A partir dos 18 meses as crianças apresentam um desenvolvimento e uma evolução enormes. Após a aquisição da marcha e da fala, as crianças a partir do ano e meio passam a ter já competências cognitivas e sociais que lhes permitem uma maior interacção com os outros.
Em termos de desenvolvimento cognitivo, a partir dessa idade é suposto que a criança tenha imagens mentais de pessoas e objectos que não estejam presentes e que use a imaginação e comece com as brincadeiras do faz-de-conta. Usam objectos para representar pessoas, por exemplo, uma boneca para representar a mãe ou um bebé e conseguem já contar ou descrever os acontecimentos do dia-a-dia e imitar acções e acontecimentos ocorridos no passado. Compreendem que as imagens e as fotografias representam pessoas e objectos reais e têm alguma noção do tempo ainda que vaga e por vezes confundam os significados de hoje, amanhã e ontem.
No que diz respeito à concentração e atenção, apenas a conseguem manter por períodos curtos e distraem-se facilmente. Recordam regras simples, mas sem compreender claramente a diferença entre o bem e o mal. Falam porque são capazes de ter representação mental das coisas, sendo que por volta dos 3 anos já dominam cerca de 1000 palavras, embora a partir dos 2 anos possam já seguir instruções verbais simples e entender mais palavras do que aquelas que conseguem verbalizar.
Quanto ao desenvolvimento e aquisição de competências sociais, nesta fase as crianças estão a desenvolver um forte sentido de si mesmas como indivíduos, separados das outras pessoas ao seu redor, e por norma, pensam que são o centro do universo, o que dá origem ao egocentrismo tão característico desta fase do desenvolvimento infantil. Querem que as suas necessidades sejam atendidas no imediato e facilmente se sentem frustradas. Começam a revelar sinais de independência, podendo ser teimosas e mostrar alguma tendência para contrariar os adultos e dizerem-lhe NÃO. São habitualmente possessivas, têm um sentido muito forte da noção de território: isto é meu, tendo por vezes dificuldade em compartilhar os brinquedos, por exemplo.
Estas crianças têm dificuldade em expressar as suas emoções com palavras e por isso usam birras para expressar o cansaço, a frustração e a raiva. Brincam lado a lado com outras crianças mas não brincam em conjunto. Aprendem a pensar, a relacionarem-se com os outros, e a resolverem problemas simples através das brincadeiras. Estas revestem-se de extrema importância para o saudável desenvolvimento infantil e são um meio de grandes aprendizagens.
Com todo o processo de desenvolvimento em curso, muitas vezes os pais e outros cuidadores vêm-se a braços com dificuldades em conter algumas expressões de raiva, cansaço ou frustração das suas crianças. Assim, deixo algumas dicas para que possam lidar de forma mais adaptativa, com os comportamentos difíceis do seu bebé já mais crescido.
Uma situação que ocorre com frequência é a briga de duas crianças pelo mesmo brinquedo. Quando isso acontecer, use soluções pacíficas e positivas como por exemplo dar um brinquedo a cada criança ou então retirar do local o brinquedo que originou o conflito. Se não resultar, chame a atenção das crianças para outra coisa ou mude-as de lugar. Deixe sempre muito claro que magoar outra criança (bater, empurrar) não é aceitável e ajude sempre o seu filho a resolver as situações de zanga usando palavras que descrevam o acontecimento que a despoletou.
As birras são típicas nesta fase do desenvolvimento infantil e podem ser muito cansativas e stressantes para os pais. Um primeiro lugar mantenha a calma, respire fundo e prepare-se para intervir. Use palavras firmes mas suaves para acalmar ou distrair a criança e tente compreender o que causou a birra para poder dar uma resposta adequada. A criança está cansada, com sono, frustrada por não conseguir montar uma peça do jogo, o que está a provocar essa expressão de raiva? Se compreender a razão da birra e se entender que a criança se está a manifestar assim porque ainda não aprendeu a fazê-lo de uma forma mais adequada, será meio caminho para não se descontrolar.
Evite gritar e não bata na sua criança. Uma palmada poderá até resolver a situação no imediato mas não vai ensinar à criança nenhuma alternativa ao seu mau comportamento. Pelo contrário, estará a ensinar à criança que se podem resolver os problemas com violência. Estará a ser um modelo que a criança tenderá a replicar numa próxima situação de conflito, com outra criança ou até mesmo com um adulto. Por outro lado, durante a birra, não tente dar um ralhete nem conversar, porque a criança não está em condições de o ouvir, no calor de um ataque de raiva. Tente não dar muita importância, se possível e distraia a criança, mantendo-se firme na sua decisão. A birra deve ser ignorada tanto quanto possível, pois dar-lhe demasiada atenção irá reforçar esse comportamento.
Para evitar este tipo de situações, procure não levar crianças nesta faixa etária para lugares de adultos (ex. igreja, supermercado) uma vez que pode ser difícil que fiquem bem-comportadas ou entretidas por mais de 30 minutos. Se estiver perto da hora de comer ou de dormir, certifique-se que o lugar para onde vai com a criança, reúne as condições necessárias para que as suas necessidades sejam atendidas. Proteja-se das birras pois é muito mais fácil evitá-las do que ter que lidar com elas!