A Perturbação de Oposição e Desafio (POD) é uma patologia com elevada prevalência em idade pediátrica e que tem consequências potencialmente comprometedoras para a criança/adolescente e para a sociedade. Caracteriza-se basicamente por um padrão recorrente e persistente de comportamentos negativos, desafiantes, desobedientes, vingativos e hostis, que se revelam particularmente perante as figuras de autoridade.
Perante um diagnóstico de POD, muitos pais ou cuidadores, já exaustos de tentarem levar a bom porto a tarefa árdua que é educar aquela criança, vêm no psicólogo o último recurso para que se dê o milagre tão desejado de a corrigir e de tornar pacifica a sua convivência nos diversos contextos em que se inclui, especialmente na família. Cabe-me desde já alertar os mais expectantes de que não existem soluções fáceis nem radicais ou milagrosas para ajudar a lidar com as dificuldades apresentadas por estas crianças/adolescentes e seus pais, cuidadores e pessoas mais próximas. No entanto, há muito que se pode fazer no sentido de melhorar as relações familiares e as relações da criança com os pares. Na base dessa melhoria relacional está a modificação do comportamento da criança, em particular o controlo dos seus impulsos. Para isso, um dos fatores de maior importância para o sucesso nesta difícil tarefa é a precocidade com que o problema é identificado e a intervenção é iniciada. Quanto mais cedo a criança for avaliada e quanto mais cedo se der inicio à intervenção terapêutica maior será a probabilidade de se obterem bons resultados.
Para além da mudança de comportamento, pretende-se que a intervenção contemple também o aumento da autoestima da criança e a confiança em si mesma, por vezes muito abalada pela crítica recorrente de que ela só faz asneiras, de que se comporta sempre mal e de que é um ser impossível. A psicoeducação parental é outro aspeto de grande relevo, uma vez que os pais precisam de conhecer melhor o problema, bem como o que podem esperar de cada fase do desenvolvimento da criança, para que melhor possam lidar com os comportamentos dos seus filhos. Em casos de POD, a família nunca pode ser deixada de parte, nem deve ela própria tentar demitir-se de responsabilidades. A intervenção contempla sempre a criança e a família. Os pais não podem esperar que o psicólogo faça o milagre de resolver o problema sozinho com a criança e escusarem-se de acompanhar de perto as sessões e de se envolverem nelas sempre que lhes seja solicitado. Á semelhança de outras problemáticas, o envolvimento parental prediz uma enorme percentagem do sucesso da intervenção. O objetivo do envolvimento dos pais na terapia é precisamente o de melhorar a qualidade da relação pais-filhos, através da estimulação das suas competências parentais, capacitando-os na tarefa de educadores sem culpabilização nem fórmulas mágicas.
A idade da criança, a gravidade das queixas, o grau de interferência com o quotidiano e a presença de outras patologias vão influenciar a intervenção terapêutica, que deverá ser sempre orientada para as reais necessidades e dificuldades da criança e dos seus familiares. A psicoterapia de apoio e acompanhamento em casos de POD é habitualmente longa, podendo estender-se por largos meses ou até anos. Em casos de crianças em idade pré-escolar, o acompanhamento é feito essencialmente com os pais, em idade escolar privilegia-se a combinação de psicoterapia individual com intervenção familiar e escolar. Na adolescência recomenda-se a intervenção individual em combinação com a intervenção parental ou familiar (e. g. irmãos).
Em casos em que estão presentes outras patologias em comorbilidade com a POD, como por exemplo a Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção, Perturbação de Ansiedade ou Depressão, o uso de medicação pode ser necessário. Para isso, a criança/adolescente deve ser também acompanhada numa consulta de pedopsiquiatria, em concomitância com o acompanhamento psicológico. As intervenções com base na intimidação, punição ou coação não são eficazes em casos de POD podendo mesmo levar ao agravamento da situação uma vez que por norma não oferecem à criança a possibilidade de aprender comportamentos alternativos aos seus comportamentos desadequados. Este tipo de abordagem mais agressivo poderá fazer com que a criança modele esse tipo de comportamentos, aumentando o seu grau de agressividade e de intensidade dos comportamentos disruptivos. As abordagens terapêuticas que evidenciam resultados mais positivos são as que incluem um plano de intervenção baseado no reforço dos comportamentos positivos, no treino de competências sociais e na resolução de problemas, pretendendo melhorar as competências da criança no que se refere à tolerância à frustração e controlo dos impulsos.
Outra forma de se lidar com o problema é a prevenção, ou seja, a intervenção sobre os fatores de risco já identificados, que aumentam a probabilidade da criança vir a desenvolver este tipo de perturbação. Fatores como a vulnerabilidade biológica (e. g. défice de competências cognitivas e emocionais) e o ambiente socioeconómico e familiar adverso ( e. g. ambiente de violência, falta de estrutura familiar, falta de supervisão parental, disciplina baseada na punição física) podem estar na origem desta perturbação e comprometer a capacidade da criança em corresponder às exigências do adulto. Programas de intervenção psicossocial, ensino e treino de estratégias de educação parental, ensino de competências sociais e treino de resolução de problemas, apresentam habitualmente bons resultados. No caso dos adolescentes, o ensino e treino de competências académicas poderá dar um grande contributo para que estes tenham uma melhor perspetiva do seu futuro e tendencialmente venham a reduzir os comportamentos desajustados.