As férias escolares representam, para muitas crianças, um período de alívio, descanso e liberdade. No entanto, este tempo de pausa do calendário letivo nem sempre é vivido com a mesma leveza pelas famílias. Para os pais e cuidadores, especialmente aqueles com responsabilidades profissionais exigentes ou com poucos recursos, as férias escolares podem representar um verdadeiro desafio logístico, emocional e financeiro. Nesta fase, é importante refletir sobre os impactos psicológicos desta realidade, tanto para os adultos como para os próprios filhos.
Do ponto de vista das crianças, as férias são geralmente associadas a sensações positivas: ausência de rotinas rígidas, tempo livre para brincar, possibilidade de viajar ou visitar familiares. Contudo, nem todas as crianças vivem este período da mesma forma. Em famílias onde os recursos são limitados, a falta de acesso a atividades estruturadas, como colónias de férias ou campos de verão, pode resultar em isolamento social, sedentarismo e até aumento de conflitos familiares. A ausência de estímulos regulares também pode ter impacto no desenvolvimento cognitivo, especialmente em crianças mais vulneráveis ou com necessidades educativas especiais (Silva & Moura, 2020).
Nas últimas décadas, as mulheres têm vindo a conquistar um espaço cada vez mais relevante no mercado de trabalho. Ocupam cargos de liderança, destacam-se em áreas tradicionalmente dominadas por homens e contribuem de forma expressiva para a economia global. No entanto, por detrás deste progresso aparente, permanece uma realidade muitas vezes invisível: o conflito psicológico entre a ambição profissional e a culpa associada às expectativas sociais, familiares e culturais.
Do ponto de vista psicológico, este conflito manifesta-se frequentemente através de um sentimento persistente de insuficiência. Muitas mulheres sentem que, por mais que se esforcem, nunca estão completamente “à altura” – nem no trabalho, nem em casa. Esta pressão é, em grande parte, alimentada por um ideal social da “mulher que faz tudo”, capaz de gerir uma carreira de sucesso, uma casa organizada, filhos felizes e uma vida conjugal equilibrada. Este modelo, inalcançável e exaustivo, está na origem de muitos quadros de ansiedade, exaustão emocional e, em casos mais extremos, burnout.
A dor é uma experiência universal que atravessa fronteiras culturais, sociais e temporais. No entanto, nem toda a dor é igual. Podemos distinguir, de forma geral, entre dor física e dor psicológica, duas manifestações distintas que, embora diferentes na sua natureza, estão profundamente interligadas. Entender esta dualidade é essencial para uma abordagem mais humana e eficaz do sofrimento humano.
A dor física é geralmente associada a um estímulo nocivo, como uma lesão, uma inflamação, uma doença. É, por assim dizer, uma resposta biológica do corpo, um sinal de alarme do sistema nervoso que visa proteger-nos de maiores danos. A dor física pode ser aguda, como no caso de uma queimadura, ou crónica, como a dor associada à fibromialgia ou à artrite. Esta última, quando persistente, pode ter efeitos devastadores não só no corpo, mas também na mente.
A psicologia é a ciência que estuda o comportamento humano e os processos mentais dos indivíduos, procurando compreender a forma como pensamos, sentimos e agimos. Dentro deste campo, a saúde mental é uma área de extrema importância, abordando questões como a ansiedade, a depressão, o stresse e outras condições psicológicas. Nos últimos anos, um fenómeno conhecido como positividade tóxica tem vindo a ganhar destaque, revelando-se uma área de preocupação para psicólogos e investigadores nesta área.
A positividade tóxica refere-se à imposição de uma atitude excessivamente otimista e positiva, independentemente das circunstâncias, desvalorizando as experiências negativas ou difíceis que são parte natural da vida. Esta abordagem pode enganar as pessoas, levando-as a acreditar que devem suprimir as suas emoções negativas e transmitir aos outros e a si mesmos, uma ideia de felicidade constante. Embora a intenção por detrás da positividade seja frequentemente bem-intencionada, pode resultar em sentimentos de culpa e inadequação naqueles que não conseguem manter esse estado de espírito.
A Sexualidade é um tema indissociável do ser humano, presente em todos os contextos e capaz de desencadear todo o tipo de reações, como o riso, a vergonha, a dúvida ou a curiosidade. Qualquer comportamento sexual tem uma componente biológica, psicológica, e interpessoal, baseando-se em conceitos culturais de normalidade e moralidade.
