Separar-se nunca é um processo fácil. Desde o momento em que nascemos, a vida é uma sucessão de pequenas separações — do colo da mãe, do primeiro dia de escola, de uma amizade que se afasta, de um amor que termina, ou até da casa onde crescemos. Cada separação traz consigo um misto de medo, saudade e adaptação. A ansiedade de separação, quando surge de forma intensa, é precisamente a expressão emocional dessa dificuldade em lidar com o afastamento das pessoas ou lugares que representam segurança e afeto.
Nas crianças, este fenómeno é comum e até esperado. É natural que um filho chore quando os pais o deixam na escola, que sinta receio do desconhecido ou que tema que algo lhes aconteça. Faz parte do processo de desenvolvimento e da construção da autonomia emocional. Com o tempo, e com experiências de separação seguras e previsíveis, a criança aprende que o reencontro é certo e que o amor não desaparece com a distância. No entanto, quando o medo se torna desproporcionado, persistente e interfere com o dia-a-dia, pode evoluir para uma perturbação de ansiedade de separação — uma condição que merece atenção e acompanhamento.

Na adolescência e na vida adulta, a ansiedade de separação assume contornos mais subtis, mas não menos significativos. Pode manifestar-se como uma necessidade constante de contacto, um medo intenso de rejeição ou uma dificuldade em tolerar o afastamento emocional. Muitas vezes, está ligada a experiências precoces de perda, a vínculos inseguros ou a uma história de relações marcadas por instabilidade. É um medo que se pode disfarçar de zelo, de amor em excesso, mas que no fundo pode revelar insegurança e receio da solidão.

A psicologia tem procurado compreender e tratar este tipo de ansiedade através de várias abordagens. Na perspetiva cognitivo-comportamental, o foco está em identificar os pensamentos catastróficos associados à separação (“não vou conseguir sozinho”, “algo de mau vai acontecer”) e substituí-los por interpretações mais realistas e equilibradas. Também se trabalha a exposição gradual às situações temidas, para que a pessoa aprenda, de forma prática, que consegue lidar com o afastamento sem desmoronar. Em paralelo, é fundamental promover a autoconfiança e o sentido de autonomia emocional, dois pilares essenciais para um vínculo saudável consigo próprio e com os outros.

Contudo, há algo de profundamente humano neste medo de perder. A ansiedade de separação não é apenas um sintoma clínico; é também uma metáfora da nossa necessidade de pertença. Todos nós, em algum grau, tememos a distância daqueles que amamos, porque a ligação afetiva é o que nos prende ao mundo. O desafio está em equilibrar o apego com a liberdade, o vínculo com a individualidade. Amar alguém não devia significar depender dessa pessoa para existir, mas partilhar com ela o caminho, sabendo que ambos podem caminhar sozinhos quando é preciso.

Vivemos num tempo em que a independência é exaltada como sinal de força, mas a verdade é que o ser humano precisa de ligação. O problema não está em depender emocionalmente de alguém, está em depender totalmente. A maturidade emocional não significa não precisar de ninguém, mas sim saber estar com os outros sem se perder de si mesmo.
A ansiedade de separação recorda-nos que o amor, para ser saudável, precisa de espaço. Que a presença só tem valor quando há liberdade. E que aprender a separar-se, sem medo de deixar de ser amado, é uma das lições mais difíceis e mais libertadoras da vida.