O possível efeito terapêutico da Banda Desenhada

A arte em geral, e a Banda Desenhada em particular, têm várias funcionalidades, entre elas a diversão, a educação, a libertação de tensões e até mesmo a catarse. Será correto afirmar que a Banda Desenhada, à semelhança de outras formas de arte ou de literatura, tem um poder terapêutico sobre o seu criador e sobre quem a aprecia?

A Banda Desenhada, designada por alguns como “a 9ª arte” e também conhecida como “arte sequencial”, é uma forma de arte que conjuga texto e imagens, com o objetivo de narrar histórias dos mais variados géneros, sendo estas em geral, publicadas no formato de revistas, livros, ou em tiras publicadas em revistas e jornais. O objetivo do artista, consiste essencialmente na transmissão de uma mensagem que vai ser percepcionada pelo leitor, através da descodificação e interpretação de estímulos visuais. Com base em conhecimentos anteriores e envolvendo vários recursos cognitivos, o leitor vai tomar consciência, através da emoção e dos efeitos que lhe provoca a apreciação da obra, sendo que a sua expectativa e o contexto irão também determinar o modo como este a vai interpretar.

As características particulares do desenho enquanto forma de expressão, e uma vez que toma especial importância no caso da Banda Desenhada, tornam a sua percepção e apreciação numa experiencia rica e criativa. A conjugação do desenho com a escrita, permitem ao criador, a expressão das suas ideias, sentimentos e emoções o que poderá permitir uma avaliação não só a nível cognitivo como também emocional, não só do artista como também do apreciador, tendo em conta as suas escolhas como indicadores do seu tipo de personalidade.

No seu encontro com a arte, esta desperta no artista efeitos ou sentimentos de entusiasmo, tensão, desafio e ao mesmo tempo sensações satisfatórias de relaxamento, tranquilidade e realização. Deste modo podemos entender a escrita e o desenho como uma forma de libertação promotora de bem-estar e de felicidade. Assim, ao expor no papel as suas emoções, através da representação do seu imaginário, o autor poderá estar a imprimir à sua obra o seu carácter, a sua personalidade e até o seu estado de espírito.

A Banda Desenhada é sem dúvida uma arte facilitadora do processo de comunicação, na medida em que ajuda o indivíduo (criador) a expor os seus sentimentos, crenças ou pensamentos, podendo ser utilizada como processo de terapia na busca da obtenção de benefícios para si mesmo. Contar, uma história, criar um personagem e dar-lhes nome, identidade, poderá criar no artista um sentimento de liberdade e bem-estar ao mesmo tempo que liberta a sua imaginação e a sua carga emocional. Escrever, desenhar, pintar pode ajudar a entender melhor o mundo ou através desse modo de expressão, representar um mundo que se julga ideal e que faz parte tanto do imaginário individual como coletivo. Assim, o criador de Banda Desenhada pode colocar nas histórias que constrói, experiências que já viveu, ou gostaria de viver e dar ênfase às componentes emocionais da sua experiência própria, no sentido de poder libertar-se de aspectos negativos ou realçar aspectos mais positivos de uma forma criativa e libertadora.

Do mesmo modo, o leitor/apreciador, pode através de uma leitura tão rica em simbolismo, identificar-se com a história ou com o personagem e encontrar alívio e conforto para algumas das suas angústias, esquece-las por algum tempo ou até mesmo encontrar respostas com vista à resolução alguns dos seus problemas. Pode servir como um escape ou para um momento de diversão no caso dos livros ou revistas de humor. Através do exagero de poderes de certos personagens e da exacerbação de determinados comportamentos e emoções, o indivíduo é transportado para um mundo de fantasia e irrealidade que poderá servir como elemento libertador de tensões. Pode ainda utilizar a apreciação da arte como estratégia de coping, “viajar no tempo” e reencontrar-se com uma infância já distante constituída de boas memórias, recuperando desta forma sentimentos e emoções positivas.

Qualquer que seja a sua escolha, ler pode ser uma boa estratégia, tanto de distração para ajudar a lidar com a ansiedade, como de estruturação comportamental, para ajudar a reduzir sintomatologia depressiva. Leia, por estes motivos, por muitos outros, ou simplesmente pelo prazer de ler!

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