Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o problema da obesidade é um dos maiores desafios para a saúde pública deste século. Nos últimos vinte anos e de um modo mais ou menos global, as taxas de obesidade em crianças e adolescentes aumentaram significativamente. Dados recentes da Associação Portuguesa contra a Obesidade Infantil (APCOI) revelam que, mais de 30% das crianças e adolescentes portugueses têm excesso de peso ou são obesos.
A obesidade infantil e juvenil constitui-se como um factor de risco para o desenvolvimento de outras patologias, como por exemplo a diabetes e as doenças cardiovasculares. Também a saúde psicológica dessas crianças/adolescentes pode ser afectada pela sua vivência com o excesso de peso. A baixa autoestima e autoconfiança, a dificuldade em lidar com a sua imagem corporal e o estigma social que leva por vezes a situações de discriminação, podem conduzir ao desenvolvimento de sintomatologia depressiva ou ansiosa. Estes estados, para além de interferirem com o bem-estar da criança/adolescente, se não forem tratados, poderão agravar-se e prolongar-se pela idade adulta. O sofrimento psicológico experimentado por algumas destas crianças/adolescentes pode afectar de forma negativa o seu rendimento escolar e as suas relações sociais, levando por vezes ao isolamento, o que faz com que percam algumas experiências associadas a um saudável desenvolvimento mental. Neste contexto, o papel do psicólogo pode fazer a diferença.
À semelhança de outras problemáticas, a prevenção parece ser o mais indicado no sentido de se evitar que o problema se instale, ao invés de ter que o enfrentar e tratar. Os programas de prevenção com base na promoção de estilos de vida saudáveis, parecem ser, segundo a evidência científica, os mais eficazes, em contraponto com os programas de intervenção para a obesidade. No entanto, quando a prevenção não foi feita e o problema está já instalado, há que intervir e o mais precocemente possível, tendo em conta que a manutenção dos ganhos terapêuticos a longo prazo é um dos maiores desafios para os programas de intervenção na obesidade.
Os programas de intervenção para o tratamento da obesidade têm como objectivo ajudar as crianças/adolescentes a perderem peso, através não só da promoção de um estilo de vida mais saudável, como também da realização de psicoterapia de apoio, no sentido de se intervir em variáveis psicológicas que estejam associadas ao problema da obesidade. É muito importante que no tratamento da obesidade se opte por uma abordagem multidisciplinar. O nutricionista é fundamental na reeducação alimentar, o pediatra é também importante no despiste de patologia fisiológica que possa interferir com o processo de perda de peso e o psicólogo deve conduzir o programa, seja ele de prevenção, de intervenção ou de manutenção. Tão importante como os demais é a família da criança obesa. O envolvimento parental é fundamental no sucesso de qualquer intervenção com crianças.
A intervenção psicológica na obesidade com crianças e adolescentes inclui inicialmente uma fase de avaliação, a promoção de estilos de vida saudáveis em termos de alimentação e prática de exercício físico, o estabelecimento de objectivos realistas, a formulação de contratos comportamentais e a respectiva monitorização, quer dos seu cumprimento, quer dos resultados obtidos. É necessário também trabalhar questões relacionadas com o autocontrolo, a autonomia e a imagem corporal, ensinando e treinando estratégias que possam ajudar a controlar a ingestão desadequada de alimentos, a favorecer a imagem que a criança/adolescente tem de si mesmo, da promoção da autonomia, entre outras.
Perder peso não é tarefa fácil para as crianças/adolescentes pois implica por vezes grandes mudanças para as quais nem sempre há muita abertura. Por outro lado, em alguns casos não há a noção de que o excesso de peso seja um problema, o que vai dificultar a adesão ao tratamento. Porém, com o apoio e o envolvimento dos que são significativos, pode-se chegar a muito bons resultados. Mas, a intervenção na obesidade não se esgota quando a criança/adolescente atinge os objectivos definidos, ou seja, quando atinge o peso recomendado para a sua idade e estatura. A intervenção deve incluir um período de manutenção, de modo a que não se abandonem os novos hábitos saudáveis adquiridos, no sentido de manter a criança, no bom caminho. É ainda recomendado, que sejam feitas consultas posteriores de follow-up com o objectivo de prevenir a recaída.