A Importância Psicológica do Dia da Mãe

O Dia da Mãe é, para muitos, uma data carregada de afetos, memórias e gratidão. Celebrado em Portugal no primeiro domingo de maio, este dia presta homenagem à figura materna — símbolo de cuidado, proteção e amor incondicional. No entanto, do ponto de vista psicológico, a maternidade (e a relação com a mãe) é um tema bem mais complexo e profundo do que o gesto de oferecer flores ou um cartão.

Desde cedo, a mãe — ou a figura cuidadora principal — desempenha um papel central no desenvolvimento emocional da criança. A teoria do apego, desenvolvida por John Bowlby, sublinha a importância das primeiras relações na construção da segurança emocional e da capacidade de estabelecer vínculos saudáveis ao longo da vida. Um apego seguro com a mãe está associado a uma maior autoestima, melhor regulação emocional e relações interpessoais mais estáveis.

Continue a ler “A Importância Psicológica do Dia da Mãe”

Falando um pouco sobre esquizofrenia

Este é um daqueles temas que muitas pessoas evitam ou só conhecem através de estereótipos errados. Quando pensamos em esquizofrenia, é fácil lembrarmo-nos de filmes ou séries que mostram pessoas completamente desconectadas da realidade, mas a verdade é bem mais complexa e, sobretudo, muito mais humana.

A esquizofrenia é uma perturbação psiquiátrica grave que afeta a forma como a pessoa pensa, sente e percebe o mundo à sua volta. Normalmente, os primeiros sinais aparecem no final da adolescência ou no início da idade adulta. Não é, como algumas pessoas pensam, uma “dupla personalidade” ou simplesmente “loucura”. É uma condição séria que pode ter um grande impacto na vida da pessoa doente e das pessoas à sua volta.

Continue a ler “Falando um pouco sobre esquizofrenia”

A Terapia Cognitivo-Comportamental na Perturbação Bipolar

A perturbação bipolar é uma condição psiquiátrica crónica caracterizada por oscilações extremas de humor, que incluem episódios de mania e depressão. A psicologia cognitivo-comportamental (TCC) tem sido amplamente utilizada como abordagem terapêutica complementar ao tratamento farmacológico, ajudando os indivíduos a gerir os sintomas, reduzir recaídas e melhorar a qualidade de vida.

Do ponto de vista cognitivo-comportamental, a perturbação bipolar pode ser compreendida através da interação entre fatores biológicos, cognitivos e comportamentais. A teoria sugere que as crenças e os esquemas cognitivos influenciam a forma como os indivíduos interpretam e reagem às suas experiências emocionais e ambientais. Muitas vezes, padrões de pensamento disfuncionais, como por exemplo o pensamento dicotómico (“tudo ou nada”), contribuem para a intensificação dos sintomas.

Continue a ler “A Terapia Cognitivo-Comportamental na Perturbação Bipolar”

Como Gerir a Sobrecarga de Informação na Era Digital

Vivemos num tempo de excesso de informação. A cada instante, surge uma notificação, uma nova atualização, uma notícia urgente, um acontecimento que parece exigir a nossa atenção imediata. Mas estaremos preparados para lidar com este fluxo incessante de dados, sem prejuízo para a nossa saúde?

O nosso corpo e mente, não foram concebidos para processar continuamente a enorme quantidade de notícias, imagens e opiniões, a que estamos sujeitos nos dias de hoje, sem qualquer pausa. Muitas vezes, sentimo-nos pressionados a estar informados para nos mantermos relevantes ou para não parecer que ignoramos o sofrimento do mundo. No entanto, esta necessidade constante de estar atualizado tem um custo elevado, pago muitas vezes em ansiedade, stress e um afastamento crescente de nós próprios. Quantas vezes já sentiu a necessidade de se desconectar, mas não o conseguiu fazer? Talvez tenha aberto as redes sociais apenas para um olhar rápido e, sem se aperceber, passaram longos minutos ou até horas. Ou então leu sobre crises globais ao ponto de ficar com um peso no peito, como se o destino do mundo dependesse de si. Esta reação é compreensível e humana, mas insustentável ao longo do tempo.

