A ansiedade é uma emoção humana básica, que surge sempre que uma situação é interpretada como perigosa. Tem uma função adaptativa de protecção, isto é, serve para alertar o indivíduo para situações novas ou ameaçadoras e permitir a execução rápida de acções para lidar com essas situações. Estas acções incluem fuga, imobilidade, defesa agressiva, submissão, etc.
Nas crianças, ao longo do primeiro ano de vida, os medos mais comuns são os ruídos, as pessoas estranhas e a separação das figuras significativas, como por exemplo, os pais ou os seus substitutos. Na idade pré-escolar, o medo de estranhos e a separação das figuras de vinculação continuam a ser medos bastante frequentes, juntando-se a estes o medo de trovoadas e de animais. A partir dos 6 anos os acontecimentos sobrenaturais, as feridas e o sofrimento físico, as preocupações com a saúde ou a morte e os medos relacionados com o desempenho e a vivência escolar, passam a ter expressão significativa. Mais tarde, na adolescência, os jovens têm nos seus relacionamentos interpessoais, na autoimagem e nas questões relacionadas com a sexualidade, os seus maiores receios.
Todas estas questões que povoam e preocupam as mentes das nossas crianças e adolescentes são até certo ponto normativas. A frequência e a intensidade com que cada um se depara com estas dificuldades é que pode ser variável e por vezes disfuncional, e por isso patológico. Para se fazer a distinção entre um medo normal e um medo patológico, devemos levar em consideração vários factores: a intensidade do medo, ou seja, se é desproporcionado perante o estímulo a que se refere, a sua persistência no tempo, se é um tipo de medo característico ou não da idade em que a criança ou o jovem se encontram, e ainda, o seu grau de interferência no dia-a-dia da criança e da família.
Alguns estudiosos desta matéria como é o caso de Barlow (2000) sugerem que possa haver uma tripla vulnerabilidade para os problemas de ansiedade. A vulnerabilidade biológica que está relacionada com o temperamento da criança, sendo que a inibição comportamental parece ser um preditor para o desenvolvimento de perturbações de ansiedade na infância. O mesmo autor sugere a importância da contribuição genética para a expressão destes traços. A juntar a este cocktail de factores predisponentes para os problemas de ansiedade, a vulnerabilidade psicológica parece ter também o seu contributo importante. O baixo sentido de autocontrolo de um modo geral e de um modo mais específico, o estilo de vinculação e os estilos parentais parecem ter o seu peso. E ter medo também se aprende. O medo aprendido por experiência própria (condicionamento clássico), o medo adquirido por modelagem e o que se aprende por transmissão de informação negativa, podem influir fortemente no desenvolvimento da ansiedade patológica.
As perturbações de ansiedade são das perturbações psiquiátricas com maior prevalência em crianças e adolescentes, apresentando números entre os 5,7% e os 17,7% (Ollendick et al., 2002), nomeadamente a ansiedade generalizada, ansiedade de separação (por norma em crianças mais novas), a fobia social, a fobia específica, a perturbação pós traumática de stresse, a perturbação obsessivo-compulsiva e a perturbação de pânico, esta última já no início da idade adulta. Habitualmente este tipo de perturbações ocorre em função dos vários desafios contextuais, típicos de cada etapa do desenvolvimento.
As perturbações de ansiedade da criança e do adolescente podem ter consequências negativas significativas, principalmente se não forem tratadas. A intervenção psicológica assume um papel importante no controlo deste tipo de problemas e na prevenção do desenvolvimento de outras patologias na idade adulta, como por exemplo depressão ou abuso de substâncias. A intervenção cognitivo-comportamental oferece técnicas de controlo da ansiedade bastante eficazes, mas para que a sua eficácia seja potenciada, a intervenção precoce deve ser considerada e implementada. E porque aqui do que falamos é de medo, não tenha medo! Se a sua criança apresenta algum tipo de medo intenso, frequente e infundado, e que interfere seriamente nas suas rotinas, procure ajuda junto a um psicólogo.
Excelente!! Este é um tema muito pertinente e atual.
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