Chorar, por Morrie Schwartz

“Sofra e chore por si próprio, não uma ou duas vezes mas repetidamente. O sofrimento é catártico e conforta, sendo uma forma de manter a serenidade”.

“Sofrer, sentir pesar, chorar, resultam de emoções naturais, que surgem pronta e facilmente se não forem bloqueadas por interdições culturais, expectativas ou distorções. O sofrimento é uma parte importante da vida porque experimentar a perda, é inevitável para todos nós. Quanto mais envelhecermos por mais perdas passaremos. Logo, é necessário encontrar uma forma de lidarmos com a dor. A melhor forma é permitirmo-nos sentir tristeza à vontade e fazer o luto das perdas. Pode ser que nos apeteça chorá-las, e sem este tipo de libertação e escape, é possível que fiquemos com uma dor interior que nos afete a vários níveis”.

“Habitualmente pensamos em chorar a perda de pessoas, os nossos pais ou outros entes queridos, mas não pensamos muito sobre chorar por nós próprios. Chorar por mim mesmo contribui de forma importante para a minha serenidade. Como é que o faço? Permito-me experimentar a dor, a tristeza, o desespero, a amargura, a raiva, o pavor, o remorso e a sensação de me estar a acabar antes da minha hora. Deixo as lágrimas caírem até que se esgotem. Depois começo a pensar sobre o motivo por que choro. Choro pela minha morte, pelo separar-me das pessoas que amo, pela sensação de ter assuntos inacabados e por deixar a beleza deste mundo. Chorar ajuda-me gradualmente a aceitar o fim, o facto de que todos os seres vivos morrem”.

“A dor nunca acaba de repente, com uma única efusão. A necessidade de chorar, lamentar, gemer e soluçar pode regressar uma e outra vez. Permita-se sentir a profundidade das suas lágrimas. No meu caso choro muito. Lágrimas grandes, lágrimas furtivas, lágrimas apenas perceptíveis. Choro sozinho e choro com outras pessoas. Vejo o pesar como forma de prestar homenagem á vida e á forma como nós, seres humanos, homenageamos os nossos mortos, os que já partiram, as nossas perdas. Na tradição judaica choramos um ente querido rasgando as roupas (simbolicamente rasgando os nossos corações) para expressar a nossa dor e sensação de perda. Pode expressar-se a sensação de perda de outras formas mas eu sabia que chorar funcionaria comigo”.

Morrie Schwartz in Amar e viver, 1999.

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