Continue a ler “Como Gerir a Sobrecarga de Informação na Era Digital”

Esquizofrenia em Poucas Palavras

A esquizofrenia é uma condição de saúde mental que pode afetar profundamente a vida de quem a experiencia. Trata-se de uma perturbação complexa, que envolve mudanças na forma como a pessoa pensa, sente e consequentemente se comporta. A esquizofrenia pertence ao espectro das perturbações psicóticas.

Os sinais da esquizofrenia podem variar de pessoa para pessoa, mas geralmente incluem experiências como delírios (crenças firmes que não correspondem à realidade), alucinações (perceber coisas que não estão presentes, como ouvir vozes), discurso desorganizado e comportamentos inusitados ou catatónicos. Além disso, a pessoa pode apresentar uma falta de expressividade emocional e uma perda de motivação para realizar atividades diárias.

Continue a ler “Esquizofrenia em Poucas Palavras”

Insónias: Impacto na Saúde e Estratégias para Dormir Melhor

A insónia é um distúrbio do sono caracterizado pela dificuldade em adormecer, manter o sono ou acordar muito cedo sem conseguir voltar a dormir. Pode ser ocasional ou crónica, afetando significativamente a qualidade de vida ao causar cansaço excessivo, irritabilidade, falta de concentração e impactos na saúde física.

Embora algumas pessoas tenham dificuldades temporárias em dormir, devido a fatores como stresse ou alterações nas suas rotinas, a insónia crónica é mais complexa e pode estar relacionada com problemas psicológicos ou emocionais. A ansiedade, por exemplo, pode agravar o problema, tornando-se essencial a procura de ajuda profissional para um tratamento adequado.

Continue a ler “Insónias: Impacto na Saúde e Estratégias para Dormir Melhor”

Eu não sou os meus pensamentos negativos

Manuela, 33 anos, entrou no consultório com um sorriso, em contraste com a expressão carregada que geralmente trazia quando começou o acompanhamento há dois anos. Sentou-se confortavelmente e, com um tom sereno, começou a falar.

“Tenho pensado muito no percurso que fiz até aqui. Quando comecei, sentia-me completamente perdida. A ansiedade não me deixava dormir, e a depressão tirava-me a vontade de sair da cama. O trabalho, de que sempre gostei, parecia um fardo. Hoje, vejo como tudo mudou.”

A psicóloga sorriu, incentivando-a a continuar.

Aprendi a reconhecer os sinais da ansiedade antes de eles me dominarem. As técnicas de respiração e relaxamento que me ensinou fazem toda a diferença! No outro dia, no trabalho, um cliente difícil começou a levantar a voz comigo. Em vez de entrar em pânico, respirei fundo e consegui manter a calma. Antes, teria ficado aflita o resto do dia, mas consegui seguir em frente.”

Houve um momento de silêncio antes da Manuela acrescentar, com emoção:

A terapia ajudou-me a ver que eu não sou os meus pensamentos negativos. Agora, quando surgem, já não me afundo neles. Questiono-os, como me ensinou. E as pequenas coisas voltaram a ter valor para mim. Voltei a sair com amigos, a ler, a caminhar à beira-mar…”

A psicóloga reconheceu o progresso de Manuela, reforçando as suas conquistas. Ela sorriu, com gratidão.

“Obrigada por tudo. Sei que ainda há caminho a percorrer, mas agora sinto que sou eu quem controla as situações.”

A Transformação Emocional de Ser Pai

Ser pai vai muito além do ato biológico de gerar um filho. Trata-se de uma transformação psicológica profunda, um processo que envolve identidade, responsabilidade e amor incondicional. A paternidade não é apenas uma função social, é um estado emocional e mental que exige adaptação, crescimento e, frequentemente, autoconhecimento.

Desde o momento em que um homem descobre que vai ser pai, inicia-se uma mudança interna. O futuro pai pode experimentar uma mistura de emoções: felicidade, medo, ansiedade e até dúvida sobre a sua capacidade de desempenhar esse novo papel. Estes sentimentos são normais e fazem parte da reestruturação mental necessária para abraçar a paternidade.

