O desempenho da memória nas pessoas mais velhas e a sua relação com as emoções, conduz para a possibilidade de haver um enviesamento para as memórias positivas. Parece haver evidência de que os adultos mais velhos apresentam uma tendência para recordar mais facilmente imagens associadas a emoções positivas do que a emoções negativas.
De um modo geral, quando se discutem tarefas relacionadas com a utilização da memória, a população idosa parece demonstrar alguns défices na sua realização quando comparada com a população de adultos mais jovens. No entanto, ao proceder-se ao estudo de tarefas relacionadas com formas de bem-estar e regulação emocional, os idosos, em comparação com os jovens adultos, revelam melhorias e não o declínio que seria esperado. Este declínio seria esperado uma vez que a nível fisiológico se dá uma redução do volume da massa cerebral com o avançar da idade. Porém, apesar dessa redução, as estruturas cerebrais relacionadas com o processamento das emoções e memória, em concreto a amígdala cerebral, não sofrem alterações estruturais significativas.
O espectro de perturbações do foro mental é vasto e diversificado. As perturbações do sono, para além de terem grande prevalência na população, transversal a todas as faixas etárias, tem implicações sérias ao nível das funções cognitivas, assim como na funcionalidade global do indivíduo.
De entre as várias tipologias de perturbações do sono, a perturbação de pesadelos é relativamente frequente e aumenta desde a infância até à adolescência. Em termos de prevalência, cerca de 1,3 a 3,9% dos pais relatam que os seus filhos em idade pré-escolar, têm frequentemente pesadelos (Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais – DSM-V). A predominância desta perturbação aumenta por norma entre os 10 e aos 13 anos, em ambos os géneros, continuando tendencialmente a aumentar, entre os 20 e os 29 anos, principalmente no género feminino, enquanto, para o género masculino, a tendência é inversa. Nos adultos, a prevalência de pesadelos no mínimo mensais é de cerca de 6% e dos pesadelos frequentes é de aproximadamente 1 a 2 %. Estes pesadelos combinam indiscriminadamente as causas pós-traumáticas com pesadelos sem causa direta.
Em termos de características distintivas dos pesadelos em relação a outros sonhos, estes são tipicamente longos, elaborados, com uma sequência de imagens sonhadas do tipo história, que parecem reais e que provocam ansiedade, medo ou outras emoções perturbadoras. Os conteúdos dos pesadelos evocam habitualmente tentativas de evitamento ou de enfrentamento de perigos eminentes. No entanto, podem ocorrer pesadelos que evocam outros temas causadores de outras emoções negativas ou pesadelos que ocorrem após acontecimentos altamente stressantes ou traumáticos, podendo replicar a situação de ameaça.
Ao despertar, os pesadelos conseguem ser habitualmente recordados com facilidade e descritos em pormenor. Os pesadelos, por norma, terminam quando o indivíduo acorda, porém, as emoções por ele provocadas podem persistir e dificultar o retomar do sono, assim como causar um mal-estar diurno duradouro. Alguns pesadelos podem não induzir o acordar e serem recordados pelo indivíduo, apenas mais tarde.
Pode dizer-se que um indivíduo sofre de uma perturbação de pesadelos quando estes sonhos ocorrem repetidamente, são prolongados, são altamente perturbadores e envolvem, de um modo geral, esforços para evitar ameaças à sobrevivência, à segurança ou à integridade física do indivíduo ou outros. Outro critério de diagnóstico para esta perturbação é o facto de esta causar no indivíduo uma sensação de mal-estar clinicamente significativo, ou seja, que implique uma disfunção social, ocupacional ou que tenha impacto negativo noutra área do funcionamento individual. É ainda fator de diagnóstico o facto de o pesadelo não ser explicado por outras causas fisiológicas, como por exemplo o consumo de substâncias psicoativas ou outra condição médica coexistente.
