O conceito de solidão tem vindo a ser estudado por diversas áreas do conhecimento cientifico e pode ser entendido sob várias perspectivas. É um conceito que envolve uma grande subjectividade uma vez que a solidão é sentida por cada um de forma particular, sendo também alvo de inúmeras definições e significados.
Se para uns estar só significa estar fisicamente só, outros descrevem a solidão como um sentimento que podem ter, mesmo rodeados de uma multidão. Se uns desejam estar sós porque gostam de estar consigo mesmos e apreciam o silencio e a quietude, outros há que não suportam a ideia de ficarem sozinhos por mais do que um par de horas. À luz da psicologia, a solidão pode caracterizar-se pela ausência afectiva do outro e pela sensação de se estar sozinho. O outro pode até estar fisicamente perto, mas não existe aproximação psicológica, por falta de comunicação e de interacção emocional. Assim, a solidão constitui-se como um sentimento angustiante e doloroso, sentido pelo sujeito sempre que há discrepância entre o tipo de relação social que deseja ter e o tipo de relação social que consegue ter.
A vulnerabilidade do idoso aos mais variados níveis, leva a que a solidão possa ser sentida de forma muito particular e com consequências de maior gravidade. Com o avançar da idade e com as consequentes limitações físicas, económicas ou outras, torna-se por vezes mais difícil o estabelecimento e a manutenção de relações interpessoais satisfatórias. Por vezes, aqueles que lhes são mais significativos estão geograficamente distantes, ou emocionalmente afastados. As exigências do dia-a-dia levam a que por vezes os mais novos tenham grande dificuldade em atender a todas as necessidades dos mais velhos, ficando muitas vezes as necessidades emocionais por suprir.
As perdas que acompanham a história de vida de um indivíduo, como a morte dos seus familiares e amigos, a perda da actividade profissional pela reforma e a consequente diminuição das relações sociais, o afastamento dos filhos muitas vezes por motivos de trabalho, as perdas de capacidades físicas e/ou cognitivas pelo agravamento de condições médicas, entre outras, podem levar a que a solidão se instale, provocando um sofrimento intenso na vida das pessoas. Embora haja muitas vezes a possibilidade de agir e seguir em frente, no caso do idoso, e devido às limitações impostas pelas perdas vividas, a sua luta para ultrapassar a solidão torna-se mais difícil. De forma circular, o sofrimento decorrente do sentimento de solidão acaba também ele muitas vezes por agravar os problemas de saúde física ou mental do idoso, com grande impacto na sua qualidade de vida e no seu quotidiano.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a qualidade de vida é definida como a percepção do indivíduo acerca da sua posição na vida, no contexto cultural e no sistema de valores em que se insere, em relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações e integra as dimensões física, psicológica, social e ambiental. A mesma organização encara hoje como um desafio, proporcionar uma melhor qualidade de vida aos idosos, o que passa por se manterem activos, no sentido da satisfação das suas necessidades. Deste modo, o conceito de envelhecimento activo assume uma importância fulcral na prevenção da solidão e do sofrimento a ela associado.
Falar de envelhecimento activo é essencialmente falar de um processo de optimização das oportunidades em três pilares fundamentais: a saúde, a participação e a segurança, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida das pessoas à medida que envelhecem. O envelhecimento activo assenta neste pressuposto e propõe orientações para enfrentar os desafios que decorrem do envelhecimento demográfico e do aumento da longevidade. Para se poder operacionalizar este conceito, ele deverá estar enraizado solidamente na nossa realidade, nomeadamente na construção de actividades de promoção da saúde e no acesso universal das pessoas de idade aos serviços de saúde ao longo da vida. Contudo, envelhecer de modo activo não se refere apenas à capacidade de estar fisicamente enérgico, refere-se também ao envolvimento social, económico, cultural e espiritual dos idosos, de forma contínua, na sociedade em que estão inseridos.
Cabe-nos a todos nós, sociedade, dar um passo no sentido de que os direitos da pessoa idosa sejam respeitados e ela possa utilizar as suas potencialidades, de forma participativa mas protegida. Um idoso participativo não se sentirá tão só. Segundo a Organização da Nações Unidas (ONU), e tendo em vista a sua independência, os idosos devem poder ter direito ao acesso ao trabalho e à educação, se assim o entenderem, bem como à habitação, cuidados de saúde e alimentação. Do ponto de vista da participação, a pessoa mais velha tem o direito de participar na comunidade e nos diversos grupos existentes e ainda de colaborar na construção das políticas para a terceira idade. No que diz respeito à sua realização pessoal, estas pessoas devem ter o direito e a oportunidade de desenvolver as suas potencialidades e utilizá-las de forma útil na família e na comunidade. Para que a sua dignidade seja respeitada, o idoso deverá ainda ser respeitado pela sua idade, género, etnia ou qualquer outra situação, bem como deverá ser protegido nas situações de negligência, abuso e maus tratos (cf. ONU, 2002).