De volta ao tema da ansiedade e dos medos, descrevo de seguida alguns subtipos da Perturbação de Ansiedade. A diversidade é de facto considerável e muitos indivíduos apresentam critérios de diagnóstico para vários tipos de perturbação em simultâneo, ao mesmo tempo que também é frequente encontrar sujeitos com problemas de ansiedade a par com outros quadros clínicos do foro da saúde mental, como por exemplo a Depressão ou a Perturbação Obsessivo-compulsiva. Intervir é preciso!
A Perturbação de Pânico caracteriza-se pelo medo e desconforto físico intensos que se associam habitualmente à possibilidade de morte ou de perda do controlo sobre si mesmo. Em presença desta perturbação, os ataques de pânico ocorrem inesperada e recorrentemente. Correspondem a um período abrupto e intenso de medo que atinge o seu pico em poucos minutos e que pode ocorrer tanto a partir de um estado de tranquilidade como de ansiedade. Entre os sintomas podemos incluir a aceleração do ritmo cardíaco, palpitações, suores, tremores, sensação de falta de ar ou de dificuldade em respirar, dor no peito, mal-estar abdominal, sensação de tontura ou desmaio, medo de perder o controlo e medo de morrer. Para ser considerado um ataque de pânico, deverão estar presentes pelo menos 4 dos referidos sintomas.
Após a ocorrência de um primeiro episódio há uma preocupação persistente com a possibilidade de voltar a ter novos ataques, o que leva por vezes ao evitamento de certas situações, como por exemplo a prática de exercício físico. A frequência e gravidade destes ataques podem variar, podendo ocorrer de forma moderadamente frequente (ex. 1 vez por semana) por um período de meses, ou pelo contrário, ocorrerem surtos curtos de ataques diários, intercalados por semanas ou meses sem ocorrências ou com ataques menos frequentes (1 ou 2 por mês), podendo-se estender por muitos anos. O ataque de pânico por si só não é uma perturbação mental, ele pode ocorrer no contexto de qualquer outra perturbação de ansiedade ou outro tipo de perturbação como é o caso da depressão, do abuso de substâncias ou até de uma condição médica, como por exemplo doença cardíaca ou respiratória.
A Agorafobia corresponde a um medo ou ansiedade marcados acerca de situações como a utilização de transportes públicos, estar em espaços abertos (ex. mercado), estar em espaços fechados (ex. cinema), estar no meio de uma multidão ou simplesmente estar fora de casa sozinho. Como critério de diagnóstico, o individuo deverá apresentar ansiedade marcada em pelo menos em 2 destes tipos de situações. Na Agorafobia a pessoa sente um medo desmesurado de se encontrar em situações como as anteriormente descritas, evitando-as a todo o custo, devido a pensamentos disfuncionais como impossibilidade de fuga ou de ajuda em caso de necessidade ou pela convicção de que possam ocorrer situações embaraçosas e humilhantes. Habitualmente o individuo sente um medo desproporcional em relação ao perigo real. O sujeito evita ativamente as situações ou requer a presença de uma companhia, o que causa um défice significativo nas várias áreas do seu funcionamento. Nos casos de maior gravidade o sujeito pode mesmo isolar-se em casa, incapaz de sair e dependendo inteiramente de outros para o suprimento das suas necessidades básicas. Nestes casos é comum o desenvolvimento de sintomatologia depressiva e a utilização de estratégias inapropriadas para lidar com o problema como o caso do consumo excessivo de substâncias como o álcool e a automedicação.
A Perturbação de Ansiedade Generalizada refere-se à apreensão e preocupação excessiva de desadequada sobre os vários acontecimentos e situações de vida diária. Nestes casos a ansiedade e a preocupação estão associadas a sintomas como agitação, nervosismo, fadiga fácil, dificuldades de concentração, tensão muscular, irritabilidade ou perturbações do sono, devendo estar presentes 3 ou mais dos referidos sintomas, que o individuo tem dificuldade em controlar. A presença dos sintomas físicos e da preocupação/ansiedade, interfere significativamente no funcionamento social, escolar ou laboral do sujeito. Os adultos com este tipo de perturbação preocupam-se essencialmente com as circunstâncias do dia-a-dia como por exemplo saúde, finanças, trabalho, tarefas domésticas e cumprimento de horários entre outras. Nas crianças as preocupações focam-se principalmente nas suas capacidades e na qualidade do seu desempenho mas também numa preocupação excessiva com os outros. As preocupações associadas à Perturbação de Ansiedade Generalizada diferem das preocupações normativas na medida em que são desproporcionais, invasivas e perturbadoras, interferindo no quotidiano do individuo e no seu funcionamento psicossocial, enquanto as preocupações ditas normais são percebidas como resolúveis e manejáveis, sendo colocadas de lado sempre que surgem situações mais relevantes e na maioria dos casos não envolvem a presença de sintomas físicos.
A Perturbação de Ansiedade Induzida por Substância/Medicamento refere-se a um quadro clínico em que predominam os ataques de pânico. Tal como o nome indica é um tipo de perturbação que decorre do consumo de determinada substância/medicamento, desenvolvendo-se durante ou após a exposição, intoxicação ou abstinência dessa mesma substância, que se considera responsável pelo aparecimento dos sintomas de ansiedade. Em casos de reação a um medicamento, uma vez descontinuado o tratamento, os sintomas de pânico ou ansiedade reduzem ou desaparecem. São exemplos de substâncias potencialmente causadoras desta perturbação o álcool, a cafeina, a cannabis, ou a cocaína.
A Perturbação de Ansiedade Devida a outra Condição Médica tem características idênticas á situação anteriormente descrita e é evidenciada a partir da história clínica, exame físico ou resultados laboratoriais do individuo. A perturbação ocorre em consequência direta de outra condição médica, sendo que os sintomas de ansiedade causam igualmente mal-estar significativo e défice funcional. Para se poderem atribuir os sintomas a uma determinada condição médica é necessário que esta esteja identificada e que possa explicar, pelos seus mecanismos fisiológicos, os referidos sintomas, que deverão ter o seu início apenas após o aparecimento da doença. Algumas doenças endócrinas, cardiovasculares, respiratórias ou neurológicas, podem desencadear situações deste tipo. A situação de Perturbação de Ansiedade Associada a uma Condição Médica segue geralmente o curso da doença de base. Deverão ser excluídas deste diagnóstico as situações de ansiedade primária que surgem no contexto do diagnóstico de uma doença médica crónica e que podem ter a ver com a adaptação à doença.
É de referir uma vez mais a importância não só da prevenção mas também da intervenção precoce em casos de Perturbação de Ansiedade. Quanto mais cedo for feita a intervenção, que pode passar pela psicoeducação parental, por sessões grupais ou individuais de acompanhamento psicológico baseado em programas manualizados, com eficácia comprovada, melhor serão os resultados obtidos. Intervir na ansiedade pode prevenir o aparecimento de outras patologias do foro mental cuja origem pode estar relacionada precisamente com situações de medo exacerbadas e negligenciadas.
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Fonte: DSM-V – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (Quinta edição) de American Pshychiatric Association.