No que diz respeito aos fatores de risco para o desenvolvimento de uma perturbação de pesadelos, podemos incluir os fatores temperamentais, ou seja, relacionados com a presença de uma perturbação da personalidade ou de um diagnóstico de doença mental. Destacam-se os fatores ambientais, como a privação ou a fragmentação do sono em horários irregulares de sono-vigília, que alteram o tempo e a qualidade do sono. Parece haver também evidencia para a influência de fatores genéticos na disposição parta os pesadelos. Como fator de proteção para esta perturbação é de referir o comportamento parental adequado, ou seja, acalmar a criança à cabeceira quando esta acorda perturbada pode protege-la de desenvolver pesadelos crónicos.
Os pesadelos, de modo geral, causam mais um mal-estar significativo do que propriamente disfuncionalidade social ou ocupacional. Contudo, se os pesadelos forem muito frequentes ou levarem ao evitamento do sono, os indivíduos podem experienciar uma sonolência diurna excessiva, dificuldades de atenção e concentração, irritabilidade, ansiedade ou sintomatologia depressiva. A prática de bons hábitos de higiene do sono pode ter um impacto muito positivo na diminuição dos pesadelos, no entanto, pode não ser suficiente. Uma vez que os sonhos espelham frequentemente preocupações e angustias do indivíduo, a intervenção psicológica pode ter um papel muito importante nesta problemática. Procure ajuda, consulte a Sua Psicóloga!
Fonte:Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais – Quinta Edição (DSM-V). American Psychiatric Association.
A memória é a capacidade que o indivíduo tem de adquirir, armazenar e evocar informação. Podemos distinguir 3 tipos de memória: sensorial, de curto prazo e de longo prazo.
A memória sensorial é um tipo de memória que tem origem nos órgãos dos sentidos. Deste modo podemos referir a memória auditiva, visual, olfativa, etc. A informação obtida através dos órgãos dos sentidos é retida por um curto espaço de tempo (0.2 a 2 segundos). É a memória sensorial visual que nos permite, por exemplo, ver um filme. Por outro lado, a memória sensorial auditiva permite-nos entender uma notícia que ouvimos ser relatada na rádio. A informação obtida através deste tipo de memória, se for processada, passa para a memória de curto prazo, caso contrário, a falta de processamento, leva a que a informação se perca. A memória sensorial é ilimitada, ou seja, são ilimitados os dados passíveis de serem registados pelos nossos cinco sentidos. Para que a informação seja captada pela memória sensorial não é necessário o envolvimento da atenção, o processo é automático e involuntário.
As alucinações auditivas, são o tipo de alucinação mais frequente nas perturbações mentais. Estas alucinações podem ser simples ou complexas, sendo estas últimas as que constituem um maior desafio e interesse à psicopatologia.
As alucinações auditivas simples são aquelas nas quais se ouvem apenas ruídos primários e são menos comuns que as alucinações auditivas complexas. O tinnitus corresponde à sensação subjetiva de se ouvirem ruídos, como por exemplo zumbidos ou estalidos. Estes ruídos podem ser contínuos, intermitentes ou ritmados como os batimentos cardíacos. O tinnitus decorre habitualmente de doenças ou alterações do sistema auditivo e pode ser objetivo, podendo ser observado no ouvido do paciente através de técnicas médicas. O Síndrome de Méniere é o exemplo típico de patologia do ouvido com tinnitus, à qual se associa habitualmente perda auditiva e desequilíbrio. Outras doenças do foro cerebral e vascular podem também apresentar sintomas deste tipo.
As alucinações correspondem a uma perceção clara e objetiva de algo como uma voz, um ruído ou mesmo uma imagem, sem que o objeto/estímulo real esteja presente. A alucinação auditiva complexa é a mais frequente em psicopatologia, sendo a audio-verbal a mais impactante e significativa. Neste tipo de alucinação a pessoa ouve vozes “dentro da sua cabeça” sem que qualquer tipo de estímulo esteja objetivamente presente. Habitualmente estas vozes são de comando, ameaça ou insulto, assumindo um caráter depreciativo e persecutório. As vozes de comando podem até mesmo instruir o indivíduo no sentido do suicídio.