Continue a ler “A Transformação Emocional de Ser Pai”

O que faz uma psicóloga clínica?

A Psicologia Clínica é uma área fundamental da Psicologia que se dedica à avaliação, diagnóstico, prevenção e tratamento de dificuldades emocionais, cognitivas e comportamentais. Uma psicóloga clínica trabalha com indivíduos, casais, famílias ou grupos, ajudando-os a compreender e superar problemas que afetam o seu bem-estar psicológico e qualidade de vida.

Continue a ler “O que faz uma psicóloga clínica?”

Aceitação emocional: um passo para a cura

E se, em vez de tentar corrigir tudo, aprendesse a simplesmente estar com isso?”

Esta pergunta paralisou a minha paciente Rita (nome fictício) durante uma das nossas consultas, há umas semanas. A Rita estava exausta, constantemente a lutar contra as suas emoções, a debater-se com o passado e a travar uma batalha com a sua autocrítica. Durante anos, acreditou que curar significava apagar a dor, não a sentir, mas agora eu pedia-lhe que a aceitasse em vez disso. No início a Rita resistiu. Aceitar parecia desistir, como se estivesse a erguer a bandeira branca perante toda a dor que carregava. Mas quanto mais refletia sobre isso, mais percebia que lutar não estava a resultar, apenas a deixava esgotada, presa num ciclo interminável e doloroso de resistência e frustração.

Aceitação não significa gostar do que aconteceu ou fingir que não doeu. Significa reconhecer a verdade da sua experiência, sem julgamento. Significa dizer: “Isto é o que eu sinto. É aqui que eu estou.” E, nesse momento, algo muda. Quando a Rita começou a praticar a aceitação, notou algo de extraordinário. A sua dor não desapareceu milagrosamente, mas o controlo da dor sobre ela, diminuiu. As memórias, anteriormente duras e insuportáveis, suavizaram-se. As emoções que tentara reprimir —a raiva, a tristeza, o medo — começaram a fluir através dela, em vez de a aprisionarem.

A aceitação é poderosa porque não exige mudança. Cria espaço para que ela aconteça. Permite respirar quando tudo parece sufocante. E porque é que a aceitação funciona? Porque liberta energia emocional. Resistir à dor consome muita energia, aceitá-la permite redirecionar essa energia para a cura e para o crescimento. A aceitação desenvolve a resiliência, quando deixa de ter medo das suas emoções, aprende que consegue lidar com elas e isso fortalece-o/a interiormente. A aceitação promove a clareza, dissipando o nevoeiro da resistência, ajudando a ver as situações com mais nitidez e a dar passos mais ponderados para a frente.

E como praticar a aceitação? Eis alguns passos:

  1. Parar e observar: Quando se sentir sobrecarregado/a, faça uma pausa. O que sente no seu corpo? Que pensamentos estão na sua mente?
  2. Nomear sem julgamento: Diga em voz alta ou escreva: “Sinto-me ansioso/a” ou “Estou triste por causa de…
  3. Recordar que está tudo bem: As emoções são como ondas — sobem, atingem o pico e eventualmente recuam. Deixe-as fluir sem se agarrar a elas nem as evitar. As emoções negativas fazem parte da vida, tal como as positivas. Permita-se senti-las.
  4. Praticar a auto compaixão: Aceitação não significa fraqueza, significa que é um ser humano. Por isso, trate-se com bondade, como provavelmente trataria o seu melhor amigo.

A jornada da Rita não terminou com a aceitação — começou aí. Ainda teve dias difíceis, mas já não a destruíam como antes. A aceitação deu-lhe a base para curar, crescer e viver com esperança e coragem. Por isso, deixo-lhe a mesma pergunta que fiz à Rita:

 “E se, em vez de tentar corrigir tudo, aprendesse a simplesmente estar com isso?” Às vezes, a mudança mais profunda começa quando simplesmente deixamos ir…