As crianças em idade pré-escolar (3 aos 5 anos) encontram-se num período do seu desenvolvimento motor, cognitivo e social, caracterizado por grandes mudanças. Estas mudanças que se manifestam através do pensamento e do comportamento da criança deverão ser apoiadas e acompanhadas com particular atenção por parte dos pais, cuidadores e educadores.
A partir dos 3 anos, a criança já consegue usar a imaginação, pensar e fantasiar acerca de situações, pessoas ou objectos, sem que estes estejam presentes. Esta capacidade para usar a imaginação poderá levar a criança a imaginar algumas situações menos tranquilas, sentir medos ou ter pesadelos. Torna-se importante que os adultos cuidadores fiquem atentos à necessidade da criança ser tranquilizada, em relação a receios ou medos infundados, no sentido de prevenir futuros problemas relacionados com a ansiedade.
Nesta fase do desenvolvimento, as crianças revelam dificuldade em perceber que as outras pessoas têm ideias e opiniões diferentes das suas. Não conseguem ainda entender uma perspectiva diferente da sua, embora utilizem já palavras para expressar pensamentos e sentimentos e para partilharem experiências vividas. Frequentemente falam em voz alta para si mesmas como meio de controlar o seu comportamento e começam a conseguir pensar com antecipação e a planear acções simples. Estas crianças conseguem já distinguir algumas realidades, como por exemplo, perceber que um cão de peluche não é um cão real. Ainda em termos cognitivos, começam a perceber a relação entre causa e efeito, ou seja, que as acções têm consequências (ex. se eu não vestir o casaco eu vou ficar com frio) e passam a ter um entendimento dos conceitos de antes e depois, hoje e amanhã, etc.
Na idade pré-escolar as competências sociais também sofrem mudanças significativas. As crianças começam a entender as emoções dos outros e sabem quando alguém está triste ou contente. Começam a compreender conceitos abstractos como igual ou diferente, certo ou errado, bem ou mal. Torna-se importante que ensine e motive a sua criança a agradecer, a pedir por favor ou a pedir desculpas, bem como a assumir a responsabilidade pelos seus comportamentos, em vez de culpabilizar os outros quando faz algo de errado. A criança já entende normas sociais simples e pode comportar-se de acordo com essas normas.
Habitualmente nesta idade, as crianças começam a entender que os elogios ou os sermões são o resultado de algo que fizeram, ou não fizeram e começam a compreender que há diferenças entre fazer as coisas de propósito ou por acaso. Controlam as suas emoções de maneiras diferentes: fecham os olhos, tapam os ouvidos, afastam-se da situação, e podem resistir ao que lhes é pedido ou protestar.
A partir dos 3 anos, as crianças mudam a forma como brincam: aos 3 anos ainda brincam ao pé dos amigos mas ainda muito cada um por si, por volta dos 4 anos já conseguem brincar em conjunto com os amigos e brincar à vez, e aos 5 anos brincam e interagem bem com as outras crianças. Nesta fase as crianças aperfeiçoam a sua coordenação de movimentos e adquirem uma maior noção dos tamanhos e das formas, resultado do intenso desenvolvimento muscular associado a um aumento da actividade motora. As crianças procuram realizar de forma mais independente algumas actividades do dia-a-dia que requerem movimentos mais complexos e precisos, como por exemplo, o vestir-se sozinha, lavar os dentes ou atar os sapatos.
Perante esta fase em que os filhos adquirem competências e habilidades tão importantes, os pais sentem por vezes algumas dificuldades em lidarem com as mudanças observadas e com alguns comportamentos difíceis, associados a esta idade da criança. Assim, sugere-se aos pais e cuidadores que ensinem os seus filhos a usarem as palavras para expressarem os seus sentimentos (ex. “eu estou aborrecido porque tu não me queres emprestar o teu brinquedo”, em vez de tirar bruscamente o brinquedo da mão de outra criança). Quando ocorrer uma zanga entre duas crianças, tente parar a briga e dar primeiro atenção à criança que possa ter sido magoada, para a acalmar. Deve impor também uma pausa para acalmar a criança agressora e essa pausa deve ser de 1 minuto para cada ano de idade da criança (time out). Fale com as crianças sobre o que aconteceu mas só depois de ambas se encontrarem calmas. Pergunte a cada uma delas o que sente em relação à briga e que soluções propõem. Reforce (elogie) as crianças sempre que estas resolverem as zangas com soluções positivas e não com violência.
Nesta fase as crianças gostam de ter responsabilidades e de ajudar em tarefas simples. Peça ao seu filho para colaborar nas actividades domésticas, ou outras que estejam de acordo com as suas capacidades, o que irá fazer com que ele se sinta valorizado e competente. Proteja a sua criança de situações que causem medo real, como presenciar cenas de violência na televisão ou na vizinhança, por exemplo, e, por favor, não use violência com a sua criança, porque ao fazê-lo estará a dar-lhe um exemplo negativo de como se comportar e de como resolver os seus problemas. Estará a ser o seu modelo!
Os pais deverão procurar entender que as crianças desenvolvem as suas capacidades de forma progressiva e de acordo com o contexto em que estão inseridas. É importante que lhes ofereçam oportunidades estimulantes em termos de experiências, actividades e aprendizagens e que nunca se esqueçam da importância do reforço como forma de potenciar a ocorrência de bons e adequados comportamentos.