Em psicologia clínica, no acompanhamentos de indivíduos com Perturbações do Comportamento Alimentar (PCA), são muitos os desafios lançados à pessoa doente. Nenhum é fácil de aceitar, uma vez que implicam mudanças comportamentais difíceis de implementar, principalmente devido à típica inflexibilidade cognitiva do doente, mas também aos padrões rígidos de funcionamento que “cimentaram” hábitos desajustados e difíceis de reverter.
O pensamento rígido, fortemente associado aos indivíduos com PCA, dificulta que estes consigam contemplar perspetivas diferentes acerca de si próprios, da doença e do processo de tratamento, que visa sobretudo modificar a forma de pensar, de sentir e de se comportar. Por isso, não há “volta a dar” e sem mudança não há melhorias… O processo de mudança tem como objetivo final o reconhecimento e a consciência da sensação de fome e saciedade de modo a permitir que a pessoa possa fazer uma alimentação mais intuitiva, ao invés de seguir uma regra rígida que imponha os momentos de comer e do que comer.

É um processo em que o doente é incentivado a fazer escolhas livres e a ter consciência delas. Pretende-se que o indivíduo coma num horário mais flexível, quantidades e qualidades variáveis de alimento, de forma racional, todos os dias. É passar a fazer uma alimentação equilibrada e saudável, tendo como objetivo alcançar e manter a saúde, desfocando-se do peso e das medidas corporais. Em tratamento, o doente com PCA deixa de ter “alimentos proibidos” o que pode ser assustador, numa fase inicial… Isto vai conferir ao doente, uma liberdade para que faça as suas escolhas alimentares, podendo comer tudo o que gosta, sem excessos e de forma racional, todos os dias.

As PCA são, pelas suas características, das perturbações psiquiátricas mais difíceis de tratar, o que pode conduzir por vezes ao desânimo por parte do doente e á frustração, por parte dos técnicos que o acompanham. É um caminho lento e por vezes com avanços e recuos. No entanto, com um bom suporte multidisciplinar, emocional e familiar, o caminho vai-se fazendo, passo a passo e o resultado é certamente libertador!
Mude a maneira como pensa sobre si mesmo e sobre a comida!