando-se que cerca de metade das crianças com perturbação de ansiedade possua outra perturbação associada, como por exemplo alguma perturbação do comportamento.

Na origem das perturbações de ansiedade podem estar fatores biológicos e familiares. A transmissão genética de pais para filhos está estimada em cerca de 50% da predisposição para a ansiedade. O relacionamento inseguro da criança com seus cuidadores é outro fator importante para se compreender os sintomas de ansiedade. Baseado nas reações dos pais e no tipo de relacionamento estabelecido entre pais e filhos, a criança pequena cria seu próprio modelo de funcionamento interno frente às situações da vida.

Com o desenvolvimento da criança, as suas experiências de vida irão influenciar a forma como esta lida com a ansiedade. A existência de conflito parental, a forma como os pais se relacionam entre si, as suas estratégias educativas, as crenças dos pais em relação aos filhos, são exemplos de aspetos que podem estar associados ao desenvolvimento de perturbações de ansiedade na infância.

Em resumo, podemos dizer que a ansiedade é uma reação de defesa comum frente ao perigo ou situações consideradas ameaçadoras. Caracteriza-se por um grande mal-estar físico e psicológico, aflição e agonia. É uma reação comum a todos os indivíduos e faz parte dos mecanismos fisiológicos de resposta, do ser humano ao stresse. No caso das crianças, transforma-se em perturbação quando atinge uma intensidade e frequência que interfere com a sua funcionalidade, nos contextos em que esta se insere, nomeadamente na vida familiar e na escola.
Fontes:
Beck, A. T. (1985). Theoretical perspectives on clinical anxiety. In A. H. Tuma & J. D. Maser (Eds.), Anxiety and the anxiety disorders (pp. 183–196). Lawrence Erlbaum Associates, Inc.
Craske, M. G. (1999). Anxiety disorders: Psychological approaches to theory and treatment. Westview Press.