Muitos dos pedidos de ajuda que chegam à consulta de psicologia clínica, incluem as dificuldades do foro emocional, particularmente no que se refere a sentimentos de medo e ansiedade. Muitos pacientes têm grande dificuldade em experienciar e conviver com as suas experiências emocionais mais intensas e disfuncionais, pois estas vêm acompanhadas de desconforto ou até mesmo de intenso sofrimento emocional (e físico).
“Uma vida ao serviço do desejo de não sentir ansiedade nem medo, especialmente quando regrada de forma rígida e inflexível, pode ter um impacto muito limitador, sendo possível que esse modo de operar defina de forma extensiva, a vida dos pacientes que chegam ao consultório à procura de ajuda” (Lucena-Santos, Pinto-Gouveia & Oliveira, 2015). Entendendo o autoconhecimento como a capacidade do indivíduo para se conhecer a si mesmo e ao seu padrão de funcionamento psicológico, é ele que possibilita o aperfeiçoamento de todas as outras competências psicológicas. “ (…) O autoconhecimento posiciona realisticamente o indivíduo no momento presente, conectando-o ao seu histórico de experiências, no qual tem origem o seu repertório comportamental, que atualmente pode exibir” (Poubel & Rodrigues, 2018). Neste sentido, um indivíduo com maturidade e realismo no que se refere ao autoconhecimento, estará em melhores condições de perceber, descrever e escolher os seus comportamentos atuais e futuros, tornando-se num agente mais ativo da sua própria história.

No que diz respeito à autoconfiança, é necessário haver a possibilidade de se realizar comportamentos, e de estes produzirem consequências no ambiente, que fortaleçam os mesmos, sendo neste sentido desenvolvido através de contingências de reforço não sociais. Deste modo, o indivíduo precisa de executar ações para aumentar a oportunidade de êxitos e assim fortalecer a sua autoconfiança. “Trata-se de uma construção contínua, a qual temos a hipótese de aprimorar à medida que nos arriscamos a tentar” (Guilhard, 2002).

As terapias cognitivo-comportamentais de terceira geração, trouxeram algumas inovações para a prática clínica, entre elas a noção de aceitação plena do conteúdo emocional. Isto é, devemos sentir e experimentar as mais variadas emoções e agir em presença delas. Assim, o conteúdo emocional passa a ser visto como uma parte integrante do que devemos experimentar, e não algo a ser abolido ou evitado. “Aceitação, neste contexto, significa admitir o que acontece em vez de desejar ou tentar fazer com que as coisas sejam diferentes, mas não significa necessariamente gostar das coisas como elas são” (Roemer & Orsillo, 2010).

À medida que o indivíduo consegue reconhecer e descrever os acontecimentos e as suas capacidades e limitações (autoconhecimento), ao mesmo tempo que exercita a sua confiança nas suas ações (autoconfiança) cria possibilidades de experimentar uma postura mais aberta e compassiva perante pensamentos, emoções e perceções, uma vez que o foco da sua atenção não se limita a fazer julgamentos e tentativas de controlo acerca do que está a acontecer mas sim a fazer uma ampliação experiencial de tudo o que está a acontecer.

A separação entre os conceitos – autoconhecimento, autoconfiança e aceitação emocional, constitui-se como uma linha tênue e a proposta levantada por este texto é que, quanto maior consciência o paciente já tenha de si mesmo (autoconhecimento) e alicerçado na sua autoconfiança, em melhores condições ele estará para experimentar a aceitação emocional. Revela-se assim de extrema importância a aquisição terapêutica dos passos anteriores para se chegar à aceitação emocional no sentido de facilitar a sua vivência.
Referências:
Guilhard, H. (2002). Autoestima, autoconfiança e responsabilidade. Texto publicado em: Comportamento Humano – Tudo (ou quase tudo) que você precisa saber para viver melhor. Orgs. Maria Zilah da Silva Brandão, Fátima Cristina de Souza Conte, Solange Maria B. Mezzaroba. Santo André, SP: ESETec Editores Associados.
Lucena-Santos, P., Pinto-Gouveia, J., Oliveira, M. da Silva (2015). Terapias comportamentais de terceira geração: guia para profissionais. Novo Hamburgo: Sinopsys.
Poubel, L., Rodrigues, P. (2018). Manual de inteligência psicológica para felicidade integral. Rio de Janeiro: Letras e versos.
Roemer, L., Orsillo, S.M. (2010). A prática da terapia cognitivo-comportamental baseada em mindjulness e aceitação. Porto Alegre: Artmed.