A Saúde Mental é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), não apenas como a ausência de doença, mas também como um estado de bem-estar em que cada indivíduo realiza o seu próprio potencial, conseguindo lidar com os desafios normativos da vida, como por exemplo, trabalhar de forma produtiva e assim contribuir para a sociedade. Para a OMS, a sexualidade inclui vários aspetos da experiência humana: as diferenças biológicas entre mulheres e homens, as identidades e papéis de género, a orientação sexual, o erotismo, o prazer, a intimidade e a reprodução. A interligação entre variáveis como o sexo atribuído à nascença, o género, e a orientação sexual, e a forma como estas se relacionam é tão fluída e livre como a complexidade da própria existência humana.
A história pessoal de cada indivíduo e a forma como se relaciona com os outros e com o mundo, é de certo modo influenciada pelo género e pela sexualidade. A a sua expressão pode mudar ao longo da vida, desde a adolescência até à idade adulta avançada. O género e a sexualidade estão presentes na vivência humana, na forma como a paixão é experienciada, na intimidade, no amor, no modo como cada um de nós se afirma perante a sociedade, na elaboração e na construção das relações afetivas e na forma como cresceremos nessas mesmas relações.
As diversas formas de expressão da sexualidade humana são todas elas normativas e legítimas, desde que sejam vivenciadas de forma saudável e que não interfiram com a liberdade e a vontade dos outros. A vivência da sexualidade pode por vezes conduzir a períodos de angústia, tristeza, ansiedade, medo, vergonha, ou até mesmo desalento e resignação. Em alguns desses momentos, a partilha com um profissional de saúde habilitado, poderá ajudar a encontrar soluções para as dificuldades apresentadas. Estes podem oferecer informação, sugestões e estratégias para ajudar a lidar com as dificuldades, assim como poderá, após avaliação do caso, encaminhar para outro profissional especializado.
As crenças e normas sociais atuais, podem por vezes ainda não estar ajustadas à diversidade humana, que se vê forçada muitas vezes a inserir numa sociedade que ainda pune e ostraciza muitas das expressões individuais da sexualidade, como é o caso dos indivíduos com incongruência entre o género sexual vivenciado e o seu género atribuído à nascença. A mudança de género e o processo de reatribuição sexual são processos organizadores na vida dos indivíduos, no entanto, são questões ainda fraturantes numa sociedade binária, apesar de terem vindo a ser feitos progressos nesta área.
A sexualidade e a doença mental podem influenciar-se ou determinar-se mutuamente. As perturbações depressivas, as perturbações de ansiedade, o consumo de substâncias psicoativas, a perturbação bipolar ou a esquizofrenia, são exemplos de perturbações que podem dar origem ou estar em comorbilidade com dificuldades ao nível da sexualidade. Por outro lado, as disfunções sexuais podem de igual modo agravar ou desencadear patologia do foro psicológico ou psiquiátrico.
O estilo de vida é também por si só potenciador das dificuldades ao nível da sexualidade, como por exemplo os consumos de álcool, tabaco ou drogas, que influenciando a saúde física se podem repercutir na saúde mental e sexual. Também as perturbações do sono, a alimentação e a ausência de atividade física, têm impacto a esse nível o que não deve ser desvalorizado. Outro fator que pode ter grande impacto na função sexual do indivíduo é alguma medicação crónica, pelos seus efeitos secundários. Este é um fator muito relevante e que merece toda a atenção, uma vez que é muitas vezes é a causa principal para o abandono da medicação, com todo o risco que isso pode implicar.
As dificuldades ao nível da sexualidade e da sua vivência, podem ocorrer em qualquer idade e relacionam-se com a forma como o corpo, a mente, a intimidade se relacionam. As dificuldades sexuais resultam muitas vezes em sentimentos de culpa e de falha e fracasso. O apoio psicológico pode ser uma importante ajuda uma vez que fornece um “lugar” de contenção, de segurança para a expressão emocional, para a reestruturação de alguns pensamentos desadaptativos e também para o ensino e treino de estratégias para lidar com o problema. Estas perturbações são geralmente reversíveis com abordagens relativamente simples, sendo a sua maior barreira a desvalorização do problema ou a tardia procura de ajuda.
Não deixe que sentimentos de vergonha, culpa, inferioridade ou desalento tomem conta da situação. Procure ajuda!
As relações interpessoais são de um modo geral exigentes e desafiantes. As relações de casal são tudo isso e muito mais, tornando-se por vezes tão difíceis que desistir parece ser a única opção. No entanto, há algumas estratégias que podem melhorar, simplificar e muitas vezes “resolver” estas relações, apesar de em alguns momentos as situações de conflito e desentendimento fazerem parecer que já nada as pode salvar.
