Mudar um comportamento pode não ser tarefa fácil. Muitas vezes, mudar um comportamento implica alterar hábitos de longa duração, ou seja, acções já há muito tempo mantidas e que podem efectivamente, estar já automatizadas no nosso dia-a-dia.
Para que haja a mudança de um comportamento, a pessoa precisa de ter intenção de o fazer, ou melhor, estar motivada para essa mudança. Para além disso precisa de tomar decisões e de planear acções, isto é, encontrar comportamentos alternativos para poder substituir aqueles que quer ver modificados. Para estas tarefas, a ajuda do/a psicólogo/a é fundamental para que o individuo se sinta apoiado na tomada de decisões mas também para iniciar as novas rotinas. Tão importante como adoptar novos comportamentos, mais adaptativos, é conseguir mantê-los, resistindo às tentações e por vezes ao que é mais fácil, ao que está habituado.
Dois investigadores nesta área, Prochaska e Diclemente, desenvolveram um modelo – Modelo Transteórico de Mudança, que tem como premissa básica que a mudança do comportamento é um processo e não um acontecimento, e que as pessoas têm níveis diferentes de motivação ou disposição para a mudança. Este processo é constituído por seis fases. A primeira fase é a pré-contemplação e refere-se ao momento em que a pessoa ainda não tem consciência de que tem um comportamento problemático e que precisa de mudar. A fase seguinte, chamada de contemplação, refere-se a um tempo em que a pessoa se consciencializa de que de facto tem um problema mas ainda não quer ou não se sente preparada para mudar. Segue-se a fase de preparação, ou seja, a pessoa tem consciência do seu problema, quer mudar e está já preparada para isso. A partir do momento em que a pessoa começa a mudar efectivamente o seu comportamento, empreendendo acções para tal, diz-se que está na fase de acção. Após a mudança, é importante que o novo comportamento se mantenha, que se consolide e para isso a pessoa entra na fase de manutenção. Esta é a fase em que o individuo se deve manter até que o novo comportamento se torne ele próprio um hábito e já não haja o perigo de deixar de ocorrer. Quando isto acontece, quando o sujeito abandona ou deixa de manter o comportamento adequado, diz-se então que está em fase de retrocesso. Chegado a esta fase, o indivíduo pode ter necessidade de ajuda para voltar atrás e voltar a fazer de novo o caminho que o leva ao comportamento desejado.
Vejamos então o papel do psicólogo em todo este processo de mudança. Para além do apoio ao sujeito no seu todo, compreendendo as suas problemáticas, apoiando nas tomadas de decisão, entre outras tarefas, o psicólogo tem também que ajudar a pessoa a compreender o processo de mudança de comportamento no qual vai estar envolvida, processo este que deve ser visto como um processo em desenvolvimento no tempo. Assim, a pessoa deve ser capaz de compreender o processo básico da mudança do comportamento, incluindo os desafios ou barreiras que podem aparecer mas também o tipo de suporte de que pode necessitar para ser bem-sucedido na sua tarefa. Deve ser explorada e reforçada a sua motivação para a mudança – o querer mudar.
É também extremamente importante que o individuo se envolva activamente, que perceba porque é que essa mudança é importante para si e que o sucesso desse empreendimento será uma forma de desenvolver mais confiança em si próprio. No momento de tomar decisões o sujeito deverá considerar sempre as vantagens e desvantagens que a mudança lhe trará e coloca-las na balança de modo a que a sua tomada de decisão seja facilitada. Posteriormente, o psicólogo/a deverá ajudar o indivíduo a criar um plano de acção, que não é mais do que estabelecer objectivos realistas (específicos, mensuráveis, relevantes) e por o plano em prática para os alcançar, mantendo a motivação. Implementadas as acções de mudança, há que monitorizar o seu efeito, e em caso deste ser positivo, trabalhar na sua manutenção de modo a prevenir a recaída. O retrocesso, não sendo desejável pode ser normativo num processo de mudança. Neste caso, há que apoiar o sujeito a lidar com o imprevisto, treinar estratégias para lidar com a situação e se necessário reestabelecer objectivos e ajustá-los ao plano de acção. Cada tentativa de mudança pode servir apenas como um treino, mas no fundo, todas elas podem vir mais tarde ou mais cedo a ser bem-sucedidas.
Em suma, a expressão “quem está mal muda-se” é bastante corriqueira mas não totalmente descabida. Quando algo está realmente mal, alguma coisa tem que mudar. Muitas vezes, para funcionarmos de forma mais eficaz, temos que nos adaptar, e adaptação pode significar mudança. Para que o processo de mudança seja mais funcional e adaptativo, o psicólogo/a pode ajudar na sua explicação, dando apoio na motivação, identificando fontes de suporte social, ajudando a definir objectivos viáveis e exequíveis, ao mesmo tempo que oferece ferramentas para manter a motivação do individuo, bem como para lidar com os possíveis retrocessos e a manter a sua autoeficácia.