Aceitação emocional: um passo para a cura

E se, em vez de tentar corrigir tudo, aprendesse a simplesmente estar com isso?”

Esta pergunta paralisou a minha paciente Rita (nome fictício) durante uma das nossas consultas, há umas semanas. A Rita estava exausta, constantemente a lutar contra as suas emoções, a debater-se com o passado e a travar uma batalha com a sua autocrítica. Durante anos, acreditou que curar significava apagar a dor, não a sentir, mas agora eu pedia-lhe que a aceitasse em vez disso. No início a Rita resistiu. Aceitar parecia desistir, como se estivesse a erguer a bandeira branca perante toda a dor que carregava. Mas quanto mais refletia sobre isso, mais percebia que lutar não estava a resultar, apenas a deixava esgotada, presa num ciclo interminável e doloroso de resistência e frustração.

Aceitação não significa gostar do que aconteceu ou fingir que não doeu. Significa reconhecer a verdade da sua experiência, sem julgamento. Significa dizer: “Isto é o que eu sinto. É aqui que eu estou.” E, nesse momento, algo muda. Quando a Rita começou a praticar a aceitação, notou algo de extraordinário. A sua dor não desapareceu milagrosamente, mas o controlo da dor sobre ela, diminuiu. As memórias, anteriormente duras e insuportáveis, suavizaram-se. As emoções que tentara reprimir —a raiva, a tristeza, o medo — começaram a fluir através dela, em vez de a aprisionarem.

A aceitação é poderosa porque não exige mudança. Cria espaço para que ela aconteça. Permite respirar quando tudo parece sufocante. E porque é que a aceitação funciona? Porque liberta energia emocional. Resistir à dor consome muita energia, aceitá-la permite redirecionar essa energia para a cura e para o crescimento. A aceitação desenvolve a resiliência, quando deixa de ter medo das suas emoções, aprende que consegue lidar com elas e isso fortalece-o/a interiormente. A aceitação promove a clareza, dissipando o nevoeiro da resistência, ajudando a ver as situações com mais nitidez e a dar passos mais ponderados para a frente.

E como praticar a aceitação? Eis alguns passos:

  1. Parar e observar: Quando se sentir sobrecarregado/a, faça uma pausa. O que sente no seu corpo? Que pensamentos estão na sua mente?
  2. Nomear sem julgamento: Diga em voz alta ou escreva: “Sinto-me ansioso/a” ou “Estou triste por causa de…
  3. Recordar que está tudo bem: As emoções são como ondas — sobem, atingem o pico e eventualmente recuam. Deixe-as fluir sem se agarrar a elas nem as evitar. As emoções negativas fazem parte da vida, tal como as positivas. Permita-se senti-las.
  4. Praticar a auto compaixão: Aceitação não significa fraqueza, significa que é um ser humano. Por isso, trate-se com bondade, como provavelmente trataria o seu melhor amigo.

A jornada da Rita não terminou com a aceitação — começou aí. Ainda teve dias difíceis, mas já não a destruíam como antes. A aceitação deu-lhe a base para curar, crescer e viver com esperança e coragem. Por isso, deixo-lhe a mesma pergunta que fiz à Rita:

 “E se, em vez de tentar corrigir tudo, aprendesse a simplesmente estar com isso?” Às vezes, a mudança mais profunda começa quando simplesmente deixamos ir…

Relações tóxicas

A complexidade das relações humanas, onde a busca por amor, amizade e conexão por vezes se enreda em grandes desafios, há infelizmente casos, em que a linha entre o saudável e o tóxico se funde, e o vínculo que se quer como fonte de suporte e de crescimento, pode por vezes transformar-se numa fonte de solidão e sofrimento. 

A procura e o desejo de construirmos relações significativas é uma constante, sendo fundamental compreender quando num relacionamento, as atitudes e os comportamentos ultrapassam os limites saudáveis. A crítica constante, o controlo excessivo, a manipulação, a chantagem emocional, são indícios de uma dinâmica relacional disfuncional e perigosa. Lamentavelmente, embora os sinais sejam muitas vezes evidentes, algumas pessoas “escolhem” não os ver, consciente ou inconscientemente, umas vezes por medo da solidão, outras por não se sentirem capazes para o confronto, outras ainda por consideraram normativas, tais atitudes e comportamentos.