Muitos casais enfrentam diariamente relações difíceis, conflituosas e desgastantes, em que a ideia de desistir aparece sistematicamente. Porém, mesmo quando a harmonia e a felicidade parecem já não existir, quando o amor e o companheirismo se fundem com o ressentimento, a raiva e a frustração, ainda assim pode haver uma forma de contornar e reverter este desequilíbrio, onde os sentimentos de culpa por norma assumem lugar de destaque. Para caminhar na direção da restauração de uma relação que parece já não ter “pernas para andar”, é fundamental que os dois elementos do casal assumam as suas responsabilidades no conflito. Só reconhecendo os próprios erros é que cada um pode escolher modificar comportamentos e atitudes, o que se vai refletir na dinâmica do relacionamento e permitir que ambos fiquem novamente disponíveis para a relação.
Em primeiro lugar, comecem por impedir que os ressentimentos destruam o vosso relacionamento. Ignorar a situação causadora de conflito não irá ajudará a resolve-la. Muitas vezes, quando os conflitos são muito frequentes, os casais podem ter tendência para bloquear a comunicação, para se protegerem. No entanto, dialogar sobre as dificuldades e as divergências é fundamental para manter saudável a relação e para encontrarem respostas ou soluções. Por outro lado, é importante que ambos percebam que a crítica e o “apontar o dedo” dificilmente levam á reconciliação. Ao colocarem o foco é na pessoa e não o seu comportamento, esta irá sentir-se atacada, o que pode criar automaticamente uma barreira. Procure dizer ao seu parceiro/a como se sente com determinado comportamento ou de que forma a sua atitude perante si a/o fazem sentir. “Sinto-me triste porque não tive a oportunidade de dar a minha opinião”, em vez de “tu nunca ouves a minha opinião”.
A crítica poderá sempre existir mas apenas se for construtiva. Em conjunto com o seu parceiro/a definam um período de tempo em que as críticas não são permitidas. Durante esse período, procurem estar menos defensivos/as e procurem adotar uma comunicação mais positiva. É igualmente importante que escolham ter uma comunicação baseada na honestidade, ou seja, tenham a certeza de que falam sobre as vossas preocupações, que expressam as vossas dificuldades e que expõem os vossos sentimentos de desejos, de forma assertiva, ou seja, respeitando o ponto de vista do outro. Procurem não esconder sentimentos, nem mesmo os negativos e não confundam honestidade com vulnerabilidade ou fraqueza.
Por vezes, as discussões acontecem. Embora não seja desejável, por vezes pode haver tendência para perder o foco do problema e orientar a discussão para o ataque pessoal. Se acontecer, procurem a monitorização e o auto questionamento. “Onde é que esta minha atitude me vai levar?”, “Preciso mesmo de dizer-lhe isto?”. Evite revelar indiferença ou desprezo pelo outro, pois não vai contribuir em nada para a relação e pode ainda aumentar o desconforto. Procure pensar nas qualidades do seu parceiro/a e expresse sentimentos positivos sempre que possível. Faça um esforço para perceber o ponto de vista do outro, colocar-se “nos seus sapatos” e, mais uma vez, ser assertivo/a na comunicação.
As relações com os outros, principalmente as relações românticas, precisam que se lhes dedique tempo. Com a correria do quotidiano e as rotinas por vezes difíceis de conciliar, corremos o risco de nos esquecemos de ser simpáticos e amáveis com o parceiro/a. Pequenos gestos como, “Como correu o teu dia?” ou “O que te apetece fazer este fim-de-semana”, ou ainda “Precisas de ajuda para…?”, podem fazer a diferença. Conversar, revelar empatia pelo outro, validar a sua opinião e compreender as suas emoções, faz com que ele/a sinta que estamos ao seu lado, cúmplices e disponíveis, pode ajudar a manter o vínculo e dar significado ao casal.
Por fim, é importante que tenha a capacidade de perdoar. Perdoar não significa tolerar comportamentos ou atitudes prejudiciais ou desrespeitosas, no entanto, nas devidas situações, poderá permitir a continuidade da relação. Para seguirem o mesmo caminho, navegarem no mesmo barco, é muito importante aceitar algumas fraquezas do outro, reforçar as qualidades e procurar sempre o caminho da compreensão, tendo em vista a recuperação da harmonia e da felicidade que um dia vos juntou.
Os seres humanos relacionam-se de forma única e profunda com os seus animais de estimação, podendo mesmo considera-los como membros da família. O afeto reciproco destas relações leva a que a sua perda seja muito significativa e possa ter grande impacto no bem-estar emocional dos seus tutores.
A profunda ligação entre seres humanos e animais, pode ser comparada ás relações humanas, sendo que em alguns casos pode mesmo ser mais profunda, gratificante de amor incondicional. Quando se vêm confrontados com a perda ou a eminencia da perda dos seus animais de companhia, muitas vezes após longos nos de ligação, os sentimentos gerados pela perda podem ser muito dolorosos para o indivíduo ou para a família.
