O Fenómeno Black Friday e a Psicologia do Consumo

A Black Friday, fenómeno global originário dos Estados Unidos da América e amplamente difundido em Portugal nas últimas décadas, ultrapassou há muito o estatuto de mera estratégia comercial. Tornou-se um evento social e psicológico que mobiliza comportamentos de consumo em massa, muitas vezes irracionais, revelando dinâmicas profundas do funcionamento humano face à influência social, à emoção e à perceção de valor.

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Outubro: Mês da Saúde Mental

Outubro é, em muitos países, o mês dedicado à saúde mental, um tema que, felizmente, tem vindo a ganhar cada vez mais espaço no debate público. Falar de saúde mental já não é, ou não devia ser, um tabu. E, no entanto, ainda há muito por fazer para que o cuidado com a mente seja visto com a mesma naturalidade com que cuidamos do corpo.

Durante décadas, os problemas de saúde mental foram associados à fraqueza, à falta de força de vontade ou a algo que “não se devia contar”. O resultado foi o silêncio, e o silêncio, em matéria de sofrimento psicológico, é um terreno fértil para a dor crescer. Felizmente, a ciência e a sensibilização social têm vindo a mudar essa realidade. Hoje sabemos que a saúde mental é parte integrante da saúde global e que o bem-estar emocional influencia a forma como pensamos, sentimos, trabalhamos e nos relacionamos.

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Verão, Férias e Psicopatologia: Uma relação mais complexa do que se possa pensar

O verão, frequentemente associado à leveza, ao descanso e ao bem-estar, é para muitos um período aguardado com entusiasmo. Contudo, esta estação, marcada por alterações de rotinas, exposição prolongada ao calor e maior pressão social para se “ser feliz”, pode ter efeitos contraditórios sobre diversas psicopatologias. De facto, longe de ser um antídoto universal para o sofrimento psíquico, o verão e as férias podem intensificar ou até desencadear certas condições clínicas, revelando uma relação mais complexa entre o ambiente sazonal e a saúde mental.

Comecemos por considerar as perturbações do humor. Existe um fenómeno bem documentado que é a perturbação afectiva sazonal, geralmente associada ao inverno, mas que, em menor grau, pode também manifestar-se no verão. A chamada “depressão de verão” caracteriza-se por insónia, irritabilidade, ansiedade e perda de apetite, contrastando com a forma invernal, mais marcada por letargia e hiperfagia (Rohan et al., 2009). As causas são ainda pouco compreendidas, mas sabe-se que fatores como a alteração dos ritmos circadianos, a exposição intensa à luz solar e o calor extremo podem contribuir para um desequilíbrio neurobiológico.

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Desafios da Parentalidade na Era Digital

Enquanto psicóloga, tenho recebido com frequência pais que procuram ajuda por sentirem que perderam o controlo sobre os hábitos digitais dos seus filhos adolescentes. Jogos online, redes sociais, horas a fio em frente ao telemóvel ou computador… São queixas recorrentes. Muitos destes pais chegam esgotados, angustiados, com um sentimento de impotência e, não raras vezes, com a esperança de que a psicóloga tenha “a solução”. “Ele não me ouve, talvez ouça alguém de fora”, “Já tentei tudo, diga-lhe a senhora o que fazer”, “Ela só vive para o telemóvel, já não sei o que fazer”. Estas frases não são apenas desabafos, são gritos silenciosos de pais que estão em sofrimento, por vezes confusos sobre o seu papel e profundamente preocupados com o futuro dos seus filhos.

É importante, antes de mais, reconhecer este sofrimento. A parentalidade na era digital coloca desafios para os quais poucos adultos estavam preparados. A velocidade com que a tecnologia evolui, aliada à crescente complexidade das relações online, pode criar um verdadeiro fosso geracional. Muitos pais sentem que perderam a autoridade ou a capacidade de comunicar com os filhos de forma eficaz. Neste cenário, não é de estranhar que depositem na figura do psicólogo uma série de expectativas, por vezes irrealistas, na esperança de encontrar respostas rápidas e eficazes.

