Segundo a Direcção Geral de Saúde (2016), as doenças com maior impacto na população portuguesa são: o cancro (18,5%), as doenças cardiovasculares (15,4%), os problemas de saúde mental e comportamental (8,9%), as doenças respiratórias (4,1%) e a diabetes (3,6%).
Para todas estas patologias, os factores de risco são um traço comum. Desde os hábitos alimentares, à hipertensão, passando pelo excesso de peso e os consumos excessivos de tabaco e álcool, todos estes comportamentos estão de algum modo relacionados com as referidas patologias mas também associados entre si. Daí se conclui que a prevenção da doença e a promoção da saúde deverá incidir na mudança comportamental para a implementação de hábitos de vida saudáveis. E qual é o papel do psicólogo a este nível?
O papel do psicólogo na promoção da saúde e prevenção da doença inclui o ensino de estratégias, apoio e monitorização em várias dimensões. O psicólogo pode ajudar o indivíduo na aceitação e adaptação à realidade da sua condição de doente, na adesão à terapêutica, no apoio na mudança de comportamentos e aquisição de hábitos de vida saudáveis, no ensino e treino de estratégias para o controlo da dor ou outras perturbações decorrentes da situação de doença, na monitorização das estratégias implementadas e no apoio emocional com vista ao bem-estar emocional e aumento da qualidade de vida.
O psicólogo tem como foco o doente e não a doença. Este é que define a doença e não o contrário. As categorizações biomédicas das patologias somáticas que permitem prever os processos de doença não servem para antecipar os processos psicológicos dos doentes, mas sim o contrário, são os processos psicológicos do doente que ajudam a antecipar a orientação dos processos somáticos da doença e o modo como o indivíduo vai colaborar ou não no processo de intervenção psicológica e no sucesso do mesmo. As intervenções psicológicas em pessoas com doença fisiológica não se destinam a substituir as intervenções biomédicas mas sim a complementá-las.
E o que motiva as pessoas para mudarem o seu comportamento? Por um lado as crenças normativas, ou seja, as crenças acerca da aprovação ou desaprovação do seu comportamento por parte da maioria das pessoas, ou pelo menos pelas mais significativas. Por outro lado, o controlo percebido, isto é se o indivíduo considera ter controlo sobre um determinado comportamento (ex. consumo de tabaco). Não menos importante é a susceptibilidade percebida, é o indivíduo acreditar que de facto é susceptível a uma situação que ameaça algo que valoriza, assim como a gravidade percebida, ou seja, quanto maior a gravidade que atribuí ao problema ou ao comportamento, mais provável será que venha a empreender esforços de mudança. De referir ainda outro factor motivador que é o balanço entre os prós e os contras. O que é que o sujeito tem a ganhar com a mudança do comportamento e o que perde? Se o prato da balança dos ganhos for mais pesado, maior será a probabilidade de aceitar mudar. E as barreiras? Que dificuldades antecipa e de que forma está disposto a lidar com elas? Por fim, as expectativas de resultado. A crença de que a mudança terá valor, isto é, que a realização da acção recomendada reduzirá a ameaça percebida é meio caminho para o sucesso.
O papel do psicólogo da saúde (e da doença) não se resume ao doente e ao seu apoio na fase aguda da doença. O psicólogo tem um papel igualmente importante tanto no ajustamento emocional e social do doente/sobrevivente como no apoio à família em situação de incapacidade ou luto.