Decorreu nos passados dias 26 e 27 de Setembro, em Lisboa, o 1º Fórum da Saúde Mental. Um evento de extrema relevância atendendo à elevada prevalência de perturbações do foro psiquiátrico e psicológico na nossa população, assim como à pouca atenção que por vezes é dada às problemáticas relacionadas com a saúde mental, que, à semelhança por exemplo da saúde oral, parecem ser os parentes pobres da medicina, em especial no que se refere aos orçamentos a elas disponibilizados.
O evento em questão contou com a participação de inúmeros palestrantes de renome, e outros menos conhecidos mas com uma intervenção importante nas diversas áreas da saúde mental. Médicos, psiquiatras, psicólogos, investigadores e até um arquitecto e um mestre em teatro, entre outros, deram o seu precioso contributo, não só pela partilha de experiências e saberes mas principalmente pelos trabalhos que têm vindo a desenvolver junto às comunidades, os quais deram a conhecer, esperando-se que sejam inspiradores para que outros profissionais da área os possam replicar ou até aprimorar.
A organização do evento foi muito interessante e apelativa. Os temas e as intervenções seguiram a ordem cronológica do ciclo de vida, tendo início com a abordagem de temas relacionados com a saúde mental infantil e juvenil. Foi destacada a importância da promoção de boas práticas de higiene de vida, desde a primeira infância ou até mesmo desde a vida intrauterina, para a prevenção da doença mental. Falou-se de bebés, do modo como o seu temperamento influência a sua relação com os outros e do modo como a interacção e estimulação das crianças pequenas, a par com o estilo parental, podem determinar ou pelo menos influenciar o seu ajustamento social e por conseguinte se constituírem como factores de risco ao desenvolvimento de psicopatologia.
A adolescência também teve o seu lugar de destaque. Foram abordados temas como a busca identitária, a filiação e afiliação dos jovens, comportamentos de risco, escola e ensino, entre outros temas todos eles muito pertinentes. Em relação à escola, gostaria de salientar uma preocupação recorrente que se prende com a desmotivação crescente que se verifica na população adolescente. Estudos recentes revelam que apenas cerca de 12,5% dos jovens com 15 anos gosta muito da escola. E este gostar da escola inclui os professores, os colegas e os intervalos, sendo que as aulas propriamente ditas, ou a relação que se passa dentro da sala de aula, fica num plano muito inferior. Foi também referida a pressão para a exigência a que as crianças e jovens são submetidos, o excesso de actividades, a rápida evolução tecnológica, o bullying e o cyberbullying, os pobres padrões relacionais, as dificuldades das funções parentais, enfim, uma imensidão de temáticas que têm tanto de desafiantes como de preocupantes.
Os adultos com doença mental e os problemas relacionados com o seu tratamento, acompanhamento, institucionalização e posterior desinstitucionalização tiveram também o seu lugar neste fórum. As dificuldades relacionadas com o trabalho e o stresse profissional, bem como outras realidades sociais, como o caso dos sem-abrigo, foram temas apresentados e que conduziram à abordagem de problemas como o consumo excessivo de álcool ou o burnout.
Também a população mais idosa não ficou esquecida com apresentações muito claras e elucidativas. Foi abordado o tema demência, não apenas enquanto patologia do foro mental mas também como problema social, uma vez que os doentes, no decurso da doença, vêm aumentada a sua dependência e a necessidade de recursos de ordem social adequados, ao apoio a si próprio e à família. O papel dos cuidadores, quer formais, quer informais também não foi esquecido, e foi salientada a importância da informação, formação e apoio psicológico àqueles a quem por inerência lhes cabe tratar dos outros. Foi ainda apresentado um fantástico projecto de ocupação de tempos livres e convívio para idosos, promovido e orientado por uma jovem artista da área do design – Projecto: “A avó vem trabalhar”, onde o trabalho e as actividades desenvolvidas pelos séniores assumem destaque, não só pela sua divulgação como pelo papel que representam na promoção da sua saúde mental.
Destaco agora a espectacular participação do Grupo de Teatro Terapêutico do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL), que brindou os participantes com uma apresentação na abertura e outra no encerramento do evento. A seriedade, o envolvimento e a dedicação destas pessoas, àquela que é considerada por muitos a arte maior, é comovente e deixa-nos espaço de reflexão. Cada um com as suas dificuldades e particularidades, unidos por um projecto de levarem e de se deixarem levar pelo teatro, suscita em cada um de nós sentimentos de ternura, gratidão e respeito. O meu obrigado à Câmara Municipal de Lisboa pelo evento, pela sua qualidade e pela possibilidade de me poder enriquecer como ser humano. Aprendi, surpreendi-me, indignei-me, ri e até chorei. Foi uma oportunidade não só de ampliar os meus conhecimentos mas também de agitar as minhas emoções e de me deixar com mais vontade de ajudar o outro.