As perturbações da alimentação e da ingestão são caracterizadas por uma perturbação persistente na alimentação ou na ingestão, que resulta na alteração do consumo dos alimentos e que provoca défice significativo na saúde física e psicológica, e/ou no funcionamento psicossocial. Entre estas perturbações encontram-se a anorexia nervosa, bulimia nervosa, a perturbação de ingestão alimentar restritiva ou compulsiva, entre outras.
Quando uma pessoa ingere alimentos de forma rápida, numa quantidade muito abundante, de forma descontrolada ou até mesmo em segredo, muitas vezes em resposta a emoções negativas, stresse ou preocupações emocionais, poderá estar a sofrer de uma perturbação de ingestão alimentar compulsiva, os seja, uma perturbação do comportamento alimentar. Durante os episódios de compulsão alimentar, a pessoa experimenta uma sensação de perda do controlo sobre a ingestão dos alimentos, sentindo por vezes uma enorme urgência ou necessidade irresistível de comer até ficar indisposta, mesmo sem ter fome física real.
Após esses episódios de ingestão compulsiva, para além do mal-estar físico marcado, é frequente a ocorrência de sentimentos de culpa e de vergonha ou até raiva para consigo mesma. A pessoa sente-se mal e recrimina-se por não ter conseguido controlar o impulso de comer, mesmo sem fome, e de ingerir quantidades exageradas de alimentos (habitualmente pouco saudáveis), no sentido de obter um alívio das suas emoções negativas, ainda que apenas temporário.
As Perturbações do Comportamento Alimentar não devem ser subestimadas nem ignoradas, pois podem conduzir a estados de saúde física e mental muito graves e por vezes à morte. Os principais fatores de risco para a perturbação de ingestão alimentar compulsiva são os genéticos, podendo ocorrer em famílias, o que pode refletir influencias genéticas adicionais. Esta é uma perturbação que se revela de frequência semelhante na maioria dos países industrializados.
Estas perturbações podem condicionar a adaptação ao desempenho dos papéis sociais, originar défices na qualidade de vida por problemas de saúde, pode contribuir para o aumento do peso/desenvolvimento de obesidade, bem como aumento da morbilidade e da mortalidade médicas. De referir ainda o aumento do recurso aos serviços médicos e de saúde, por parte destes indivíduos, em consequência da sua perturbação. De salientar que esta é uma perturbação que apresenta maior prevalência em indivíduos que procuram tratamentos de emagrecimento, do que na população em geral.
É extremamente importante que este tipo de perturbações sejam diagnosticadas o mais precocemente possível, sendo que em estádios iniciais o problema poderá ser resolvido apenas com recurso à psicoterapia. Casos mais graves e perturbações já instaladas há muito tempo necessitam de uma abordagem mais abrangente, podendo ir do acompanhamento psiquiátrico e nutricional em ambulatório, até ao internamento em unidade hospitalar especializada. A perturbação de ingestão alimentar compulsiva está associada a comorbilidade psiquiátrica significativa, comparável á bulimia ou á anorexia nervosas, sendo as perturbações mais frequentes a doença bipolar, perturbação depressiva, perturbação de ansiedade e ainda a perturbação de uso de substâncias.
No entanto, a recuperação é possível e a procura de apoio psicológico é certamente o primeiro passo, para uma vida mais equilibrada, saudável e feliz!
Fonte:
DSM-V – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (Quinta edição) de American Pshychiatric Association.
Podemos definir emoção como uma experiência subjetiva, que envolve a pessoa na sua totalidade: mente e corpo. Do ponto de vista neurológico, a emoção é descrita como uma variação psíquica e física, que tem origem num estímulo, avaliando-o e reagindo a ele.
As emoções são um modo natural de avaliação do meio envolvente, e a sua reação é consequência de uma adaptação. As emoções podem falar por nós, na medida em que são reveladoras da forma como nos sentimos e de como encaramos a vida. São estados de curta duração e onde estão incluídas a alegria, a tristeza ou o medo, entre muitas outras. Quando falamos de raiva, nojo, alegria, tristeza, surpresa ou medo, estamos a referir-nos a emoções básicas ou primárias, pois são aquelas não necessitam de reflexão ou introspeção. São inatas e estão ligadas ao instinto e à sobrevivência, e, por isso, surgem de forma súbita e inesperada e são de fácil definição pelo facto de serem rapidamente identificadas pelo indivíduo, independentemente da cultura a que pertence. As emoções secundárias ou sociais implicam uma tomada de consciência de si. Resultam das nossas aprendizagens e fazem uso das emoções primárias. No entanto, podem variar de acordo com o contexto cultural. São exemplos de emoções secundárias a vergonha, o ciúme, a inveja, a empatia, o embaraço, o orgulho ou a culpa.