Continue a ler “Relações tóxicas”

Apoio social – a criança e a família

O apoio social ou suporte social integram o ambiente social e as pessoas que fazem parte da rede social real do indivíduo. O apoio social pode ser entendido como objetivo ou subjetivo, ou seja, apoio recebido e apoio percebido.

O apoio subjetivo ou percebido traduz-se na experiência pessoal de se saber que “aquelas pessoas” estão lá, se for necessário, ainda que não haja uma interação direta e objetiva. Ter a consciência de que se tem alguém a quem recorrer, se necessário, parece ser mais tranquilizante e securizante do que propriamente pedir e usufruir de ajuda efetiva. O apoio social objetivo e por isso recebido refere-se ao conjunto de interações e trocas que o indivíduo recebe daqueles por quem se considera querido, desejado, respeitado e envolvido. O sujeito vai reconhecer a disponibilidade dos que lhe são próximos, e a possibilidade de recorrer a estes e ser correspondido se o necessitar, o que lhe trás conforto e segurança.

Ler mais: Apoio social – a criança e a família

A satisfação individual com o apoio social está muito associada à saúde e ao bem-estar físico e psicológico, bem como à satisfação com a vida e à existência de afetos positivos em relação a si mesmo e aos outros. Deste modo, a perceção do suporte social ou as expectativas de que o apoio existirá se for necessário, tem sido considerado um elemento facilitador do bem-estar pessoal e social dos indivíduos, perante desafios e dificuldades com que se vão confrontando ao longo do seu percurso de vida. É um fator mediador do impacto das situações adversas ou perturbadoras do bem-estar físico e emocional.

O suporte social pode ter uma função preventiva e/ou curativa em relação aos acontecimentos de vida negativos e à doença, e uma função estimulante e gratificante, promotora de mais felicidade e de vivências positivas. Este suporte está positivamente associado ao confronto com novas situações ou situações potencialmente stressantes, reduzindo a tensão e a sensação de falta de controlo das mesmas.

No que diz respeito às crianças e á família enquanto grupo de apoio social, parece haver um efeito protetor para a maior parte das crianças e adolescentes, quando a família lhes dá atenção adequada e apropriada durante o primeiro ano de vida, mesmo quando estes estão inseridos em ambientes de risco. Fatores como a confiança, a atenção, a empatia, a disponibilidade, o respeito e as expectativas elevadas relativamente aos resultados escolares e comportamentais, o suporte, o afeto e os bons modelos comportamentais são considerados responsáveis por este efeito protetor.

A partilha das tarefas do dia-a-dia em família pelos dois elementos do casal é encarada como benéfica para o desenvolvimento infantil, sendo a preocupação com os limites e as regras, a presença conjunta em atividades de lazer e o investimento no incentivo de responsabilidades, fatores fulcrais para o desenvolvimento do ajustamento psicológico de crianças e jovens e para o seu bom desempenho escolar.

Outro fator que permite potenciar o papel positivo da família, no ajustamento da criança ou do jovem, é a possibilidade de permitir a sua participação ativa em contexto familiar, criando condições para que este seja ouvido e a sua opinião possa ser levada em consideração nas tomadas de decisões importantes para a família ou na programação de atividades familiares, por exemplo de lazer. Este fator é muito importante uma vez que potencia o desenvolvimento do sentimento de pertença e de responsabilidade, aumentando também as expectativas em relação ao futuro e promovendo a persistência para a definição e alcance de metas e objetivos.

Uma família enquanto grupo protetor e apoiante, deverá ter a preocupação de comunicar de forma positiva e efetiva, fornecer apoio á criança ou adolescente, facilitar a expressão de pensamentos e sentimentos, permitir a discussão dos assuntos relevantes, minimizar os conflitos, negociar os planos da família e desenvolver a cooperação e a confiança entre pais e filhos. Pode ser necessário, em alguns casos, recorrer a um apoio familiar regular para que estas sejam ajudadas adquirir as competências necessárias para que possam a agir de forma a potenciar o adequado desenvolvimento emocional das suas crianças/jovens.