Actualmente envelhecemos integrados em famílias quantitativa e qualitativamente diferentes das famílias dos nossos antepassados, em termos de papeis, relações e responsabilidades.
A fragilidade estrutural das famílias actuais devido, por exemplo, ao aumento das taxas de divórcio e segundos casamentos, leva a uma complexificação das relações entre gerações. Verifica-se uma maior dependência no comprometimento voluntário do envolvimento da família e uma maior dicotomia entre o compromisso de ter que tomar conta dos mais velhos e o viver a sua própria vida.
O decréscimo do número de filhos por casal tem impacto na distribuição dos cuidados a prestar aos mais velhos por parte dos mais novos. Havendo menos filhos, há por isso também menos cuidadores. A diversidade de tipos de família e de situações leva a diferentes opções em relação aos cuidados a prestar aos idosos. Passou também a ser uma realidade para alguns adultos o facto de terem a cargo mais pais do que filhos, ou seja, um casal só com um filho, poderá em qualquer momento vir a ter que cuidar de dois ou três dos seus quatro pais. Toda esta alteração demográfica prejudica a predição das dinâmicas familiares e leva a que os cuidadores sejam cada vez mais mais restritos.
Durante muitas gerações a função da mulher era a de cuidadora do lar, dos filhos e dos idosos. Mais tarde, as necessidades económicas e a própria evolução social introduziram a mulher no mercado de trabalho, tendo esta passado a ser a sua actividade principal. A mulher passa a acumular esta actividade com as outras funções, o que se traduz numa sobrecarga de tarefas, que vai forçosamente provocar alterações na sua função de cuidadora.
O paradigma da solidariedade intergeracional (entre pais e filhos), fonte primária de apoio emocional e instrumental, é um fenómeno multidimensional da experiência dos afectos e papéis sociais coesos, ligados ao facto dos indivíduos serem próximos. É uma solidariedade normativa e recíproca que vai ter impacto na forma como os indivíduos vão lidar com os acontecimentos de vida. Porém estas relações não são perfeitas e por vezes são caracterizadas por uma certa ambivalência, devido à alternância entre emoções positivas , como a solidariedade, o apoio e o conforto, e as emoções negativas, como conflitos ou ressentimentos.
Há famílias que optam pela institucionalização de um indivíduo se a sua saúde mental e/ou física estiver diminuída. Outras vezes, mas menos comum, é o próprio idoso a optar por essa via e a escolher ele próprio a instituição onde quer viver os seus últimos anos. Há ainda um certo estigma relacionado com a decisão de institucionalização, muito justificado por inúmeros casos de pseudo-instituições, em que os idosos são negligenciados, quer a nível físico como psicológico e emocional, tratados sem respeito pela sua individualidade e dignidade. No entanto, existem instituições como lares e casas de repouso, onde a formação, o profissionalismo e o sentido de responsabilidade e solidariedade dos cuidadores se sobrepõe aos maus exemplos referidos, podendo esta ser uma opção com resultados favoráveis aos vários elementos da família.
A participação na vida da instituição (festas, dias temáticos, passeios), por parte dos familiares do idoso, assim como a sua integração, sempre que possível, nos eventos e acontecimentos familiares, promovem a estreita relação entre os mais novos e os mais velhos, com os benefícios inerentes a essa convivência.
Em suma, envelhecer é uma inevitabilidade e o papel da família, hoje em dia, pode ser diferente do que já foi outrora mas contínua a ter uma extrema importância na adaptação dos mais velhos ao seu próprio processo de envelhecimento. Dando destaque aos afectos, o papel dos mais novos é sem dúvida o de apoiar, acompanhar e proporcionar momentos de felicidade aos seus idosos, no sentido de os ajudarem a percorrer o final de um caminho, muitas vezes sinuoso.
A vivência afectiva dos idosos constitui um processo dinâmico com influência na preservação da sua sensibilidade interna, com efeitos positivos no controlo da ansiedade, sintomatologia depressiva e isolamento.