As alucinações auditivas podem observar-se nos casos de esquizofrenia, em que as pessoas têm a perceção marcante de que estas são reais. Umas vezes as vozes “internas” fazem comentários e observações acerca dos comportamentos e ações da pessoa, outras vezes o pensamento torna-se “sonoro” ou seja, os indivíduos ouvem os seus próprios pensamentos, algumas vezes repetidos e em eco e outras vezes ainda, o pensamento torna-se delirante, ou seja, o indivíduo experiencia ouvir pensamentos que lhe parecem ter sido introduzidos na cabeça por um estranho.
Em alguns casos de depressão grave podem também estar presentes as alucinações auditivas. Aqui, as pessoas tendem a ouvir vozes geralmente com conteúdos negativos, de humilhação ou de culpa. Também nas perturbações do humor este tipo de alucinações pode estar presente, por vezes com conteúdos de grandeza ou conteúdo místico-religioso, habitualmente nos casos de mania. Nos doentes alcoólicos crónicos, as alucinações auditivas também podem ocorrer, bem como em algumas perturbações da personalidade, como o caso da personalidade borderline, histriónica, perturbação dissociativa ou esquizotípica.
Apesar de alguns medicamentos antipsicóticos conseguirem controlar, na maioria dos casos, as manifestações da doença, nem sempre conseguem calaras vozes que insistem em se fazer ouvir na mente dos pacientes. Estudos recentes sugerem que a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT), uma técnica não invasiva e praticamente sem efeitos colaterais, pode controlar de forma eficaz este problema. Esta técnica consiste no envio de impulsos magnéticos para o cérebro, que dependendo da frequência podem aumentar ou diminuir a atividade na região alvo. Desta forma, o médico consegue modular os neurónios de forma a equilibrar o seu funcionamento. A técnica é indolor e a sua aplicação é feita com o paciente acordado. Apesar das neurociências serem grandes aliadas no processo de deteção e compreensão das alucinações auditivas, a forma como estas aparecem parece permanecer ainda sem resposta.
O cérebro e o corpo são inseparáveis e ligam-se um ao outro através de circuitos bioquímicos e neuronais, envolvendo-se numa relação de reciprocidade. Os nervos motores e sensoriais periféricos transportam sinais das diversas partes do corpo para o cérebro, e do cérebro para todas as partes do corpo. O cérebro lê os sinais, interpreta-os e responde, como pode.
No ser humano, de todos os sistemas de que é composto, o Sistema Nervoso (SN) é sem dúvida o mais complexo e sofisticado. A unidade funcional e estrutural deste sistema, também conhecida como célula neural ou neuronal, é o neurónio. É a unidade base do SN sendo o seu diâmetro de uma dimensão extremamente reduzida e existindo na ordem dos biliões no cérebro humano. Os neurónios diferem entre si no que diz respeito à sua localização, dimensão e funções. Cada neurónio tem uma morfologia adaptada à receção, integração, transmissão e ao processamento de sinais. Estes sinais são transmitidos por meio de estruturas altamente especializadas, que fazem a transmissão de um impulso nervoso de um neurónio para outro – as sinapses. Este impulso pode ser integrado, bloqueado e modificado de duas formas diferentes: as sinapses químicas, que são as mais frequentes no ser humano, e as elétricas. As sinapses químicas pressupõem a presença de neurotransmissores que são compostos químicos produzidos pelos neurónios e comunicados pelas sinapses, os quais são responsáveis por transmitir as informações necessárias para as diversas partes do corpo.
O SN é o nosso grande comandante e é responsabilidade sua, a coordenação de toda e qualquer ação voluntária ou não, assim como a transmissão de sinais a todos os outros sistemas presentes no organismo, como o sistema motor, sensorial, cognitivo e a integração entre todos eles. O SN divide-se em 3 partes e são elas o Sistema Nervoso Central (SNC), o Sistema Nervoso Periférico (SNP) e o Sistema Nervoso Autónomo (SNA). Fazem parte do SNC o cérebro e a espinal medula. O SNP é formado principalmente por nervos (cranianos e espinais), gânglios e recetores sensoriais. O SNP divide-se ainda noutros dois subsistemas, o sistema nervoso somático (nervos sensoriais e motores) e o sistema nervoso autónomo que por sua vez engloba outros dois constituintes, o simpático e o parassimpático. Descrito assim mesmo de uma forma simplificada, percebe-se que o assunto é realmente complexo. Coloquemos então o foco no SNC, mais precisamente no cérebro – o órgão onde tudo acontece!
