O perfeccionismo, frequentemente valorizado numa sociedade orientada para o desempenho, é muitas vezes confundido com rigor, competência ou motivação para alcançar padrões elevados. Contudo, do ponto de vista da Psicologia Cognitivo-Comportamental (PCC), o perfeccionismo constitui um conjunto de crenças rígidas e exigências internas que pode comprometer significativamente o bem-estar emocional, o funcionamento interpessoal e o rendimento académico ou profissional. Longe de ser apenas “gostar de fazer bem”, o perfeccionismo envolve uma relação disfuncional com o erro, com a autoavaliação e com a perceção de valor pessoal.
A PCC conceptualiza o perfeccionismo como um padrão cognitivo caracterizado por pressupostos condicionais e regras absolutistas do tipo: “Tenho de acertar sempre”, “Se falhar, significa que não sou capaz”, ou “Os outros só me valorizam se eu fizer tudo na perfeição”. Estas crenças, aprendidas ao longo da vida, frequentemente em contextos familiares muito exigentes, ambientes competitivos ou experiências precoces de crítica, tornam-se esquemas orientadores do comportamento. A pessoa passa a interpretar o mundo através de um filtro que associa erro a fracasso pessoal, e desempenho a validação. O resultado é um ciclo constante de autoavaliação negativa, hipervigilância em relação a falhas e evitamento de situações onde exista risco de imperfeição.
As relações interpessoais são de um modo geral exigentes e desafiantes. As relações de casal são tudo isso e muito mais, tornando-se por vezes tão difíceis que desistir parece ser a única opção. No entanto, há algumas estratégias que podem melhorar, simplificar e muitas vezes “resolver” estas relações, apesar de em alguns momentos as situações de conflito e desentendimento fazerem parecer que já nada as pode salvar.
Muitos casais enfrentam diariamente relações difíceis, conflituosas e desgastantes, em que a ideia de desistir aparece sistematicamente. Porém, mesmo quando a harmonia e a felicidade parecem já não existir, quando o amor e o companheirismo se fundem com o ressentimento, a raiva e a frustração, ainda assim pode haver uma forma de contornar e reverter este desequilíbrio, onde os sentimentos de culpa por norma assumem lugar de destaque. Para caminhar na direção da restauração de uma relação que parece já não ter “pernas para andar”, é fundamental que os dois elementos do casal assumam as suas responsabilidades no conflito. Só reconhecendo os próprios erros é que cada um pode escolher modificar comportamentos e atitudes, o que se vai refletir na dinâmica do relacionamento e permitir que ambos fiquem novamente disponíveis para a relação.
Em primeiro lugar, comecem por impedir que os ressentimentos destruam o vosso relacionamento. Ignorar a situação causadora de conflito não irá ajudará a resolve-la. Muitas vezes, quando os conflitos são muito frequentes, os casais podem ter tendência para bloquear a comunicação, para se protegerem. No entanto, dialogar sobre as dificuldades e as divergências é fundamental para manter saudável a relação e para encontrarem respostas ou soluções. Por outro lado, é importante que ambos percebam que a crítica e o “apontar o dedo” dificilmente levam á reconciliação. Ao colocarem o foco é na pessoa e não o seu comportamento, esta irá sentir-se atacada, o que pode criar automaticamente uma barreira. Procure dizer ao seu parceiro/a como se sente com determinado comportamento ou de que forma a sua atitude perante si a/o fazem sentir. “Sinto-me triste porque não tive a oportunidade de dar a minha opinião”, em vez de “tu nunca ouves a minha opinião”.
A crítica poderá sempre existir mas apenas se for construtiva. Em conjunto com o seu parceiro/a definam um período de tempo em que as críticas não são permitidas. Durante esse período, procurem estar menos defensivos/as e procurem adotar uma comunicação mais positiva. É igualmente importante que escolham ter uma comunicação baseada na honestidade, ou seja, tenham a certeza de que falam sobre as vossas preocupações, que expressam as vossas dificuldades e que expõem os vossos sentimentos de desejos, de forma assertiva, ou seja, respeitando o ponto de vista do outro. Procurem não esconder sentimentos, nem mesmo os negativos e não confundam honestidade com vulnerabilidade ou fraqueza.