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Como Gerir a Sobrecarga de Informação na Era Digital

Vivemos num tempo de excesso de informação. A cada instante, surge uma notificação, uma nova atualização, uma notícia urgente, um acontecimento que parece exigir a nossa atenção imediata. Mas estaremos preparados para lidar com este fluxo incessante de dados, sem prejuízo para a nossa saúde?

O nosso corpo e mente, não foram concebidos para processar continuamente a enorme quantidade de notícias, imagens e opiniões, a que estamos sujeitos nos dias de hoje, sem qualquer pausa. Muitas vezes, sentimo-nos pressionados a estar informados para nos mantermos relevantes ou para não parecer que ignoramos o sofrimento do mundo. No entanto, esta necessidade constante de estar atualizado tem um custo elevado, pago muitas vezes em ansiedade, stress e um afastamento crescente de nós próprios. Quantas vezes já sentiu a necessidade de se desconectar, mas não o conseguiu fazer? Talvez tenha aberto as redes sociais apenas para um olhar rápido e, sem se aperceber, passaram longos minutos ou até horas. Ou então leu sobre crises globais ao ponto de ficar com um peso no peito, como se o destino do mundo dependesse de si. Esta reação é compreensível e humana, mas insustentável ao longo do tempo.

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Cyberbullying, a violência online

A violência online é qualquer tipo de comportamento agressivo, ameaça ou intimidação efetuado com recurso à internet, ou seja, pelas tecnologias, por meio de mensagens de telemóvel, email, website, Youtube ou redes sociais, com a intenção de magoar, humilhar, envergonhar, assustar ou ofender.

O cyberbullying é uma forma de bullying cometido através da internet e das novas tecnologias, em que alguém, habitualmente uma pessoa ou grupo conhecido da vítima, a procura ofender, amedrontar, envergonhar ou humilhar. Qualquer jovem é uma potencial vítima de cyberbullying. Isto pode acontecer por email ou por mensagens recebidas com ofensas, insultos ou ameaças. Estas mensagens podem assumir formas distintas, podendo conter vídeos ou fotografias comprometedoras, causadoras de vergonha e desconforto. As agressões podem incluir o roubo de passwords e dar acesso à caixa de correio eletrónico ou às redes sociais, permitindo a publicação abusiva e a informação ofensiva acerca da vítima ou dos seus familiares.

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Crianças e redes sociais: reais e virtuais

Hoje em dia falar de redes sociais remete-nos para o mundo virtual, tão apelativo para os adolescentes mas também para as crianças mais novas. A partilha de fotos e vídeos, bem como os likes e comentários que estes originam são fortemente valorizados, para o bem, e para o mal…Porém, existe uma rede de pessoas, reais, que se forma á volta da criança e que a acompanha ao longo do seu desenvolvimento. Essa é a verdadeira rede de apoio social.

Ao longo do curso de vida a rede de apoio social vai-se modificando, havendo elementos que entram e outros que saem, conforme a fase da vida em que o indivíduo se encontra. No entanto, as dimensões da rede social são tipicamente 3: familiar, escolar e comunitária. A família nuclear constitui-se como o anel mais próximo da criança desde o seu nascimento. Ao nascer, a criança é habitualmente rodeada pelos pais, irmãos e avós, sendo estes por norma os elementos mais comuns de suporte socio-emocional. Provedores de alimento, afeto e outros cuidados, a família constitui a rede que acolhe a criança e a protege. Noutro anel mais alargado, encontram-se outros familiares como tios, primos ou avós geograficamente mais distantes. Estes elementos estão habitualmente presentes na vida da criança em momentos significativos como aniversários e outras festividades, mas também podem constituir um meio de suporte importante em momentos de doença ou outras dificuldades, como por exemplo a separação dos pais.

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