O cérebro divide-se em 4 partes, os lobos. O lobo frontal é o maior e é responsável pelos movimentos físicos, assim como pelas funções da aprendizagem, do pensamento, da memória e da fala. O lobo parietal é responsável pela perceção espacial e pela transmissão da informação sensorial como a dor, o calor ou o frio. O lobo temporal responde pelos estímulos auditivos e o lobo occipital recebe e processa as imagens visuais. Dividindo o cérebro ao meio, este apresenta uma função contra lateral, ou seja, a metade esquerda do cérebro controla o lado oposto do corpo (lado direito) e as funções do lado esquerdo do organismo são comandadas pela metade direita do cérebro. A lateralidade cerebral define que cada hemisfério controla determinadas funções (ex. o hemisfério direito confere a capacidade de reconhecer rostos e objetos e o esquerdo comanda a capacidade de leitura e escrita). Assim, o cérebro é o comandante de todas as funções e sentimentos, como os movimentos corporais, a memória e emoções. É a ação conjunta das várias partes do cérebro que permite ao ser humano capacidades como a marcha, a fala e a capacidade de pensar, sentir e amar.
O cérebro é um órgão muito curioso e tem características e particularidades muito suas. Embora seja o responsável pela transmissão dos sinais e pela interpretação da sensação de dor, o cérebro em si é indolor. Sendo um orgão que pesa menos de 2 quilos, tem cerca de 160 000 quilómetros de vasos sanguíneos. O cérebro consome muita energia, embora o seu peso represente apenas cerca de 2% do peso total do corpo, ele gasta cerca de 25% de toda a energia de que o corpo humano necessita para funcionar. Este grande consumo de energia parece dever-se à manutenção dos processos relacionados com o pensamento e os processos corporais, sendo parte dela possivelmente investida na manutenção da saúde das células cerebrais.
Estudos acerca do funcionamento cerebral por género revelam que o cérebro das mulheres é diferente do dos homens, ou seja, parece estar efetivamente comprovado que o cérebro das mulheres é mais orientado para as emoções e para a subjetividade, enquanto o dos homens parece ser mais racional e objetivo. O cérebro dorme mas não para. É durante os períodos de sono que o cérebro humano mais trabalha, conseguindo mesmo assimilar informação. Esse trabalho cerebral está relacionado com a atividade onírica, ou seja o sonhar. Com o avançar da idade, observam-se determinadas alterações no cérebro humano e algumas das suas partes começam a diminuir de forma natural, à qual se associa uma perda neuronal. As zonas cerebrais responsáveis pela regulação dos processos cognitivos como a memória, começam a diminuir por volta dos 65 /70 anos de idade o que pode conduzir à redução da plasticidade cerebral e da capacidade de adaptação dos indivíduos.
Voltando aos neurónios, a ideia de que estes não se reproduzem nem se dividem e que são insubstituíveis, foi durante muito tempo uma verdade absoluta. No entanto, alguns estudos mais recentes têm vindo a apontar para a possibilidade de haver um processo de neurogénese adulta, ou seja, a capacidade de se criar e reforçar os neurónios em idade mais tardia, através de uma série de práticas relacionadas aos hábitos vida saudáveis ao longo do tempo. A prática de exercício físico de corrida ou resistência, a dieta mediterrânica e a estimulação cognitiva, podem ajudar a manter o cérebro saudável. A aprendizagem facilita as conexões entre as diferentes áreas do cérebro e por isso pode constituir-se como um fator protetor contra a neuro degeneração. Porém, a neurogénese adulta, a ser uma realidade, tem um papel limitado incapaz de corrigir lesões cerebrais graves. A investigação e a ciência estarão decerto atentas a este problema e irão continuar a fazer esforços no sentido do prolongamento da saúde neuronal.
Até lá e pelo sim, pelo não, cuide-se para envelhecer melhor!