Por vezes, as discussões acontecem. Embora não seja desejável, por vezes pode haver tendência para perder o foco do problema e orientar a discussão para o ataque pessoal. Se acontecer, procurem a monitorização e o auto questionamento. “Onde é que esta minha atitude me vai levar?”, “Preciso mesmo de dizer-lhe isto?”. Evite revelar indiferença ou desprezo pelo outro, pois não vai contribuir em nada para a relação e pode ainda aumentar o desconforto. Procure pensar nas qualidades do seu parceiro/a e expresse sentimentos positivos sempre que possível. Faça um esforço para perceber o ponto de vista do outro, colocar-se “nos seus sapatos” e, mais uma vez, ser assertivo/a na comunicação.
As relações com os outros, principalmente as relações românticas, precisam que se lhes dedique tempo. Com a correria do quotidiano e as rotinas por vezes difíceis de conciliar, corremos o risco de nos esquecemos de ser simpáticos e amáveis com o parceiro/a. Pequenos gestos como, “Como correu o teu dia?” ou “O que te apetece fazer este fim-de-semana”, ou ainda “Precisas de ajuda para…?”, podem fazer a diferença. Conversar, revelar empatia pelo outro, validar a sua opinião e compreender as suas emoções, faz com que ele/a sinta que estamos ao seu lado, cúmplices e disponíveis, pode ajudar a manter o vínculo e dar significado ao casal.
Por fim, é importante que tenha a capacidade de perdoar. Perdoar não significa tolerar comportamentos ou atitudes prejudiciais ou desrespeitosas, no entanto, nas devidas situações, poderá permitir a continuidade da relação. Para seguirem o mesmo caminho, navegarem no mesmo barco, é muito importante aceitar algumas fraquezas do outro, reforçar as qualidades e procurar sempre o caminho da compreensão, tendo em vista a recuperação da harmonia e da felicidade que um dia vos juntou.
A autoestima tem um papel fulcral no bem-estar emocional e na saúde mental dos indivíduos. Em psicologia, prioriza-se a compreensão do que é a autoestima e os seus pilares fundamentais, bem como se procura promover o seu fortalecimento, no sentido de potenciar um maior equilíbrio emocional e aumentar a satisfação com a vida.
Podemos entender a autoestima como a avaliação subjetiva que cada indivíduo faz de si próprio, isto é, a forma como se valoriza e se sente digno. A autoestima vai-se construindo ao longo da vida, sendo influenciada por experiências passadas, pelas relações com os outros, pelos sucessos e conquistas pessoais, mas também por acontecimentos negativos e pela forma como cada indivíduo lida com esses acontecimentos. Compreender a autoestima é reconhecer que ela não é uma entidade estática, é um processo dinâmico que se altera e evolui ao longo do ciclo de vida.
Na terapia de casal a intervenção foca-se essencialmente no casal e não na relação em si. O importante é avaliar cada elemento do casal e intervir no sentido de melhorar a sua saúde emocional. Pessoas emocionalmente estáveis tendem a ter relações mais saudáveis e satisfatórias.
Os “ingredientes” mais importantes para o sucesso de uma terapia de casal são o amor e a vontade de continuarem juntos. Alguns dos erros mais comuns dos casais com dificuldades relacionais são a procura de ajuda muito tardia; quando um elemento do casal quer pedir apoio e o outro vai “por arrasto” (falta de sintonia no processo de mudança); quando um dos elementos não reconhece que há um problema (fase de não contemplação); quando um ou os dois elementos do casal reconhecem que há problemas, mas não estão preparados para a mudança (contemplação); quando um dos dois pode não estar preparado para a ação (empreender ações de mudança) e quando há a crença de que o caminho de ambos passa por continuarem juntos, o que pode não ser a melhor opção…
Cada indivíduo, reserva no seu mundo exterior uma parcela destinada à perceção de si mesmo. Da mesma forma que o indivíduo percebe e atribui valor à realidade que o cerca, percebe e atribui valor e significado a si mesmo, formando gradualmente o seu autoconceito.
Desde a infância, e á medida que nos relacionamos com os outros e com os diversos contextos nos quais vamos estando inseridos, desenvolvemos também a nossa perceção de nós mesmos, ou seja, o nosso autoconceito. Assim, com base no modo como nos avaliamos e julgamos a nós próprios, o nosso autoconceito vai-se formando, influenciando de forma direta a nossa autoestima. O autoconceito deriva da forma como interpretamos as nossas emoções, o nosso comportamento e a comparação que fazemos de nós próprios com os outros.